Músico se disse chateado pela recepção que o segundo álbum, Sábado, recebeu da crítica especializada, mas encontrou forças no calor do público durante as apresentações
Pedro Antunes, de Recife Publicado em 19/10/2013, às 17h48 - Atualizado às 18h24
Em dado momento do show no festival No Ar Coquetel Molotov, neste sábado, 18, Cícero olhou espantado para o público. “Pô, vocês gostaram do Sábado também?” Pareceu ser uma surpresa genuína com o fato de que todas as músicas da apresentação, fossem elas de Canções de Apartamento (2012) ou do mais novo trabalho, recém-lançado, tenham tido uma recepção tão calorosa. “As primeiras impressões [do disco] que eu li foram muito ruins”, explicou ele, depois, à Rolling Stone Brasil.
Rodrigo Amarante e Cícero comandam primeira noite do festival No Ar Coquetel Molotov.
O papo se deu após o show, no camarim do Teatro UFPE, onde foi realizado o festival pernambucano. Depois, também, de ele atender duas dezenas de fãs – na sua maioria garotas -, que se amontoavam para se aproximar do músico carioca. Ao sair do show, Cícero foi tão perseguido como um popstar que lidera as paradas de sucesso. Questionado se isso tem sido comum em suas aparições, ele confirma. “De certa forma, sim”, diz. “As pessoas tendem a transformar este show em um momento de comemoração. Percebo que a galera está comemorando o fato de aquelas músicas existirem, mais do que analisando tecnicamente o show, sabe?”
O trabalho, lançado de forma independente, não foi tão bem aceito pela crítica especializada, segundo ele. A mesma que o abraçou quando surgiu, despretensioso, com Canções.... “Eu leio o que as pessoas escrevem sobre mim”, disse ele. O músico disse que o baque sentido pelas críticas não muito elogiosas colocou o futuro na música em dúvida. “Eu refleti sobre isso. Eu fiz algo que acreditei que era tão bonito e pessoal, e a pessoas não gostaram. Eu tinha que entender por que não fui tão bem.”
Ele analisa, hoje, após um show tão caloroso quando aquele que havia acabado de fazer, que foi a força do público que o faz – e o fez – seguir diante. “Quando todo mundo fala que o teu segundo disco é uma merda, você fica chateado”, diz. “No show, você vai ficando mais confiante. As pessoas me falam: ‘não é ruim, não acredita nisso ‘. Ou seja, repercutiu em alguém.”
O álbum tem a participação de Marcelo Camelo, Silva, Mahmundi, entre outros. Segundo a crítica publica pela Rolling Stone Brasil, “são menos de 30 minutos embalados por uma MPB moderna com leves traços de indie rock e tímidas guitarras sujas, gravados em diversas casas por onde o músico passou nos últimos meses (a mesma fórmula usada em Canções de Apartamento)” (veja a crítica completa aqui). "Ganhei três estrelas", relembrou ele, orgulhoso.
Cícero não esconde beber diretamente da fonte da sonoridade lançada e popularizada pelos Los Hermanos. Ele revela, inclusive, ter conversado com Rodrigo Amarante, que encerraria aquela noite do festival, sobre como lidar com as críticas – elogiosas ou não. “É como o médico que começa a pensar: ‘será que eu deveria ser engenheiro?’. Eu tenho essa parada, será que tenho que ser músico, mesmo, ou sou tão desafinado, tão ruim, que deveria voltar para o direito?”. Até poucos anos atrás, Cícero era um engravatado, como tantos outros advogados, mas, agora, é perseguido pelas meninas que se espremem pela janela, em busca de qualquer vislumbre dele. “Eu penso nisso, às vezes. No show, toco ‘Ela e a Lata’ e me dizem que é boa, mesmo depois de todo mundo dizer que é um merda”, diz. “Esse tipo de apoio é mais importante do que o que as pessoas pensam. Pelo menos pra mim, cara”.
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