Vídeos do álbum Blackstar mostram a visão do artista sobre a mortalidade; segundo produtor, trabalho foi uma despedida planejada
Redação Publicado em 11/01/2016, às 11h50 - Atualizado às 14h56
Divulgado quatro dias antes de sua morte, o clipe "Lazarus", de David Bowie, mostra o artista lidando com um lado sombrio. Depois da versão excêntrica do espaço retratada em "Blackstar", o diretor Johan Renck apresenta a última persona criada pelo artista, deixando diversas pistas sobre a visão de Bowie a respeito da mortalidade. A gravação do álbum coincidiu com os 18 meses em que ele lutava contra o câncer.
"A morte dele não foi diferente da vida dele – um trabalho de arte. Ele fez Blackstar para nós, seu presente de despedida", comentou o produtor e parceiro musical Tony Visconti na manhã desta segunda, 11. "Eu soube por um ano que isso [a morte do artista] seria dessa forma. Não estava, no entanto, preparado. Ele era um homem extraordinário, cheio de amor e de vida. Estará sempre conosco. Por agora, é apropriado chorar."
Nas mídias sociais, os fãs passaram a tentar decifrar os vídeos. "Ainda não posso acreditar que ele divulgou esse vídeo apenas dias antes de partir. Foi planejado. Ele sabia sobre isso. Que gênio, que perda para o mundo", escreveu Imran Nazir. "'Blackstar' é uma visão abstrata da odisseia clássica de Bowie. É ele dizendo adeus", escreveu The Leathery Man. Para a revista britânica NME, "Bowie estava tentando nos dizer que estava morrendo". Liam Dryden diz: "'Lazarus' é provavelmente o lançamento mais sombrio que qualquer artista já fez, descanse em paz, Starman."
Batizado por Renck e Bowie de Button Eyes (olhos de botão), em "Lazarus" o personagem central sai do armário para um quarto sombrio, que mais parece ser um leito de hospital. Diretor convidado em séries como Breaking Bad e The Walking Dead, Renck contou em entrevista ao site Noisey que o personagem "é um tipo de introvertido, um atormentado". Ele ainda explicou que Bowie enviou desenhos para inspirá-lo. "Me disse: quero apenas uma máscara com olhos de botão.”
No curta "Blackstar", com cerca de dez minutos de duração, Bowie mostra uma visão perturbadora do espaço, tema que o fascinava desde de sua "Space Oddity" (1969). O vídeo mostra ainda um astronauta morto, uma possível referência a Major Tom.
"Lazarus" também é o nome da peça musical em que Bowie trabalhou no ano passado, protagonizado pelo ator e cantor Michael C. Hall e escrito pelo músico ao lado do dramaturgo irlandês Enda Walsh. Trata-se de uma sequência do longa O Homem que Caiu na Terra (1976) e conta a história surreal de um extraterrestre milionário e alcoólatra, Thomas Newton. Em uma das cenas, após beber gim compulsivamente no seu apartamento decadente, ele está tão fora de si que começa a ter alucinações.
Renck disse anteriormente que é desnecessário qualquer esforço de interpretação, uma vez que o vídeo é resultado de conversas pessoais entre ele e Bowie. "David é um leitor voraz e realmente brilhante. A profundidade das referências é um abismo. Ele sabe tudo, já viu de tudo. E depois de fazer tudo o que ele tem feito por tanto tempo, ainda é grandiosamente curioso e criativo. Diz apenas: 'Vamos explorar, vamos tentar algumas coisas e ver o que acontece'."
A letra de "Lazarus", último single de Bowie, é ainda mais perturbadora. Nela, a maneira como o artista fala da morte fica agora bastante clara. Assistir ao vídeo neste momento, após a partida do cantor e a divulgação de que ele já estava doente enquanto fazia seu derradeiro disco, é uma experiência que confirma a grandiosidade deste que foi um dos artistas mais inovadores e pioneiros do mundo da música.
Leia abaixo trechos traduzidos de "Lazarus":
"Olhe para mim, estou no céu
Tenho cicatrizes que não podem ser vistas
Tenho drama, não pode ser roubado
Todo mundo me conhece agora
Olha aqui, cara, estou em perigo
E nada tenho a perder
Estou tão alto que faz o meu cérebro girar
Deixei cair meu celular
Isso não é a minha cara?
(...)
Você sabe, eu serei livre
Assim como aquele pássaro azul
Isso não é a minha cara?
Oh, eu estarei livre
Assim como aquele pássaro azul
Oh, eu estarei livre
Isso não é a minha cara?"
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