Ao longo das décadas, a percepção da sociedade sobre o planeta vermelho mudou - e isso é refletido na cultura pop
Camilla Millan I @camillamillan Publicado em 24/08/2020, às 07h00
Um planeta vermelho, árido, quente e repleto de homens verdes, com antenas e aparência peculiar… Aposto que você já ouviu essa história. A cultura pop nos apresentou a uma mitologia sobre Marte que até hoje está presente nas imaginações e fantasias sobre o planeta e os (possíveis) habitantes.
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Há muito tempo, a humanidade é fascinada por Marte - e esse deslumbramento está em contínua evolução e resgate. Não é à toa como os estudos sobre o planeta e as sondas continuam em desenvolvimento e em teste - e um exemplo é a Missão Mars.
De acordo com o UOL, o projeto de 2020 da NASA enviou o veículo Perseverance e um mini-helicóptero para analisar a superfície do planeta no dia 20 de julho. Para a alegria de cientistas e dos admiradores e fãs do planeta, a missão espacial deve chegar ao solo marciano em 18 de fevereiro de 2021.
Na vida real, a história de Marte é um pouco mais monótona do que na ficção. As pesquisas e missões recentes estão muito ultrapassadas se comparadas às histórias de marcianos invadindo a terra e exterminando a humanidade.
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Atualmente, robôs vasculham o solo do planeta em busca de algum indício de que já houve vida inteligente por lá. Enquanto isso, obras de ficção sobre o planeta exploram a imaginação e a expectativa (muitas vezes negativa) de grandes contatos entre aliens e a civilização.
Apesar das narrativas de marcianos malvados, horripilantes e arqui-inimigos dos seres humanos, a cultura pop também nos deu o prazer do questionamento. Cada história apresenta o planeta vermelho e os habitantes dele das mais diversas formas: de personagens curiosos, heróis e popstars aos vilões malvados.
Além disso, o planeta é diversas vezes retratado como a única possibilidade futura de sobrevivência dos seres-humanos, que colonizariam Marte depois da destruição da Terra.
Para compreendermos como Marte está representado no imaginário e na ficção da população, expusemos como o Planeta distante e os aliens são enxergados e interpretados pela cultura pop - tudo isso em uma linha cronológica em cada tipo de mídia.
A existência de vida fora da Terra é algo em constante discussão. No entanto, a figura do alien não é relacionada apenas ao planeta vermelho.
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Apesar de, muitas vezes, os extraterrestres serem apresentados como uma ameaça, não é sempre assim. Grandes sucessos das telonas transformaram o alienígena em um reflexo dos medos dos próprios humanos, além de uma figura amistosa com uma mensagem de paz.
Um exemplo é o famoso Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), de Steven Spielberg, que apresenta ao público o encontro bem-sucedido entre humanos e extraterrestres. A produção recebeu indicações ao Oscar, Globo de Ouro e diversos outros prêmios - uma amostra de como uma bela história de harmonia entre aliens e seres humanos também alcança popularidade.
Outro exemplo icônico de equilíbrio entre os habitantes da Terra e os alienígenas é E.T o Extraterrestre (1982). Não é coincidência a direção de Steven Spielberg nas duas produções: o cineasta sempre foi fascinado por ufologia, e por meio dos longas conseguiu mostrar ao mundo uma forma única de se pensar narrativas de ficção científica.
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E.T.: O Extraterrestre é considerado por muitos o maior filme de sci-fi já feito. Sobre um menino que faz amizade com um alienígena, o longa foi indicado a nove estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme.
A figura amistosa do alienígena, contudo, não é sempre apresentada na ficção científica - principalmente quando o assunto é, especificamente, os marcianos.
Há muito tempo, o planeta vermelho instiga astrônomos, autores e curiosos. Ao longo de séculos, obras formaram e modificaram o imaginário popular sobre Marte. Uma das principais obras já escritas foi A Guerra dos Mundos, de Herbert George Wells.
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A história sobre marcianos inteligentes invadindo a terra e carbonizando os habitantes do planeta fez sucesso - e um adaptação realizada em 1938 mostrou o quanto, de fato, a ficção científica gera medo na população.
No dia 30 de outubro de 1930, foi transmitida na rádio CBS uma suposta invasão alienígena. Como explicou o Observatório da Imprensa, tratava-se de um programa semanal no qual a obra A Guerra dos Mundos era dramatizada em forma de programa jornalístico pelo jovem Orson Wells. Apesar de a introdução do programa explicar a natureza fictícia da história, muitas pessoas sintonizaram mais tarde - e o pânico se instaurou.
Impactadas pelo realismo, milhares de pessoas acreditaram que a invasão estava, de fato, sendo transmitida na rádio. Por isso, houve aglomeração nas ruas, congestionamento e caos. Cerca de três cidades foram paralisadas pelo tumulto. O Diário de Notícias falou sobre a confusão: “A emissão radiofônica mostrou-se capaz de relançar medos viscerais dos seres humanos, a ponto de se transformar num fenômeno global de inquietação, pânico... e, diríamos agora, agitação mediática”.
Percebe-se, assim, a transformação de Marte, no imaginário popular, em uma forma simbólica dos próprios humanos questionarem as atitudes e expressarem medo diante de algo desconhecido - mas também o pavor relacionado aos avanços tecnológicos que estavam batendo à porta.
A figura dos marcianos foi explorada por inúmeros desenhos animados infantis entre a década de 1940 e 1960. Um exemplo é o vilão Marvin, o Marciano, dos Looney Tunes. O personagem é um dos mais quietos e usa uma armadura que remete ao deus romano da guerra Marte. Na animação, Marvin tentou destruir a Terra diversas vezes com o dispositivo “Illudium Q-36 Explosive Espaço modulador", contudo, Pernalonga frustrou constantemente os planos do antagonista.
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Pica-Pau também tem diversas referências ao planeta vermelho e à figura do disco voador e extraterrestres em capítulos como “Um Pica Pau de Marte", “Viagem a Marte" e “Cupins de Marte". O último faz uma sátira aos marcianos durante à Terra - todos na forma de cupins verdes com antenas e espaçonaves.
No mundo das HQs, foi na década de 1950 que John Jones (Caçador de Marte), super-herói da DC, foi introduzido ao enredo da história "The Strange Experiment of Dr. Erdel" em Detective Comics #225. No entanto, o personagem não era um vilão.
O marciano - também verde - tem habilidades incríveis, como invisibilidade, telepatia, transformismo, super força, velocidade e inteligência. Pelo desejo de lutar contra o crime em Gotham City, John Jones foi um dos fundadores da famosa Liga da Justiça.
Outra HQ que se conecta com o planeta vermelho é Watchmen, publicada pela DC Comics entre 1986 e 1987. A história conta com Doutor Manhattan, alter ego de Jonathan Osterman. Ele foi trancado acidentalmente em uma câmara de testes durante um experimento nuclear e foi desintegrado - mas o acidente deu a ele diversos poderes.
Manhattan tem habilidades como reconstrução molecular, projeção de campos de força, teletransporte, ver diferentes períodos no tempo e outras. No entanto, segundo o site Legião dos Heróis, ele vive uma grande crise existencial e passa um tempo refletindo em Marte. No local ele compreende melhor os poderes dele.
A HQ Watchmen fez tanto sucesso que foi adaptada para os cinemas e, mais recentemente, para uma série da HBO. Inclusive, a produção recebeu 26 indicações para o Emmy de 2020, sendo uma das favoritas como grande vencedora da premiação.
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Nas produções cinematográficas, há diversas obras icônicas que apresentam todas as facetas da imaginação humana sobre Marte.
Ao longo das décadas, como indicou o Diário de Notícias, o planeta vermelho foi representado das mais diversas formas. Invasores de Marte, de 1953, mostra os alienígenas com planos de sabotar a construção de um foguete nuclear. O diretor William Cameron Menzies fez a história ser narrada a partir da perspectiva de uma criança - uma inovação para a época. No entanto, o baixo orçamento prejudicou a aparência dos marcianos.
Na década de 1960, auge da corrida espacial entre União Soviética e Estados Unidos, houve um aumento das produções de ficção científica que envolviam o espaço e alienígenas
Um dos mais icônicos longas certamente foi 2001: Uma Odisseia no Espaço. Apesar de não representar a vida fora da terra como alienígenas humanoides - muito menos como figuras amigáveis - o diretor Stanley Kubrick optou por “sugerir uma superinteligência extraterrestre”.
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Em entrevista à Playboy, o cineasta disse que os alienígenas teriam evoluído de seres biológicos para "entidades máquinas imortais", e depois para "seres de pura energia e espírito com capacidades ilimitadas e inteligência indomável".
Quando se trata do planeta vermelho, a década de 1960 também trouxe contribuições cinematográficas para o imaginário popular. Em 1964, Robinson Crusoe em Marte foi lançado como uma história sobre astronautas cuja missão no planeta dá errado, necessitando acharem meios para sobreviver e fugir de uma raça de alienígenas. O filme é baseado no livro de Daniel Defoe chamado Robinson Crusoe.
O cinema trash, feito com baixo orçamento e qualidade inferior, também retratou o planeta vermelho. Papai Noel Conquista os Marcianos, de 1964, é um clássico exemplo. Considerado um dos piores filmes já feitos sobre o Natal, o longa bizarro segue a jornada de extraterrestres após os mesmos capturarem o Papai Noel para levá-lo à Marte com o objetivo de fabricar brinquedos.
Pulando para a década de 1990, O Vingador do Futuro, estrelado por Arnold Schwarzenegger, trouxe às telonas um trabalhador que se vê envolvido em um esquema de espionagem em Marte. Além disso, o protagonista fica confuso em determinar se os acontecimentos são reais ou consequência de implantes de memória.
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O filme mostra uma tecnologia muito avançada, com os seres humanos colonizando, usando robôs, implantes e utilizando hologramas. Indicado a diversos prêmios, o longa ganhou destaque pelos efeitos visuais, inclusive recebendo a estatueta de Melhores Efeitos Visuais do Oscar.
Outra produção que merece destaque é Marte Ataca! (1996). Dirigido por Tim Burton, o filme une comédia e ficção científica, fazendo uso do ridículo para criticar a própria sociedade norte-americana.
Em cada personagem, Burton brincou com os estereótipos de Hollywood e dos Estados Unidos. No filme, os marcianos dizem que estão em missão de paz, mas quando um hippie joga uma pomba branca no céu, os extraterrestres matam a ave e, assim começa a aventura repleta de alienígenas de aparência verde e grotesca.
O longa foi feito com baixo orçamento e intencionalmente tosco, mas tinha grandes nomes de Hollywood no elenco, como Jack Nicholson, Glenn Close, Pierce Brosnan, Danny DeVito, Natalie Portman e Jack Black. Como indica a descrição do site AdoroCinema, “os marcianos invadem nosso planeta, matando e destruindo tudo no caminho, pois acham bem divertido e querem transformar a Terra em um ‘parque de diversões’".
Com o avanço das tecnologias e estudos sobre Marte, a perspectiva dos filmes de ficção científica mudou. No cinema, o planeta vermelho ainda é uma incógnita em relação aos habitantes e ambiente, mas os humanos não são mais inocentes que deixam a Terra ser invadida pelos aliens.
Agora, os terráqueos também participam de uma odisseia na qual, na tentativa de chegar até o planeta vermelho, os planos dão errado e os personagens precisam encontrar meios de sobreviver. Um exemplo é Missão: Marte, de 2000. O filme foi dirigido por Brian De Palma e acompanha a “primeira missão” ao planeta - que dá errado quando alguns tripulantes são aparentemente mortos enquanto outro fica preso e incomunicável.
Em Planeta Vermelho, também de 2000, os humanos percebem a destruição que causam ao Planeta Terra e buscam colonizar Marte como única forma de sobrevivência.
Outro filme que apresenta os avanços da tecnologia e as mudanças de percepção sobre o planeta vermelho é Perdido em Marte. Dirigido por Ridley Scott e estrelado por Matt Damon, o longa conta a história de um astronauta enviado para o planeta em missão. Após uma tempestade, acreditam que ele está morto e o abandonam. Assim, ele precisa se virar para sobreviver e voltar à Terra.
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Perdido em Marte recebeu muitas críticas positivas e diversas indicações ao Oscar e Globo de Ouro - e representa uma era cinematográfica com efeitos visuais avançados e novas perspectivas sobre Marte.
Na cultura pop, o planeta vermelho não aparece apenas em séries, HQs e filmes, mas também na música. Por isso, é impossível falar de Marte e não citar David Bowie, artista britânico revolucionário e considerado um dos músicos mais influentes até a atualidade.
Além de trazer nas letras das canções o fascínio pelo espaço, o cantor lendário tinha diversos alter egos, e um deles tinha uma conexão direta com o planeta vermelho. Ziggy Stardust é a personalidade do artista que surgiu com o disco The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972).
Segundo o cantor, Stardust seria uma personagem andrógina que não sabe se é da Terra ou de Marte. Uma espécie de mensageiro de extraterrestres, o alter ego encontrou o rock - e foi um dos personagens responsáveis pela percepção das diversas facetas e habilidades de Bowie.
Além disso, pouco antes de mergulhar completamente na figura do alienígena Ziggy Stardust, o britânico lançou o single “Life on Mars?”, do álbum Hunky Dory (1971), até hoje uma das canções mais celebradas da discografia do artista - e um exemplo da admiração do artista sobre o espaço.
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Certamente um artista de outro mundo, David Bowie pode levar o título de grande marciano da cultura pop.
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