Juliano Alvarenga e Pedro Calais falam sobre parcerias, amizades e até sobre Oasis num tête-à-tête descontraído
Yolanda Reis | @_ysreis e Camilla Millan | @camillamillan Publicado em 26/02/2021, às 13h27
Mais um par de talentos vindo direto de Belo Horizonte: Lagum e Daparte. As bandas lançaram nesta sexta, 26, o clipe "Nunca Fui Desse Lugar," primeiro single do novo disco da Daparte. Com um feat destinado a dar certo, a faixa une a sonoridade de ambos e o clipe conversa com o estilo comum: um pouco de MPB, um toque de rock e um "quê" de melancolia.
"Nunca Fui Desse Lugar" é uma faixa calma e reflexiva. O som é marcado pelo violão de Pedro Calais, da Lagum, e pelo vocal de Juliano Alvarenga, da Daparte. O timbre dos dois são alinhados, similares e tornam a música harmoniosa.
Mas, o maior destaque vai para o clipe. Nele, Alvarenga aparece com cabelos compridos, bigodes e óculos no melhor estilo "golden days" de Ringo. Uma aparência setentista ditando o tom das imagens, com tons mais terrosos e um visual puxado para o clássico (mas com toque de moderno). A direção de Túlio Cipó é gostosa de assistir e os cortes ritmados são harmoniosos.
"Nunca Fui Desse Lugar" é um flerte antigo de Daparte e Lagum. A composição de Julio Anfer, amigo em comum das duas bandas, batia no ensaio dos dois grupos para a alegria de Juliano e Pedro (ambos gostavam bem da música). Aí, resolveram gravá-la.
Para a Rolling Stone Brasil, Alvarenga e Calais - em nome da Daparte e Lagum - se entrevistaram. Confira a introspecção mineira dos artistas:
Juliano Alvarenga: O que você mais gosta de fazer em noites sem shows, quando está tranquilo para dar qualquer 'rolé'?
Pedro Calais: Gosto de me reunir com a galera mais próxima, com quem tenho mais intimidade, com quem posso beber bastante, passar vexame com quem vai me acolher em qualquer momento de bebedeira. Não gosto muito de balada. Gosto mesmo da galera conhecida e que conheço pra caramba.
JA: Qual cidade você acha melhor para morar, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro?
PC: Essa experiência no Rio é muito boa; aprender a surfar, a conhecer novos lugares. Mas Belo Horizonte tem uma coisa muito mais acolhedora. Não tenho a esperteza dos cariocas, meu negócio é Minas Gerais, na montanha.
JA: Você se encaixa em alguma frase, em algum momento da letra de “Nunca Fui Desse Lugar”? Queria saber se você se identifica com a letra, se enxerga nela de alguma forma.
PC: Essa letra é muito esperta, porque não conta uma história linear. Não é palavra por palavra para montar alguma coisa. Ela é várias palavras. Sabe quando não tem nada específico? Quando você consegue colocar qualquer realidade naquelas palavras? Tem uma energia acolhedora, introspectiva.
Para mim, [a letra] faz todo o sentido, porque monto minha própria história com o que está falado, independente do momento da minha vida. Se eu estiver feliz porque consegui algo no trabalho, a música vai me fazer bem. Se estiver triste porque estou mal no relacionamento, também vai se encaixar. Essa música é camaleão, e com certeza me identifico com ela 100% em todas as partes, independente da frase.
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Pedro Calais: Se eu fosse o vocalista da Daparte e você o vocalista da Lagum, a Daparte daria certo? E a Lagum daria certo?
Juliano Alvarenga: Se eu fosse do Lagum e o Pedro do Daparte, a parada desandaria porque o Pedro não aguentaria o clima da banda. Gritaria sem fim, é muita falação sobre futebol e Beatles. Sei que ele não gosta tanto dessas duas coisas. Pediria para sair na primeira viagem.
Se começasse na Daparte, logo sacaria esses movimentos. O Crase, nosso baterista, é um cara que grita muito; para estar na Daparte, precisa da onda Daparte. Agora, eu na Lagum, não sei. De repente, poderia me acertar com os meninos, são todos muito tranquilos, calmos, parecem fáceis de lidar.
Mas o ser humano é um bicho difícil de lidar, né? Mas não daria certo porque no palco o Lagum algo muito característico, a de presença de palco - andar pro lado, bater a cabeça, andar pro outro. No palco, sou um cara mais comedido porque tô com guitarra, não consigo andar tanto, me mexer tanto. Mas quero mostrar esse lado mais Calais, também. Quando acabar a pandemia, testerei isso. Mas a banda não daria certo porque ainda tô mais na guitarrinha.
PC: Você prefere cantar e compor ou ser um músico da banda? Se precisasse escolher só um entre ser cantor e compositor ou ser instrumentista, arranjador, participar ali da produção, qual escolheria?
JA: Gosto mais de compor e cantar do que ser um arranjador e tocar instrumentos. Quando componho, coloco muita coisa necessária para fora. O que seria minha vida sem compor, ou sem cantar também?
PC: Se o Oasis voltasse sem o Liam [Gallagher] e você fosse convidado a ser o novo vocalista do Oasis, deixaria a Daparte?
JA: Essa aí você me matou porque é um sonho. Imagina se me chamassem para ir para o Oasis, tocando nos estádios, numa turnê de abertura, a volta do Oasis e eu lá fazendo o papel do Liam, seria incrível. Mas gosto do desafio de tocar na Daparte, de compor minhas próprias músicas com o João, meu parceiro, e esse desafio de conquistar o Brasil, de querer o mundo é muito tentador para mim. Fico muito a fim de fazer acontecer. Não largaria a Daparte e não iria para o Oasis.
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