O DGTL é um evento holandês que chega ao Brasil no próximo dia 6; "Esses festivais dão credibilidade. Está todo mundo olhando para a gente", diz Laura Diaz, do Teto, dono do hit "Gasolina"
Anna Mota Publicado em 30/04/2017, às 10h39
Os festivais internacionais estão chegando com tudo para fortalecer a cena eletrônica de São Paulo. Após a estreia do Dekmantel, em fevereiro, é a hora dos paulistas experimentarem o DGTL. O evento holandês, que desembarca no país semana que vem, já teve quatro edições em Amsterdã e duas em Barcelona.
Quem estiver em Barueri no próximo sábado, 6, ficará diante de um line-up que mistura grandes nomes estrangeiros – como Apparat, Carl Graig e Derrick May – e nacionais da cena. Entre os brasileiros está o Teto Preto, grupo de música eletrônica experimental que reúne artistas de diferentes backgrounds para performances de livre improvisação.
No Brasil, o eletrônico sempre foi um gênero que se misturou pouco com outros ritmos tipicamente nacionais, como o samba e a MPB. Mas o grupo, formado por L_cio (drummachines), Zopelar (synths), Carneosso (voz/composição) e Bica (percussão e trombone), quer reinventar essa relação, levando percussão e o vocais para a cena techno e eletrônica.
“O vocal é um tabu na pista, principalmente na de techno. E essa era uma vontade, uma sina que eu tinha, de conseguir colocar o conteúdo em termos de linguagem ali”, explica Laura Diaz, vocalista do Teto Preto, dentro do qual é conhecida como Carneosso. Ela também é cocriadora – em conjunto com Carolina Schutzer, a Cashu – da Mamba Negra, festa eletrônica que, em 27 de maio, completa quatro anos de atuação no centro de São Paulo.
Dando seguimento aos projetos da Mamba, Carolina e Laura lançaram, em 2016, a MambaRec, gravadora que visa dar vazão às experimentações ensaiadas nas noites da cidade, tendo como ideário a expansão dessa experiência coletiva para além do espaço da festa.
O EP Gasolina, do Teto Preto, foi o primeiro lançamento do selo. Laura explica que a escolha se sucedeu pelo grupo ter nascido na festa e ser hoje sua atração residente. “O Teto começou em uma das edições da Mamba, às 5h da manhã, quando eu perguntei pro L_cio o que ele achava de eu chamar uns amigos e fazer umas improvisações ao vivo no set dele”.
A Mamba é uma das festas que compõem a cena eletrônica alternativa atual de São Paulo, que ocupa as ruas da cidade e que se assemelha ao movimento que aconteceu em Londres, Berlim e Barcelona há alguns anos. Laura acredita que esse movimento, formado também por eventos como a Capslock e a ODD, é a razão dos grandes festivais estarem com os olhares voltados para a capital. “As coisas estão ganhando essa proporção porque criou-se uma algo que extrapola as casas tradicionais”, opina.
No ponto de vista de Laura, os festivais darão força à cena. “Eles dão credibilidade. Está todo mundo olhando para a gente”, diz. Para o Teto Preto, os eventos serão importantes como aprendizado. “Isso traz uma maturidade para o grupo, porque hoje o que produzimos ainda está muito conectado à essa cena do underground”, explica.
A música título do EP de estreia da banda, “Gasolina” – lançada junto a “Já Deu Pra Sentir” – ecoou pelas pistas brasileiras e ganhou uma versão do cantor Thiago Pethit. Quando questionada sobre sua opinião a respeito da identificação do público com a faixa, Laura diz que “ela é ao mesmo tempo um símbolo e uma provocação”. O trabalho é resultado de uma colagem da artista, feita a partir de um texto do cineasta Glauber Rocha. O clipe, protagonizado pelo dançarino contemporâneo Loic Koutana, mostra cenas do performer pelas ruas de São Paulo, em clima de afronta e libertação. “O que o Loic representa nesse clipe foi imprescindível para a construção de 'Gasolina', e é por isso que a gente diz que é uma produção audiovisual. Não adianta falar que é só música. É música, linguagem, vídeo, rua”, diz.
Veja abaixo o clipe de “Gasolina”.
DGTL São Paulo
sábado, 6 de maio
Rua Jussara, 1.273, Barueri
Entre R$120 e R$240, no site do festival
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