A junção de um diretor estreante, Benh Zeitlin, a atores inexperientes resultou em poesia
Paulo Gadioli, do Rio de Janeiro Publicado em 05/10/2012, às 17h00 - Atualizado às 18h56
Por mais que o título Indomável Sonhadora deixe o filme com cara de novela mexicana, não se engane. A estreia de Benh Zeitlin é poderosa, principalmente por conta de sua dupla de protagonistas. Os inexperientes atores se uniram a um diretor estreante para realizar uma fábula de rara poesia, algo que uma equipe calejada pela dura indústria norte-americana provavelmente não teria sucesso em fazer.
Na trama, a jovem Hushpuppy (foto) vive com o pai em um local inóspito no interior da Louisiana, conhecido como A Banheira. Eles criam fortes vínculos com a comunidade e a pequena é forçada a encarar grandes desafios, tendo que lidar com seu pai doente e, como se não fosse o suficiente, com aqueles que querem remover todos os moradores do local, considerado uma área de risco.
A relação entre pai e filha é tocante. Wink, personagem de Dwight Henry, sempre se refere à filha como “garoto”, e Hushpuppy parece não se incomodar, contanto que tenha a atenção daquele homem que ela tanto admira, mesmo quando ele se torna violento e parece querer abandoná-la. Ela não aceita a condição e luta até o fim.
O filme todo é apresentado do ponto de vista da garota. Enquadramentos, trilha sonora e até mesmo a movimentação de câmera, muito tremida, tentam reconstruir a forma como a menina enxerga o mundo. Assim, o longa alia uma estética documental, buscando a autenticidade, a metáforas certeiras, como a que dá título à obra: Beasts of The Southern Wild.
Ao falar sobre as bestas do selvagem sul, o filme faz referencia aos auroques, raça existente desde a pré-história e que, como Hushpuppy, foi forçada a enfrentar inimigos bem maiores do que ela. Como os homens das cavernas, a garota tenta registrar os acontecimentos de sua vida, um último retrato daquela civilização prestes a ser esquecida e, em um dos momentos mais sublimes, é forçada a encarar estes antepassados, no decisivo instante em que a pessoa decide aceitar ou abandonar o desafio a ela imposto.
A metáfora escolhida pelo diretor ajuda a universalizar a causa daquelas pessoas que raramente seriam notadas fora de seu país. Afinal, é um tema mais presente do que gostaríamos. Basta pensar nos incêndios em favelas, desocupações violentas. Talvez os problemas da Banheira não sejam tão únicos assim.
Indomável Sonhadora está em exibição no Festival do Rio. Veja os horários:
Sexta - 05/10/2012 - Est Vivo Gávea 5 - 19h40
Terça - 09/10/2012 - Kinoplex Leblon 4 - 16h30
Terça - 09/10/2012 - Kinoplex Leblon 4 - 21h30
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