Apresentação contou com os hits "Hoje Cedo" e "Zica Vai Lá"
Luciana Rabassallo Publicado em 08/07/2015, às 02h58 - Atualizado em 28/07/2015, às 16h38
Graças a Black Messiah, de D’Angelo, e a To Pimp a Butterfly, de Kendrick Lamar, 2015 será lembrado como o ano em que a política negra e a música negra ressurgiram para se unir ao pop mainstream. No Brasil, o rapper Emicida tem levado temas delicados – e, geralmente, silenciados – como o racismo, a intolerâncias religiosa e a luta de classes aos holofotes. Recentemente, o músico lançou o clipe que ilustra a canção "Boa Esperança" e despertou debates nas redes sociais.
Dirigido por João Wainer (Junho) e Kátia Lund (Cidade de Deus), o vídeo narra uma rebelião de empregados domésticos em uma mansão de São Paulo. Enquanto manda rimas como "favela ainda é senzala, bomba relógio prestes a estourar", Emicida expõe de forma desconcertante o preconceito racial e social típico do Brasil. A trama de "Boa Esperança" aborda diversos tipos de violência, entre eles o abuso sexual sofrido pelas empregadas domésticas e a intolerância por conta de tranças e penteados afros.
Emicida expõe a luta de classes e o preconceito racial no impactante clipe de “Boa Esperança”.
No olho do furacão e com o discurso mais político de toda a carreira, Emicida subiu ao palco da Audio Club, na noite desta terça-feira, 7, para fazer o show de encerramento do Festival Rock Works, organizado pela West Coast em parceria com a Rolling Stone Brasil. Antes do rapper, os brasilienses do Scalene, os goianos do Boogarins e os potiguares Far From Alaska mostraram as diversas sonoridades produzidas em todo o Brasil por uma nova geração mais do que talentosa.
Rock Works 2015: imerso em improvisos e jams, Boogarins promove viagem lisérgica no festival.
Após dois anos nas estrada com a turnê de O Glorioso Retorno De Quem Nunca Esteve Aqui (2013), eleito pela Rolling Stone como o melhor registro de estúdio daquele ano, o show de Emicida foi pautado em canções que retratam a carreira dele aqui. "Bang", que reflete sobre os rumos que o rap está tomando no país, foi a escolhida para abrir a noite. Na sequência vieram "Rinha (Já ouviu Falar?)", de Emicídio, canção que faz uma ode aos celeiros que formaram grandes os nomes responsáveis pela reformulação do hip-hop nacional, e "Triunfo", single que deu projeção nacional ao rapper em 2009. "Boa noite, São Paulo, obrigado pela presença de todos vocês nesse dia chuvoso", disse o artista no primeiro contato com os fãs.
Rock Works 2015: Far From Alaska pega pesado e conquista o público.
O show foi permeado por camadas distintas. No começo, as críticas sociais estavam mais latentes, representadas por faixas mais simples e diretas. A impactante "Levanta e Anda", que narra a infância complicada do músico e os desafios do jovem na periferia, foi recebida com empolgação pela plateia. Em seguida, a faceta dramática de Emicida ganhou destaque. Versos como “A sociedade vende Jesus/ por que não ia vender rap” (de “Hoje Cedo”) deram lugar a frases como “Eu gosto tanto dela a ponto de querer tá perto, pronto” ("Eu Gosto Dela"), criando um novo momento na apresentação.
"Nós vivemos na era da informação. A internet está aí para facilitar o contato das pessoas com o conhecimento. O que tem acontecido, porém, é exatamente o contrário disso. Quem dá as cartas e a burrice e a desinformação. Vocês já viram o meu clipe novo? É da música 'Boa Esperança'. Parece que alguns querem mesmo viver na alienação. Mas quer saber? Nós já surfamos muitas ondas de ódio e não será essa que vai nos derrubar. Vamos seguir com a cabeça erguida", afirmou.
Rock Works 2015: Scalene experimenta idolatria com show enérgico no festival.
Ainda houve espaço para "I Love Quebrada", faixa que inspirou o título da novela da Rede Globo, I Love Paraisópolis - protagonizada por Bruna Marquezine –, e para o hit "Zica Vai Lá", cantado em uníssono pelo empolgado público. Houve espaço também para uma cover de "Trem das Onze", famosa canção de Adoniran Barbosa, que foi popularizada pelo grupo Demônios da Garoa. O clima de festa tomou conta do recinto quando Emicida bradou “Independente da sua fé/ Música é nossa religião”, refrão de "Ubuntu Fristaili", faixa com a qual ele se despediu do palco.
Sobre o Festival Rock Works
Há 50 anos, Bob Dylan chocou os puristas do folk com sua primeira apresentação “elétrica”, no festival Newport Folk. Poucos anos depois, Jimi Hendrix tocou, para cerca de 320 mil pessoas, o hino dos Estados Unidos no festival Woodstock. No primeiro Rock in Rio, 30 anos atrás, o Paralamas do Sucesso se apropriou do hit do Ultraje a Rigor “Inútil” para protestar em defesa das eleições diretas.
No clima de confraternização sonora, a Rolling Stone Brasil anunciou a realização do Festival Rock Works, apresentado pela West Coast. Representando o rap e diversas facetas do rock nacional, a primeira edição do evento teve como atrações Emicida, Scalene, Boogarins, Far From Alaska e DJ Vito.
Assim como nos grandes momentos dos festivais ao redor do mundo, o primeiro Rock Works demonstrou compromisso com o presente, reunindo o que há de mais representativo na música brasileira contemporânea, do melhor álbum de 2013, de Emicida, ao grupo em maior ascensão no rock brasileiro atual, o Scalene.
O Rock Works também é um retrato vasto do Brasil como um todo, com atrações de quatro lugares diferentes do país. Enquanto o Boogarins traz a psicodelia de Goiânia, o Far From Alaska representa as guitarras da cidade de Natal, no Rio de Grande do Norte. Enquanto o Scalene é o mais novo representante da prolífica cena brasiliense, Emicida cantou as desventuras da rua paulistana.
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