Filme estreia nesta sexta-feira, 12, e reconta a história do famoso herói das histórias em quadrinhos
Pedro Antunes Publicado em 12/07/2013, às 09h23 - Atualizado às 09h33
Quando Christopher Nolan e David S. Goyer começaram a escrever o texto que seria usado como base pelo segundo para o roteiro do novo reboot da história cinematográfica de Superman, eles se viram diante da ingrata missão de encontrar humanidade no herói nascido em Krypton. E como fazê-lo de forma convincente, mesmo que ele esteja usando um uniforme azul colado ao corpo, uma enorme letra “s” estampada no peito e uma capa vermelha e esvoaçante?
É este o grande trunfo de O Homem de Aço, centrado em criar um herói completamente oposto ao frio e gélido personagem que quase arruinou a franquia para sempre em 2006, com Superman – O Retorno. Um sujeito com poderes comparados aos de um deus entre os homens não precisa ser alheio aos sentimentos – sejam eles humanos ou kryptonianos – e pode ter um caráter construído com valores comuns e básicos como amor, amizade e compaixão.
O Superman interpretado por um vacilante Henry Cavill, que é melhor em desferir socos e pontapés do que grandes diálogos, não é alheio ao que acontece na Terra. Ele emula o eterno Christopher Reeve ao expressar momentos de humor e rompantes de raiva e vingança. Sim, o herói pode ser tão humano quanto qualquer um de nós.
A perfeição sempre foi um grande problema para o herói contemporâneo. E o Superman, desde a sua criação, no fim dos anos 30, sempre foi o mais perfeito de todos: habilidade de voar, superforça, resistência de aço, raios laser disparados dos olhos, sopro congelante. Justamente por isso, Zack Snyder (300 e Watchmen) assumiu um grande risco ao aceitar o trabalho de dirigir o reboot.
No cinema de super-heróis atual, a humanidade dos personagens determina o grande sucesso dos cinemas. Já não adianta destruir alguns prédios e exibir uniformes coloridos nas telonas, é preciso construir um personagem capaz de se comunicar com o lado mundo real, algo que seja no mínimo crível.
E é justamente nesta humanidade que Nolan e Goyer são especialistas – vide o belo resultado obtido pela dupla na trilogia de O Cavaleiro das Trevas, que deu um novo vigor ao sombrio Batman, dirigido pelo primeiro e roteirizado pelo segundo.
Recai sobre o trio – Nolan, Goyer e Snyder – a responsabilidade por acertos e erros. O produtor, o roteirista e o diretor, respectivamente, trouxeram qualidades e exageros para o filme. Nolan e Goyer são nomes certos para criar cenários em que um sujeito uniformizado não parece tão cômico (ou trágico) como se pode supor. Mas também têm a mania de explicar tintim por tintim o que se passa – o motivo pelo qual Superman carrega um “s” estampado no peito, por exemplo, é repetido quase uma dezena de vezes.
A dedicação em deixar tudo bem justificado não é de todo ruim e transforma a ideia de O Homem de Aço bastante compreensível até para leigos do mundo dos quadrinhos. Mas é também o calcanhar de Aquiles da produção, já que para justificar a destruição de Krypton e a fuga do bebê Kal-El, que na Terra se torna Clark Kent e Superman, ainda bebê, leva quase 30 minutos de longas cenas de destruição e fuga do pai biológico do herói, Jor-El, interpretado aqui por Russell Crowe.
Jor-El e o pai adotivo de Clark, Jonathan Kent (Kevin Costner) são os grande pilares morais que ajudam a construir este novo Superman. O personagem de Cavill se vê diante da seguinte questão: escolher os sonhos esperançosos de um mundo melhor de Jor-El, revelando-se como alienígena; ou decidir esconder-se porque, segundo o pai adotivo, o mundo não está preparado para conhecer o quão poderoso ele pode ser.
O estopim de toda a mudança do pacato Clark, que passa a vida às margens da sociedade, perambulando pelos Estados Unidos em uma busca de um significado e sentido para a vida dele, é General Zod (Michael Shannon). O vilão e os comparsas também são de Krypton – logo, possuem os mesmos poderes de Superman -, que escaparam da destruição do planeta por conta da prisão espacial na qual eles foram levados após uma tentativa de golpe militar.
Zod quer vingança pela prisão e Kal-El é herdeiro do homem que o derrotou, Jor-El. Mas ele não é um vilão monocromático. A trama construída para o personagem também o colocam como um homem obrigado a seguir o destino que lhe foi imposto desde antes do seu nascimento: manter o povo de Krypton a salvo – mesmo que isso signifique sacrificar a Terra e recriar o planeta natal dele e do herói.
Neste embate delicioso entre dois antagonistas, Zack Snyder se deleita. A fictícia Metrópolis é mais arruinada do que Nova York durante a gigantesca batalha final de Os Vingadores. Tudo é grandioso e plástico na visão do diretor, mas dará uma dor de cabeça no momento em que a sequência – já confirmada – começar a ser planejada. Depois de tudo isso, o que mais pode ser surpreendente e grande o bastante?
O Homem de Aço, contudo, recria a história de Superman da forma mais natural e real possível – mais até do que muita gente acharia ser cabível. A ação protagonizada pelo herói demora a acontecer, mas é justificada para dar embasamento a todos os conflitos (internos e externos) que pipocam na trama. A vagareza é compensada por destruição em massa. Mas, ainda assim, quase duas horas depois do início do longa, ver o sujeito de roupa azul e capa vermelha deixa de ser estapafúrdio e se torna real. Missão cumprida.
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