"Meu casamento chegou ao fim, tive problemas com álcool. Foi difícil passar por isso", diz a inglesa que faz show gratuito em São Paulo neste domingo, no Festival Cultura Inglesa
Pedro Antunes Publicado em 04/06/2019, às 09h18
Quando surgiu com o hit "Smile", Lily Allen era mais do que filha de Keith Allen, um ator e comediante galês com boas conexões no mercado do entretenimento. O ano era 2006 e o mundo estava prestes a ser tragado pelo furacão musical Amy Winehouse e seu segundo disco, Back to Black. Mas aquele 2006 foi de "Rehab", hino de Amy, mas também a voz de Lily também se ouviu com aquela canção agridoce de pós-relacionamento no qual, depois de sofrer a dor da separação, ela sorria de novo.
"Naquela época, eu tinha 21 anos, não tinha filhos. Não me importava com coisa alguma", ela diz, ao telefone, à Rolling Stone Brasil. Aos 34 anos, e dois filhos, ela conversa de Londres, onde mora, sobre a volta ao Brasil, dez anos depois da última apresentação por aqui, quando se apresentou em São Paulo e no Rio de Janeiro.
A nova passagem pelo País será mais breve dessa vez. A artista britânica se apresentará somente em São Paulo, como a principal atração do Festival Cultura Inglesa, no domingo, 9 de junho. O show terá entrada gratuita o primeiro lote se esgotou em duas horas. No dia 5, um novo lote de 3 mil ingressos estará disponível no site do evento (para acessar, clique aqui).
Quem também toca nessa data é a preciosa Duda Beat, com repertório do álbum Sinto Muito, eleito um dos melhores do ano pela Rolling Stone Brasil (veja a lista completa aqui).
Dez anos separam um show e outro. Nesse tempo, Lily Allen conheceu o céu e o inferno, viveu o auge, pessoal e profissional, também deu de queixo no fundo do poço. "A minha vida, a vida de todos, muda em dez anos. Dez anos atrás eu era uma pessoa diferente", ela avalia,
E segue: "Eu tinha diferentes responsabilidades, diferentes metas. Na verdade, eu não tinha metas naquela época. Minha vida era bastante diferente".
Naquela época, de fato, ela havia meses antes conhecido Sam Cooper, com quem se casaria em novembro de 2011. Tiveram duas filhas juntos, Marnie e Ethel, e divorciaram-se em 2015. Nesse meio tempo, Lily se internou em clínicas de reabilitação para tratar de diferentes questões ligadas à depressão e dependência - a conservadora imprensa britânica costumeiramente ficou no pé da artista nos últimos anos.
Musicalmente falando, ela viveu outro bom momento com It's Not Me, It's You (2009), álbum sucessor da estreia Alright, Still, com a ótima música "Fuck You", e viu o seu terceiro disco, Sheezus (2014), ter críticas mistas, embora tenha conseguido emplacar um primeiro lugar nas paradas inglesas.
Quando chegou com No Shame, cinco anos depois, Lily Allen queria realmente dizer algo. O título já indicava isso, podendo ser traduzido como "vergonha alguma", no sentido de não ter problema com o seu passado.
A música de abertura do disco dizia isso, com "Come On Then", uma canção na qual aponta diretamente para os fantasmas que a assombram e para aquilo que disseram a respeito dela na imprensa. "Sou uma mãe ruim, sou uma esposa ruim", ela canta na música.
"Eu escrevo canções muito pessoais. É fácil trazer esse sentimento para a minha música", ela diz. "E minha vida era caótica naquele momento", ela lembra. "Eu amo esse disco [No Shame]. É o mais pessoal e foi o álbum mais difícil de fazer", confessa.
No Shame levou tempo para ficar pronto. Lily Allen iniciou o trabalho em Los Angeles, mas só o finalizou no seu estúdio caseiro em Londres, onde mora. "Foram dois anos para gravá-lo", ela explicou. Lily Allen precisava disso.
"Eu tinha muito acontecendo na minha vida", ela conta. "Meu casamento acabou, meus problemas com álcool. Foi difícil para mim superar isso tudo, mas eu me dei esse tempo para conseguir fazer esse disco."
Do começo ao fim, No Shame se confunde com um diário, de fato. "É o meu disco mais pessoal", diz a artista, conhecida por levar muito da sua vida para suas canções. Ela expurga suas questões como mãe, como esposa, como artista, em versos que doem de tão íntimos.
"Three" é um exemplo disso. A música, uma balada ao piano, é cantada por Lily sob a perspectiva das suas filhas ao verem a mãe sair para trabalhar. "Por favor, não não me deixe, eu só tenho três anos", canta Lily Allen em um refrão de partir o coração.
"Eu escrevo canções pessoais. É muito fácil levar isso para a música", ela avalia. "É o mais pessoal dos discos e também o mais difícil de fazer", estou muito animada em tocar essas músicas ao vivo."
Depois da tormenta, Lily Allen celebra a calmaria. Meses antes de embarcar para o show no Brasil, ela acompanhou a última temporada de Game of Thrones, série na qual o irmão dela, Alfie Allen, interpreta o personagem Theon Greyjoy. "O Alfie é incrível", ela se derrete . "Eu só fiquei triste porque queria vê-lo como um white walker", ela lamenta.
Aos 34 anos, Lily parece estar de bem consigo e com o agora. "Estou bem", ela diz, "as crianças acabaram de chegar da escola."
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