A produção original Netflix aborda assuntos importantes como lutas raciais, das mulheres e LGBTQ+ na virada dos anos 1900
Redação Publicado em 20/06/2020, às 18h00
A série da Netflix, produzida em parceria com o canal CBC, Anne With An E, foi oficialmente cancelada em janeiro deste ano, logo após o lançamento da terceira - e última - temporada. A decisão desapontou o público que acompanhou o seriado, porque ainda havia muitas histórias para ser contadas.
A trama apresentada na série é baseada no romance Anne de Green Gables, escrito por Lucy Maud Montgomery, e publicado em 1908. A obra narra a vida da órfã Anne Shirley - e foi tão bem-recebida pelo público, que rendeu outros sete livros.
Na série, o foco é voltado para os anos de pré-adolescência e adolescência de Anne Shirley (Amybeth McNulty), logo após ter sido adotada pelos irmãos, Marilla e Matthew Cuthbert. Ao se mudar para Green Gables, a menina passa a conhecer amores os quais ela jamais havia conhecido - paternal, de amigos e até mesmo uma paixão.
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Com muita sensibilidade e profundidade, a série aborda o processo de amadurecimento, autoconhecimento e crescimento de Anne. Além disso, a produção pauta diversos assuntos, que embora se passem na virada dos anos 1900, são extremamente atuais.
Parte do público que acompanha - e ama - Anne With An E ficou perplexo com o cancelamento - e compartilhamos o sentimento. Por isso, listamos aqui motivos pelos quais o seriado merecia uma renovação:
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Os relacionamentos abordados em Anne With An E são sensíveis - seja com amizade, família e paixões. Muitos, porém, ficaram sem respostas ao final da terceira temporada, como é o caso de Diana e Jerry. Por conta das diferenças sociais, os dois acabaram se separando. Contudo, apesar de ainda se gostarem, não ganharam desenvolvimento nos episódios finais.
A narrativa do relacionamento de Diana e Jerry, inclusive, poderia ter reforçado a importância da consciência de classe, isso porque, é visível a preocupação da série em pautar questões sociais.
Outro caso sem respostas foi a aproximação de Sebastian e Mrs. Stacy - que renderia várias discussões e debates, principalmente, porque os dois poderiam tornar-se um casal inter-racial. No entanto, não aconteceu. Até mesmo a amizade dos dois é apresentada tão rapidamente que parece um pouco aleatória.
Anne e Gilbert tiveram um final bonito, mas também mereciam mais desenvolvimento com, é claro, novos episódios. A terceira temporada conclui-se com Gilbert seguindo para a Universidade de Toronto, enquanto Anne opta por continuar próxima à Green Gables e estudar na Queen's. Aqueles que leram os livros sabem como o casal tem um longo relacionamento - o qual poderia ser pautado na quarta temporada.
Com muita representatividade, a série discute questões sociais importantíssimas - de mulheres, não-brancos e LGBTQ+. Embora esteja ambientada na virada dos anos 1900, a produção é extremamente atual e reforça ao público como é necessário pensar nas minorias.
Personagens marcantes e cativantes são apresentados ao abordar essas pautas sociais. Josephine Barry, já senhora, é uma figura maravilhosa para a narrativa. Casada durante toda a vida com uma mulher, Gertrude, e desprendida de todas as regras sociais machistas vigentes naquela época, ela sempre aconselha Anne a seguir o coração em relação ao que almeja.
Além de aconselhar Anne, ela apoia Cole no processo de autoconhecimento e amadurecimento, porque Cole também é homossexual. Um personagem incrível que certamente merecia mais destaque e um desenvolvimento bem-sucedido em uma quarta temporada.
As pautas raciais também estão presentes na produção. Um exemplo é Sebastian, um homem negro, amigo de Gilbert, que se torna o sócio dele na fazenda após a morte do pai de Gilbert. Isso para a época era uma atitude inconcebível, já que os negros eram vistos como inferiores e escravos dos brancos.
Sebastian, caso o seriado fosse renovado para mais uma temporada, poderia ganhar um arco narrativo maior e, mais uma vez, provocar reflexões importantes no público. Além dele, outras personagens negras também deveriam ter mais espaço em novos episódios.
Questões indígenas estiveram presentes na terceira temporada, mas não ganharam o reconhecimento devido. Tanto que a história da pequena Ka'kwet, uma criança indígena que foi forçada a abandonar a cultura para aprender as tradições dos brancos, não é concluída. Ao final da série, o público fica sem saber se a jovem conseguiu abandonar o internato, por exemplo.
Com novos episódios, essa pauta racial, pouco discutida em produções audiovisuais, poderia ganhar um desenvolvimento e apresentar o quão violenta e destrutiva foi a colonização.
O feminismo está presente na série a partir das convicções de Anne, como os desejos de querer ser professora, estudar, não ser silenciada por homens, entre diversas outras atitudes. Inclusive, o tema é apresentado com originalidade, autenticidade e naturalidade, até porque, o foco do seriado é a evolução e autoconhecimento da protagonista.
Josephine e Mrs. Stacy também são duas personagens com atitudes feministas e totalmente avançadas para a época. Ambas poderiam acrescentar demais em novos episódios juntamente com o processo de graduação de Anne.
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