Banda de Dave Grohl compensa anos de ausência no Brasil com show intenso e abrangente para fãs de longa data
Pablo Miyazawa Publicado em 08/04/2012, às 05h16 - Atualizado às 12h38
Faltava pouco mais de uma hora para o Foo Fighters encerrar o primeiro dia do festival Lollapalooza Brasil, no sábado, 7, e Dave Grohl mal se esforçava para esconder a ansiedade pelo show iminente. “Nós vamos começar o show com 'All My Life'”, ele me cochichou, abrindo um sorriso largo. “Espera só para ver o que vai acontecer!”
Para Grohl, a expectativa pré-show era algo equivalente a se preparar para uma partida em que já se sabia o resultado antecipado – com a plateia totalmente entregue, a vitória do Foo Fighters foi determinada já no primeiro refrão berrado da faixa de abertura. Levando a sério a alcunha de “cara mais legal do rock”, Grohl fez em São Paulo tudo o que se esperava dele, não decepcionando quem antecipava um espetáculo de bom-mocismo, alto astral e hits de todas as fases do Foo Fighters.
“A gente nunca tocou nesta porra de cidade antes”, o vocalista confirmou após “Rope”, terceira música da noite. “Primeira vez em São Paulo! Primeira vez!”. O público de 75 mil pessoas tinha em Grohl, teoricamente, um porta-voz de suas vontades. “Quantas músicas vocês querem ouvir? Quanto tempo de show? Uma hora? Duas? Vamos tocar até falarem que a gente não pode mais”. Não foi o que ocorreu ao pé da letra, mas a apresentação durou cinco minutos a mais do que as duas horas e meia previstas. Como se tentasse compensar a estreia tão tardia em um palco paulistano, Grohl e os Foo Fighters – os guitarristas Pat Smear e Chris Shiflett, o baixista Nate Mendel e o baterista Taylor Hawkins – executaram um show intenso, competente e pouco óbvio no repertório. Afável e político, o líder não economizava em discursos positivos, consultas ao público (“Se a gente tocar, vocês prometem que vão cantar o mais alto que der?”) e corridas de um lado a outro do palco, não desprestigiando nenhuma fatia da multidão.
Foi apenas o segundo show do Foo Fighters em solo brasileiro, fato notável para uma banda com relativa experiência e 17 anos de estrada. Na primeira visita, em 2001, no Rock in Rio 3, o disco There's Nothing Left to Lose foi o privilegiado no curto set list de apenas 13 músicas. Dessa vez, a banda subiu ao palco pontualmente às 20h30 e praticamente repetiu o repertório do segundo show na Argentina, no último dia 4, com apenas uma diferença – “These Days” foi deixada de lado para permitir espaço para mais uma faixa tocada com Joan Jett. Com mais tempo no palco e quatro discos a mais no currículo, a banda poderia ter optado por deixar de lado o material antigo para se concentrar em músicas mais frescas. O ineditismo da visita à cidade acabou, de certa forma, justificando a escolha por uma seleção mais calcada nos três primeiros álbuns, gravados entre 1995 e 1999 – quase metade do repertório do show no Lollapalooza foi originada desse período. Do recente Wasting Light, a banda apresentou cinco faixas. Os outros três discos (One by One, In Your Honor e Echoes, Silence, Patience & Grace) tiveram duas canções tocadas cada.
Houve espaço para músicas relativamente raras na atual turnê, como “Enough Space”, “Hey, Johnny Park!” (de The Colour and the Shape, 1997) e “For All the Cows” (Foo Fighters, 1995). A já aguardada participação de Joan Jett também foi mais generosa em relação aos shows no Chile e na Argentina: além de “Bad Reputation”, a roqueira veterana também surpreendeu ao cantar sua música-assinatura, “I Love Rock 'n' Roll” acompanhada pelos Foos. Como praxe, o baterista Taylor Hawkins assumiu os vocais de “Cold Day in the Sun”, não sem antes convidar Grohl a tomar seu lugar na bateria. Mesmo segurando a força do braço, Grohl não conseguiu esconder a empolgação ao esmurrar o instrumento que o tornou famoso: a diferença de estilos entre os bateristas foi ligeiramente perceptível.
Um show tão longo não poderia deixar de contar com artifícios para fazer o tempo voar – ou se arrastar, dependendo de que lado do palco se estava. Solos de todos os músicos, finais estendidos e mais pesados em diversas faixas e os tradicionais “singalongs” atrasaram o ritmo da apresentação. Música após música, o roteiro se desenrolava diante de uma audiência engajada, que fazia coro nos hits e se esforçava para devolver à banda a performance recebida, apesar de apagar-se levemente em faixas mais obscuras (as placas de “oh oh” levantadas por centenas em “Best of You” denotou o alcance do engajamento online). Por sua vez, cantando no limite e sem economizar nos urros rasgados, Grohl não deu tantos sinais de problemas na voz (ou os disfarçou bem), apesar do alardeado cisto nas cordas vocais que obrigou a banda a cancelar shows na Ásia recentemente.
“Essa noite é especial por muitas razões”, o vocalista discursou, já no bis. Aproveitou para confirmar sua admiração pelo Jane's Addiction (banda de Perry Farrell, fundador do Lollapalooza), a quem disse considerar “o Led Zeppelin de sua geração”, relembrando reportagens sobre a banda que teria lido quando adolescente na revista Rolling Stone EUA.
“Não vamos esperar 17 anos para voltar”, prometeu Grohl, antes de encerrar a maratona e dedicar “Everlong” a “vocês” – a platéia fiel e participativa, que talvez esperasse mesmo por tal mea culpa. Resta imaginar quando se dará o retorno aos braços dos brasileiros, e se até lá a bola do Foo Fighters continuará tão cheia como está atualmente.
Set List:
“All My Life”
“Times Like These”
“Rope”
“The Pretender”
“My Hero”
“Learn to Fly”
“White Limo”
“Arlandria”
“Breakout”
“Cold Day in the Sun”
“Long Road to Ruin”
“Big Me”
“Stacked Actors”
“Walk”
“Generator”
“Monkey Wrench”
“Hey, Johnny Park!”
“This is a Call”
“In the Flesh?”
“Best of You”
Bis:
“Enough Space”
“For All the Cows”
“Dear Rosemary”
“Bad Reputation”
“I Love Rock 'n' Roll”
“Everlong”
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