Além da teorização da psicanálise, produção beira a fantasia e possessão demoníaca
Yolanda Reis Publicado em 27/03/2020, às 13h35 - Atualizado às 13h36
Freud, nova série da Netflix, enfrentou o desafio de levar a história complexa do pai da psicanálise para as telas de TV. Mas todo o processo de descobrimento do médico já tem uma obra de referência: Freud Além da Alma, filme de 1962. Como, então, inovar? Transformando isso em um terror sobrenatural e sanguinolento.
A trama acompanha Sigmund Freud como médico recém-formado. Trabalha como psiquiatra, e está empenhado em entender o o motivo da histeria de seus pacientes (a maioria, mulheres). Precisa convencer os doutores de Viena que aquilo não é uma doença do cérebro, e sim da “alma”. É ridicularizado por todos ao tentar expor o conceito do inconsciente na mente humana e a possível solução com hipnose.
A história, porém, não demora a trocar completamente o rumo da biografia e ir direto para uma narrativa irreal. Freud envolve-se com uma família da aristocracia austríaca, e conhece Fleur Salomé, mulher jovem com um “poder especial”: visualizar crimes e assassinatos quando está em estado de estupor.
Na série, Freud ainda desenvolve seus métodos, e usa hipnose para tentar ajudar Fleur. Tudo fica sombrio aí: ela tem visões de Claire, uma menina desaparecida. Explora muito e descobre onde está a menina; sabe que foi tortura, está à beira da morte e, mais ainda: quem fez tudo aquilo.
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A hipnose ganha, então, a qualidade de um portal místico. Entre jogos de poder politico, sangue, tortura e manipulação, Freud sai de foco - e toda uma rede de assassinatos ganha destaque. Ninguém sabe porquê Fleur desvenda os crimes, como os descobre - e, mais ainda, porque os assassinos agem de maneira tão bizarra.
O mistério aumenta quando símbolos ocultistas, desenhados com sangue, aparecem por aí; o cunho da psicanálise vira completamente problemático - e a série perde quaisquer significados históricos para virar uma produção de terror.
Freud é uma típica produção da Netflix: uma série fantasiosa e medonha, tal qual Dark ou Marianne. Tem um fundo de verdade, pois o médico de fato desenvolve os ideais do ego, superego, id e inconsciente. Explora, também, a verossímil ideia de como a sexualidade afeta toda a psicologia de alguém. Mas não liga muito para isso: quer é assustar quem assiste. Consegue, com louvor - mas, talvez, soaria melhor se não precisasse de um nome real para basear tudo isso.
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