Filho do tropicalista organizou os shows especiais do pai em comemoração aos 40 anos do clássico disco de 1977
Lucas Brêda Publicado em 06/09/2017, às 19h07 - Atualizado às 19h31
Quando tinha 15 anos de idade, por volta de 2000, Bem Gil decidiu reouvir a discografia do pai, Gilberto Gil, com mais atenção e em ordem cronológica. “Tenho uma admiração profunda por todos os discos – são relações diferentes, mas não tenho favoritismo”, admite ele. “Só que talvez Refavela tenha sido o que eu mais ouvi. Ele funciona em vários aspectos: acho muito sublime o som, a ordem, a temática.”
Curiosamente, o álbum do pai mais ouvido por Bem deixou uma impressão difusa em seu criador. “Teve algo que aconteceu ali e foi determinante para que ele evitasse que acontecesse outras vezes”, explica Bem. “Gil foi o diretor do disco e coordenou todo o processo, resolvendo inclusive ir além da gravação e participar da mixagem. Ele é creditado como técnico de mixagem.”
“Depois que entregou o disco pronto, ele já entregou sem estar 100% satisfeito”, continua o filho. “Até fala sobre isso nas entrevistas da época do lançamento. Passou a não gostar da mixagem a ponto de, em 1984, quando a Warner decidiu relançar o LP, ele pediu para remixar. Foi o único que ele fez esse pedido. Depois disso, o Gil nunca mais quis saber de mixagem. É curioso porque a mixagem do original é o som que eu mais gosto. Hoje, se ele ouvir, pode ser até que goste – mas na época não.”
Refavela foi lançado originalmente em 1977, cerca de oito anos antes de Bem nascer, e completa quatro décadas de existência justamente este ano. O filho de Gilberto Gil, que é músico da banda Tono, além de produtor, já tinha vontade de trabalhar em um show baseado no emblemático álbum há dois anos, mas esperou a efeméride para consolidar o plano – e convencer o pai, pouco simpático a revisionismos, a embarcar nele.
“Meus amigos do [grupo] Abayomy sempre tocam no Fela Day [data em que se celebra mundialmente o legado do lendário Fela Kuti] e me propuseram um ano de ter o Gil tocando o Refavela”, conta Bem. “Na época ele estava enrolado com outros projetos e eu não me envolvi, mas aquilo ficou na minha cabeça. Tanto eu quanto eles [do Abayomy] não vimos [o Refavela] acontecer, não somos contemporâneos, seria uma maneira de viver aquilo.”
Para os shows de Gil nos 40 anos de Refavela, Bem chamou integrantes do Abayomy, nomes como Céu, Moreno Veloso e Maíra Freitas – admiradores assumidos da obra – e a apresentação já está na rua, tendo estreado no Rio de Janeiro, no Circo Voador (para onde retorna em janeiro), com datas em São Paulo (nos Sescs de Itaquera e Pinheiros, respectivamente entre os próximos dias 7 e 10), Salvador, Belo Horizonte e possíveis novas datas. Segundo Bem, “ninguém teve que decorar nada: eles estão cantando coisas que eles já tocam informalmente, que já estão vivas na gente.”
No repertório dos shows, além das faixas regulares do álbum – clássicos como “Ilê Ayê” e a própria faixa-título –, Bem tentou incluir músicas que não entraram em Refavela e canções que Gil tocou na turnê original, de 1977. Há ainda duas faixas lançadas por Bob Marley em Exodus (também de 1977), “Sarará Miolo” (que Gil compôs para Nara Leão naquele mesmo ano) e canções de Bicho (1976), álbum de Caetano Veloso que é “irmão” de Refavela, (ambos os LPs são inspirados pela viagem que a dupla fez à Nigéria, na África).
“É um disco que tem uma organicidade muito grande”, analisa Bem. “Agora, reouvindo de um jeito mais técnico, você percebe que as músicas começam em um andamento e terminam, na maioria das vezes, mais aceleradas. Essa liberdade é impressionante, não tinha metrônomo. E os arranjos são incríveis: tem o lado de baile, um violão mais Jorge Ben – em relação à pegada mais bossanovista dele –, as orquestrações, ornamentações e um trabalho sofisticado de estúdio. [Refavela] alcança todo esse espectro: é vivo e, ao mesmo tempo, pensado.”
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