Glen Campbell - ASSOCIATED PRESS

Glen Campbell: mesmo sem saber, você certamente já ouviu alguma canção do astro

Até Roberto Carlos fez versão de música imortalizada pelo cantor e compositor, que morreu aos 81 anos

Paulo Cavalcanti Publicado em 08/08/2017, às 20h07 - Atualizado em 09/08/2017, às 15h38

Talvez o nome de Glen Campbell não seja tão familiar junto ao público mais jovem. Mas certamente quem gosta de música cantada em inglês já ouviu uma canção dele ou então algum trabalho no qual ele esteve envolvido. Por um tempo, Campbell foi um nome vital e ubíquo nos bastidores, como músico de estúdio ou acompanhante de outros grandes nomes; mais tarde, embarcou em uma carreira solo de estrondoso sucesso. O astro morreu nesta terça, 8 de agosto, aos 81 anos, após um longo período sofrendo com o mal de Alzheimer.

O cantor, guitarrista e compositor, nascido no dia 22 de abril de 1936 em Delight, Arkansas, esteve presente nos primórdios do rock and roll. A carreira dele efetivamente começou a tomar forma no início dos anos 1960 quando fez parte do grupo instrumental The Champs, conhecido pelo hit “Tequila”. Logo ele virou músico de estúdio, enquanto gravava compactos sem muito sucesso.

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Depois, fez parte do Wrecking Crew, um grupo formado pela elite dos músicos de estúdio de Los Angeles. Assim, Campbell tocou com a nata da música produzida nos Estados Unidos: The Monkees, Elvis Presley, The Mamas and The Papas, Johnny Rivers, Jan and Dean, Frank Sinatra, Nancy Sinatra, Dean Martin, Rick Nelson e incontáveis outros. Versátil, ele tocava e cantava em discos de surf music, de música country, de bandas que faziam covers de Beatles e o que mais viesse pela frente.

Foi com os Beach Boys, no entanto, que Campbell desenvolveu um relacionamento mais próximo. Ele começou a tocar nos discos da banda (a guitarra de “I Get Around” foi gravada por ele), e quando Brian Wilson abandonou as apresentações ao vivo para se dedicar ao trabalho em estúdio, Campbell o substituiu na estrada por cerca de seis meses, cantando e tocando baixo nos shows (ele só não seguiu com o grupo porque já tinha muitos compromissos agendados, dispensando o posto de integrante efetivo; Bruce Johnston ficou com a vaga). No momento em que Brian Wilson começou a elaborar a sonoridade que iria aplicar em Pet Sounds, ele chamou Campbell para ser “cobaia” no single “Guess I’m Dumb”, lançado em 1965, cuja sonoridade sofisticada já prenunciava o que seria o lendário LP dos Beach Boys, lançado em maio de 1966.

Além do trabalho em estúdio, Campbell também participava do programa de TV Shindig!, exibido pela rede ABC, até hoje considerado um dos grandes momentos do rock na tela pequena. Na metade da década de 1960, Campbell era conhecido dentro do mercado musical e tinha prestígio entre seus pares, mas parecia ser destinado a permanecer como um eterno acompanhante de artistas de sucesso. A carreira solo dele não decolava. A gravadora Capitol já estava prestes a dispensá-lo quando o cantor se uniu ao produtor Al De Lory. A partir daí, finalmente as coisas começaram a engrenar.

Juntos, Campbell e De Lory criaram um som singular, que era uma mistura de country e pop, sempre valorizando arranjos e orquestrações. Campbell começou a gravar composições de um jovem chamado Jimmy Webb. Na voz de Campbell, canções de Webb como “By the Time I Get to Phoenix”, “Wichita Lineman”, “Where's the Playground Susie” e “Galveston” tornaram-se mega-hits e clássicos do cancioneiro norte-americano. Em 1967, o astro confirmou o status de superstar com “Gentle on My Mind”, canção de John Hartford. “Gentle on My Mind” virou marca sonora de Campbell. Em 1984, Roberto Carlos gravou “Caminhoneiro”, cuja melodia era decalcada no hit. Posteriormente, a canção do brasileiro acabou sendo creditada ao compositor John Hartford.

Não bastasse o sucesso nas rádios, o músico ganhou um programa de TV no horário nobre, chamado The Glen Campbell Goodtime Hour, que foi ao ar na rede CBS de 1969 a 1972, sempre com a presença dos maiores nomes do pop e da música country do momento. Em 1970, ele participou como ator do western clássico Bravura Indômita ao lado de John Wayne, além de ter cantado “True Grit”, a canção-tema do filme.

Na década de 1970, era impossível escapar da voz do artista – “Rhinestone Cowboy”, “Southern Nights” (de Allen Toussaint) e “Sunflower” tocaram incessantemente. As turnês eram concorridas – Campbell tinha um status reservado apenas a grandes astros de rock da época, como Eagles e Led Zeppelin. Durante as décadas de 1980 e 1990, ele seguiu na estrada com sucesso, e passou a operar com mais ênfase no mercado da música country.

Em 2005, Campbell entrou para o Hall da fama da Música Country; seguiu sendo louvado por novas gerações de artistas do country e do rock, que começaram a redescobrir suas antigas gravações. Em 2011, infelizmente, a saúde dele começou a piorar; veio o anúncio de que sofria do mal de Alzheimer. Campbell então saiu em uma turnê de despedida ao lado dos filhos. A última vez que pisou em um palco foi em 30 de novembro de 2012, em Napa, Califórnia. Nesse meio tempo, também começou a trabalhar no álbum Adiós, lançado apenas em junho deste ano.

Nos estágios finais da doença, devido ao precário estado físico e mental em que se encontrava, Campbell foi internado pela família em uma clínica especializada na cidade de Nashville, no estado do Tennessee. Foi lá que morreu. O Twitter oficial dele anunciou: “É com imenso pesar que anunciamos que Glen Travis Campbell faleceu aos 81 anos”. Condolências vieram rapidamente. Nancy Sinatra postou uma foto que tiraram juntos quando ele já estava debilitado, e escreveu: “Adeus, amigo, e obrigado por ter compartilhado parte da sua vida comigo”.

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