Em entrevista à Folha, representante da empresa Davati Medical Supply disse que proposta de propina saiu no Ministério da Saúde
Redação Publicado em 30/06/2021, às 09h48
O representante de uma vendedora de vacinas disse, em entrevista à Folha, que governo de Jair Bolsonaro (sem partido) pediu propina de US$ 1 por dose de imunizante para assinar contrato com o Ministério da Saúde.
Segundo Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati Medical Supply, o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria cobrado a propina em um jantar em restaurante do Brasília Shopping em 25 de fevereiro. Nesta quarta, 30, o diretor da pasta foi demitido.
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No encontro do dia 25 de fevereiro, o representante se reuniu com o Ministério para negociar 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, inicialmente cobrada a US$3,5 por dose (depois, cada imunizante ficou a US$15,5).
Dominguetti explicou à Folha que "o caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa". Segundo o representante, após apresentar a proposta de vacina, o diretor do Ministério da Saúde disse: “Olha, para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo.”
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Depois, o representante questionou qual composição seria: "Aí ele me disse que não avançava no ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo".
A conversa continuou, assim como a insistência de Roberto Ferreira Dias. Dominguetti narrou mais sobre o encontro: "Aí eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma. Ele me disse: 'Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma".
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A “forma” seria, especificamente, acrescentar um dólar em cada dose da vacina: "Dariam 200 milhões de doses de propina que eles queriam, com R$ 1 bilhão," revelou Dominguetti. “Foi uma coisa estranha porque não estava só eu, estavam ele [Dias] e mais dois. Era um militar do Exército e um empresário lá de Brasília.”
Segundo o representante, no dia após o encontro, em que recusou a proposta, foi chamado no Ministério da Saúde: "Ele me pediu as documentações. Disse para ele que teriam que colocar uma proposta de compra do ministério para enviar as documentações, as certificações da vacina, mas que algumas documentações da vacina eu conseguiria adiantar."
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Depois, por um telefonema, o diretor do Ministério perguntou se teria o acerto: "Eu falei que não, que não tinha como. Isso, dentro do ministério. Aí me chamaram, disseram que entrariam em contato com a Davati para tentar fazer a vacina e depois nunca mais. Aí depois nós tentamos por outras vias, tentamos conversar com o Élcio Franco, explicamos para ele a situação também, não adiantou nada. Ninguém queria vacina."
Conforme o representante, Roberto Dias afirmou que "tinha um grupo, que tinha que atender a um grupo, que esse grupo operava no ministério, e que se não agradasse esse grupo a gente não conseguiria vender" - os integrantes desse grupo, contudo, não foram revelados.
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A CPI(Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid investiga a conduta do governo durante a pandemia, e a suspeita de compra de vacinas começou quando foi divulgada a denúncia de Luis Ricardo Miranda nas irregularidades da aquisição da Covaxin.
Segundo notícia do G1, a Comissão deve convocar para depor o representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, Luiz Paulo Dominguetti Pereira. A AstraZeneca, contudo, afirmou à TV Globo não ter intermediários no Brasil, e que acordos são firmados com governos e organizações multilaterais.
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A Folha explicou que Roberto Ferreira Dias foi indicado para o cargo de diretor pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Barros, contudo, publicou nas redes sociais que nega a indicação.
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