Horas com Christina Aguilera e Anitta: há muita luz e câmera antes da ação - conheça a montagem de um espetáculo como o Grammy Latino
Yolanda Reis Publicado em 18/11/2021, às 07h00
Depois do tapete vermelho, quando as luzes brilham mais fortes e um palco se ilumina, a expectativa dos milhares de amantes de música que assistem ao Grammy Latino em milhares de televisores aumenta. É um amor anual, e não tem jeito. Esperamos ansiosos pelas apresentações magistrais dos nossos artistas favoritos. O que farão? Trarão uma orquestra? Um figurino maluco? Uma dança tão perfeitamente coreografada que beira a hipnose? Em êxtase, vamos ao Twitter comentar o júbilo. Lá perto do palco, uma equipe inteira respira aliviada quando, de novo, mais uma apresentação dá certo, e artista e público respiram felizes.
Nem sempre a gente lembra, mas fazer tudo acontecer é um trabalho muito além da mente criativa dos artistas. Envolve centenas de pessoas, e uma articulação impensável para fazer algumas dúzias de músicos entrarem em cena enquanto outra dúzia sai, tudo isso num respiro de reclames, quando há sorte. Uma junção de ideias, organizações, colaboração e muita, muita paixão. No Grammy Latino, Marcelo Gama é um dos realizadores. O diretor é especializado em realitys, e ganhou, em 2019, um Emmy Internacional pelo trabalho na premiação musical. Na agenda apertada, reservou um tempo para uma conexão São Paulo - Las Vegas, algumas horas antes de um extenso ensaio com Christina Aguilera. Em entrevista, comentou sobre alguns dos bastidores de organização do Grammy Latino.
A edição de 2021 do Grammy Latino dá espaço para o “hermano” esquecido das Américas: o Brasil. Entendendo a América Latina como países de línguas latinas, é entendível uma leve exclusão. O tímido francês e o isolado português não têm muita vez com a maioridade do espanhol quando pensamos na região linguística. No imaginário do mundo, inclusive, aqui se fala espanhol!
Isso às vezes dói, claro. Mas Marcelo tenta levar um pouco do Brasil para os EUA e para os conterrâneos latinos. Levanta a bandeira onde vai. E, para ele, até o escanteio tem uma explicação simples: ninguém entende o que falamos: “A cultura, eles amam. Mas não entendem o português! Trabalho com latinos há, pelo menos, 20 anos. E se colocar alguém para ouvir a gente conversar, no máximo vão pescar uma ou outra palavra.” Mas a cultura não é chocante. Ao contrário: “nos acham sexy, divertidos, expressivos, e a nossa música maravilhosa. Se entendessem a gente, o Brasil dominaria todos os shows do Grammy, juro!”
Anitta (a quem Marcelo chamou de Larissa) encontrou uma curva. Aprendeu inglês, espanhol, e fez contato com artistas mundialmente famosos. Não é pouco poder dizer que tem um funk num disco da Madonna. E a cantora brasileira pode (“Faz Gostoso”, de Madame X, 2019). Isso ajuda a levar o Brasil para o mundo, e trazer um pouco de todos para cá.
Um dos grandes nomes da noite do Grammy será Anitta. Ela entrará na abertura ao lado de Carlinhos Brown, Giulia Be e Laercio da Costa. Gloria Estefan, cubana, acompanha a trupe do português no espetáculo. (Ela conhece Anitta, e Carlinhos Brown participou de Brazil305, disco pelo qual Gloria participa da premiação). O time nasceu com a ideia de fazer uma homenagem ao brasil no Grammy Latino, mas sem um plano definido. Começou a tomar forma pela parceria de Anitta e Estefan, e daí pensaram em outros nomes brasileiros para integrar um time diverso. (Um dos projetos, inclusive, incluía trazer “As Patroas” do sertanejo - Maiara,Maraísa e Marília Mendonça. A morte desta, alguns dias antes da premiação, cancelou a participação.)
Durante o papo, Marcelo não transpareceu muita preocupação com as engrenagens do show. Com naturalidade, narrou as horas e horas de trabalho, as dezenas de pessoas envolvidas na apresentação, e a falta de intervalos longos o suficiente para uma boa noite de sono. Casualmente, comentou:
“Cada ensaio dura uma hora, por aí. Fazer o sound check, teste de câmera, iluminação, checar tudo. Ficamos até tarde, ontem, e hoje começamos cedo. Também terminaremos tarde hoje [era a tarde de terça, 16, dois dias antes do Grammy], com a Christina Aguilera. Só para o sound check, ela fica três horas. Tem umas 30 pessoas no palco dela, mas ela é bem preocupada com o vocal. Não vai ter câmera [de teste], vou gravar com o celular e anotar tudo, trabalhar as marcações, deixar ela confortável com a banda ao vivo e ela ao vivo.”
30 pessoas no palco parece demais? Rubén Blades, Person of The Year, chega perto, com 27 músicos na banda. Dobre isso, e chegamos nas 60 do palco de abertura - a homenagem ao Brasil, com Anitta, Carlinhos Brown, Giulia Be, Gloria Stefan e Laercio Costa. Mas este ensaio dura só uma hora - o maior desafio é entender as montagens complexas, o andar dos carros alegóricos e o posicionamento dos percussionistas.
Todos esses dias são exaustivos preparos para o espetáculo do Grammy. Uma maneira de entender como enxutar essas horas e horas de ensaio para as quatro horas da premiação. Marcelo garante: tudo o que vemos é de verdade, ao vivo, acontecendo ali. Nada de playback, tudo é raça. “Uma loucura,” como classificou o diretor.
Com a volta de eventos presenciais, principalmente grandes como o Grammy, fica a questão: se a pandemia do coronavírus não acabou, como reunir centenas de pessoas é possível? Com regras estritas, específicas e sem exceções.
Marcelo explicou: “No Grammy, só entra quem é vacinado. Somos testados a cada dois dias, todo mundo. E tem a polícia do Covid. Se alguém abaixa a máscara, outra pessoa já chega [e manda colocar]. Só pode ficar sem máscara na hora de cantar. Mas os bailarinos tão de máscara, os convidados também. A arena toda.”
Com a vacinação, o diretor vê um pouco de esperança para a área. De acordo com dados do governo federal, o setor de Atividades Artísticas, Criativas e de Espetáculos foi o mais afetado com a pandemia. O primeiro a encerrar, e o último a voltar. O controle da pandemia traz de volta os empregos - as centenas de pessoas da iluminação, montagem, aparelhagem, entre outros - e a sede dos artistas. Anseiam pelo reencontro com o público, como o público aguarda por voltar às multidões dançantes de um show.
A premiação do Grammy Latino 2021 acontece a partir das 22h da noite da quinta, 18 de novembro. No Brasil, será exibido ao vivo pela TNT e Bis, e Multishow retransmite os melhores momentos no dia 21 de novembro.
Entre os brasileiros concorrentes, estão Caetano e Tom Veloso, por “Talvez,” em Record of The Year. Nana Caymmi concorre a Disco do Ano com Nana, Tom, Vinicius, ode à velha guarda da Bossa Nova. Giulia Be disputa Melhor Novo Artista. Bachianinha: Toquinho e Yamandu Costa (Live at Rio Montreux Jazz Festival) pode receber Melhor Disco Instrumental. Antonio Adolfo apresenta Bruma: Celebratin Milton Nascimento como Melhor Disco de Jazz. Aline Barros concorre em Melhor Disco Cristão em Lingua Espanhola. Separamos as categorias em português em outro link, confira aqui.
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