Encerramento do 3º e último dia de festival consagrou artistas principais e seguiu marcado por protestos políticos
Redação Publicado em 08/04/2019, às 10h16
Domingo, 7, era o dia do hype ser colocado à prova no Lollapalooza 2019. Os três principais artistas da atualidade nos seus respectivos gêneros tinha, nos palcos do festival realizado no Autódromo de Interlagos, a chance de mostrar se realmente valiam aquilo tudo o que falavam deles: Greta Van Fleet, Twenty One Pilots e Kendrick Lamar sairam do último dia de evento consagrados.
O hype, mostraram eles em ação, é válido.
Alucinante talvez seja a palavra certa para descrever o show de Kendrick Lamar no Lollapalooza. O rapper subiu ao palco já cheio de energia, e cantou umas 5 músicas emendadas, dando a impressão que nem respirava.
O rap de Lamar atingiu um outro patamar. Seu disco To Pimp My Butterfly, de 2015, experimentou uma aproximação com um jazz de vanguarda que nasceu na Costa Oeste dos Estados Unidos nos últimos anos.
No discurso, Lamar se aprimorava em colocar o dedo na ferida social dos Estados Unidos. Uma das faixas do álbum, “Alright”, por exemplo, foi usadacomo trilha sonora dos protestos Black Live Matter, nos quais os negros americanos lutam contra a desigualdade racial.
Com o disco seguinte DAMN., Lamar ganhou até um Pulitzer de Música, tornando-se o único artista fora do eixo música clássica e jazz a ser homenageado pelo prêmio. Ao lado do Pulitzer, na estante do rapper, também estão 13 estatuetas do Grammy.
De todas as bandas que se apresentaram no Lollapalooza 2019, o Twenty One Pilots tem o público mais fiel. Era possível encontrar, onde quer que se fosse dentro do Autódromo de Interlagos, pessoas com roupas pretas e amarelas, em homenagem a Trench, novo álbum do duo.
A banda tocou às 19h25, mas desde as 11h e pouco da manhã vários fãs já estavam coladinhos na grade do palco Onix, querendo garantir um bom lugar para testemunhar a performance do grupo. Valeu a pena, já que Tyler Joseph, vocalista do grupo, até se jogou para a plateia em dado momento da apresentação.
Os meninos já tinham tocado por aqui em 2016, e voltaram agora por insistência dos fãs brasileiros (o famoso “please come to Brasil” que invade o Twitter de todo mundo). Na estrada com sua Bandito Tour há mais de um ano, fizeram questões de alterar as estruturas do palco do Lolla para encaixar elementos da turnê, como carros, fogo, fumaça.
Sob a sombra do Led Zeppelin, os guris de 20 e poucos anos do Greta Van Fleet subiram ao palco do Lollapalooza 2019 entre expectativa e dúvida. Seriam eles massacrados pela semelhança estética com o Zeppelin ou passariam no teste?
Os três irmãos Kiszka (Josh, Jake e Sam) e do baterista Danny Wagner saíram se bem dessa. O Lollapalooza 2019 confirmou o hype em torno do grupo cujo único disco completo só foi lançado seis mesesa antes.
Estridentes como pouco se ouviu o Autódromo, o grupo mostrou que suas influências são diluídas (não ficam somente na heraça de Led Zeppelin) e fizeram uma apresentação surpreendente, com o público entregue aos pés dos rapazes.
É hora de parar com o "mimimi" sobre o som dos rapazes.
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Depois de uma sexta-feira de sol intenso e um sábado com pancada de chuva (rolou até evacuação do evento), o clima encontrou um meio termo e ficou nublado durante todo o dia. Assim, ficou muito mais fácil assistir aos shows e não derreter de calor.
O domingo foi o dia mais vazio do festival, com 76 mil pessoas. Chegou perto da quantidade de sexta, 78 mil, e longe dos 92 mil do sábado. Mas mesmo assim, ainda é muita gente, e os palcos dos shows principais lotaram.
O palco Adidas mostrou neste domingo um dos aspectos mais fortes do festival: a representatividade. Suas três primeiras apresentações foram Luiza Lian, Letrux e IZA. Todas mulheres. Todas brasileiras.
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O trio de cantoras fez coro à voz política e social que ecoou no Lollapalooza inteiro. Luiza falou da liberdade sexual feminina. Letrux, de feminismo, transfobia, desigualdade, política. Um show polêmico e crítico do início ao fim. Já IZA, de queixo erguido, foi lá e fez todo mundo dançar seu pop funk enquanto provava que sabe cantar muitíssimo bem.
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Os protestos políticos que marcaram todos os dias desta edição do Lolla também continuaram no domingo. Abrindo o dia no festival, Aláfia não deixou barato e garantiram: “não compactuamos com o fascismo.”
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Gabriel, O Pensador bateu na tecla da injustiça social com “Retrato de um Playboy - Parte 2” e “Tô Feliz (Matei o Presidente) - Parte 2”. Suas rimas de críticas mais antigas, como “Cachimbo da Paz”, também estiveram no show.
O rap de Pensador, sucesso dos anos 1990, é contestador, mas é uma vibe diferente daquela vista no palco Budweiser, quando o rapper BK', figura de maior destaque de uma geração mais recente, entregou uma performance poderosa, horas antes.
O sucesso do álbum Gigantes, lançado pelo rapper no ano passado, contribuiu para a reunião de uma boa plateia disposta a ouvir e cantar junto letras sinceras e diretas, fugindo de alegorias que possam desviar o sentido da mensagem que ele carrega consigo e compartilha com os fãs.
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Claramente emocionado, BK' olhou para a plateia, ao finalda apresentação e confessou: “Queria ficar cantando aqui pra sempre. Não queria ir embora não”.
The Inspector Cluzo, banda vinda diretamente das fazendas francesas, também não segurou a língua e mostrou sua indignação enquanto falava de agricultura.
Sua grande crítica foi à empresa Monsanto, responsável hoje, majoritariamente, por criar sementes transgênicas - mas já participou da produção do Agente Laranja, desenvolvimento e estudos de bombas atômicas e armas nucleares, e criou diversos produtos artificais que acabaram trazendo problemas de saúde monumentais para quem os consumiu.
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No mesmo palco Onix, horas depois, surgiu o Interpol, que está longe de ser uma figura desconhecida no País. Uma das bandas mais importantes da década passada, quando o rock voltou a ganhar espaço, o grupo liderado por Paul Banks cria suas canções como se estivessem num quarto escuro e isolado.
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Algo que, com à luz do dia, pode ficar meio fora de lugar. É claro, com fãs ao seu lado, o Interpol fez uma apresentação segura, mas iluminada demais para os ecos e as lamúrias de Banks.
Além dos protestos políticos, a leveza e alegria estiveram em peso no último dia do Lollapalooza. O show de Aláfia, por exemplo, mostrou-se dançante e amigável. A banda de 15 pessoas - número suficiente para promover uma festa - apostou na brasilidade e fez um show gostoso para balançar.
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O que não inibe o impacto das letras do grupo paulistano, também bastante pertinentes e com forte engajamento social.
Sem vocais, por sua vez, o grupo E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante abriu o festival antes do meio-dia, com um show que se constrói por camadas e mais camadas de instrumentação. Cada nota disparada, ou riff, adicionam uma pincelada de cor diferente na tela que o grupo produz no palco.
O show foi bastante potente, alternando-se entre calmaria e explosão, e agradou o público ali presente - boa parte deles, com roupas pretas e detalhes em amarelo, esperava pela apresentação do Twenty One Pilots.
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