A guitarra hipnótica de Eddie Van Halen [ENTREVISTA]

“A primeira vez em que girei o amplificador até o 10 e ele distorceu, pensei ‘Aeeeeee!’”

Redação

Publicado em 06/10/2020, às 18h03
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- Eddie Van Halen (Foto: Kevin Winter / Getty Images)

Não há como pensar na história do rock, principalmente quando o assunto são guitarras eletrizantes e solos hipnóticos, o nome Eddie Van Halen vir a cabeça. Dono de uma habilidade gigantesca com o instrumento, o músico revolucionou a própria década e as seguintes — algo que apenas grandes já haviam ousado em fazer, entre eles Jimi Hendrix e Eric Clapton, quando o assunto era guitarra. 

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Nesta terça, 6, essa figura célebre, contudo, saiu de cena. Após uma longa batalha contra um câncer, Eddie, fundador da banda Van Halen, morreu aos 65 anos. A notícia foi confirmada pelo próprio filho, Wolfgang Van Halen, nas redes sociais oficiais do guitarrista. 

Com isso, resgatamos momentos importantes que o músico compartilhou com os fãs, a imprensa e, claro, com toda a indústria fonográfica. A seguir, uma conversa com o guitarrista Eddie Van Halen, escrita por Brian Hiatt, para à Rolling Stone EUA, e publicada na Rolling Stone Brasil em 2010. 

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Como você começou a tocar guitarra?

Meu irmão e eu fomos forçados a fazer aulas de piano, e não era divertido para mim. Escutava música na minha cabeça, mas não podia tocá-la. Um dia, comprei uma bateria e, de alguma forma, minha mãe convenceu meu irmão Alex a fazer aulas de violão flamenco. Eu entregava jornais para pagar pela bateria, e enquanto ficava fora jogando jornais, o Alex ficou melhor do que eu na bateria, então falei "OK, que se dane, vou tocar sua guitarra."

Quais foram as primeiras músicas que você aprendeu a tocar?

The Ventures: "Pipeline", "Wipe Out", esse tipo de coisa. Meu irmão e eu amávamos Dave Clark Five, mas não era uma banda realmente voltada para a guitarra. A primeira vez em que girei um amplificador até o 10 e ele distorceu, pensei "Aeeee! Isto é divertido,"

Você acabou fazendo uma cover de outro clássico dos anos 60, "You Really Got Me", do Kinks, em seu primeiro álbum.

Em nossos shows, tocávamos essa e "All Day and All of the Night" e, sabe, alguns rocks semi-obscuros antigos. Sempre gostei de pegar aviões de brinquedo e transformá-los em jatos. Para mim, é assim que "You Really Got Me" soa. A nossa é como whooosh [risos].

Qual foi a importância do Kinks para você?

Apenas gosto das músicas. Não quero parecer arrogante ou algo assim, mas nunca fui muito fã de bandas fora do Cream, e quase não ouço nada atualmente. Acho que o último disco que comprei foi o So, do Peter Gabriel. Com o Cream, eu era mais fã da interação ao vivo deles. Sabe, eles foram um exemplo de "Qual é a diferença entre o jazz e o rock & roll? Simplesmente tocamos mais alto". É isso. Temos 12 notas, faça o que quiser com elas, sabe?

Sua maior inovação foi o tapping de duas mãos - usando-as para tocar as notas simultaneamente com a palheta. De onde tirou essa ideia?

Estava vendo o Jimmy Page fazer [canta um lick de martelada na guitarra], desse jeito, com uma mão, em "Heartbreaker". Pensei "Consigo tocar assim e ninguém saberia se eu estava usando este dedo [aponta para a mão esquerda] ou este" [aponta para a mão direita]. Mas você meio que move por aí, e é como se fosse "Você tem uma mão grande, cara, que espalhamento!"

Este se tornou o som mais imitado do hard rock.

Bom, a culpa não é minha. Não tenho nada a ver com isso. O tapping era parte de meu jeito de tocar desde 1972. No início, meu irmão falava para eu ficar de costas no palco para que ninguém pudesse ver o que eu estava fazendo até lançarmos o álbum.

Seu jeito de tocar guitarra rítmica não é muito valorizado.

Músicos de verdade me respeitam mais pelo meu jeito de tocar guitarra rítmica do que pelo meu solo, porque fazer solos é quase como ficar se exibindo - a não ser que você esteja realmente improvisando a partir da melodia de uma música. Mas, na verdade, sou bastante rítmico, porque sou o único guitarrista da banda, então tenho que cobrir os dois lados. Sempre acreditei piamente que a música deve se manter sem nada de cantoria. Quer dizer, ouça Beethoven, sabe. Ninguém está cantando ali.

Alguém levou a guitarra elétrica mais longe do que você conseguiu com o Van Halen?

Difícil dizer. Especialmente hoje, com todos os efeitos e Pro Tools e isso e aquilo. Você não sabe mais o que é o quê.


O texto acima foi publicado originalmente na Rolling Stone EUA, em 2010, e escrito por Brian Hiatt. A Rolling Stone Brasil traduziu o material e publicou no site no dia 12 de abril de 2010. 


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