A Original Dixieland Jass Band fazia história e colocava o estilo no mapa
Paulo Cavalcanti Publicado em 07/03/2017, às 18h45 - Atualizado às 19h01
Esta terça, 7, marca, para todos os efeitos, os 100 anos desde o nascimento do jazz. O gênero surgiu no final da década 19, no estado da Louisiana, mais especificamente em Nova Orleans. O estilo se tornou a mais poderosa forma de expressão afro-americana depois da libertação dos escravos. Muitos deles foram servir o exército e lá aprenderam a tocar instrumentos de sopro. Com o tempo, a região foi tomada por vibrantes agrupamentos tocando hinos religiosos e canções tradicionais. A música saiu das ruas e tomou conta dos bares, cabarés e bordeis. Poucos sabiam que o jazz iria se transformar na música norte-america por excelência.
No caldeirão do jazz entraram elementos da cultura francesa, do blues, do ragtime, da música africana, do som caribenho e muito mais. Em Nova Orleans, nomes como Buddy Bolden, Jelly Roll Morton, King Oliver e Sidney Bechet faziam o estilo evoluir. O jazz era uma bolha prestes a estourar. Era o inicio da indústria cultural e o jazz começava a ser levado às massas através de uma nova tecnologia: o disco gravado.
No dia 7 de março de 1917 foi lançado pela gravadora Victor o primeiro disco de jazz da história. O registro havia sido feito pela Original Dixieland Jass Band. A gravação em 78 rotações continha as faixas "Livery Stable Blues" e “Dixieland Jass Band One-Step”, que tinham sido gravadas em fevereiro daquele ano em Nova York. O número de catálogo era Victor 18255.
Quando o material chegou às lojas o impacto foi tremendo. Os norte-americanos, acostumados com operetas e tenores trovejantes como Enrico Caruso, nunca tinham ouvido algo tão animado, revolucionário e excitante quanto aquilo. Em pouco tempo, o disco iria vender um milhão de cópias. A história estava sendo feita, mas não exatamente pelas mãos dos verdadeiros criadores do estilo – a Original Dixieland Jass Band era constituída apenas por músicos brancos.
A Original Dixieland Jass Band (que logo trocou o “jass” pelo mais apropriado “jazz”) era liderada pelo cornetista Dominick James "Nick" LaRocca e integrada pelo baterista Tony Sbarbaro, o trombonista Edwin "Daddy" Edwards, o clarinetista Larry Shields e o pianista Henry Ragas. Apesar de ser talentoso e se mostrar um autêntico visionário, LaRocca não era uma pessoa fácil. A banda, apesar de os integrantes terem rapidamente alcançado status de super astros, não durou muito, já que os músicos se desentendiam com o líder. LaRocca gostava de se considerar o verdadeiro criador do jazz, o que não correspondia exatamente à verdade.
Logo outro músico branco começou a fazer sucesso nacionalmente e recebeu o título oficial de “Rei do Jazz”. Era o bandleader Paul Whiteman. Incrivelmente popular, Whiteman deu uma cara comercial ao estilo e, por meio dele, a música começou a ser consumida de costa a costa nos Estados Unidos. Whiteman fazia um som sincopado, mas seus excelentes músicos não improvisavam e seguiam as partituras. Ele também fez história a ser o primeiro a gravar “Rhapsody in Blue”, de George Gershwin, que juntava a batida e harmonia do jazz a elementos de música sinfônica.
Com o sucesso da Original Dixieland Jass Band e de Whiteman, a “ Era do Jazz” era uma realidade. A década de 1920 marcou a explosão do cinema, do rádio e da comunicação em massa. Era também o inicio da indústria fonográfica, um tempo de velocidade e hedonismo, e o jazz era a trilha sonora adequada dos chamados Roaring Twenties. Os Estados Unidos viviam um tempo louco até que a Lei Seca e Grande Depressão colocaram um fim a tamanha euforia. Mas o jazz estava consolidado como a primeira manifestação de música popular moderna da história da humanidade. E quando Louis Armstrong e Duke Ellington, os verdadeiros inovadores do jazz, começaram a fazer sucesso, o jazz retornava ao seio de seus criadores, a comunidade afro-americana.
Muitos historiadores hoje enxergam nomes como Original Dixieland Jass Band e Paul Whiteman como meras curiosidades ou pés de página na história do jazz. Mas até o poderoso Louis Armstrong, em 1936, relatou em sua biografia Swing That Music a importância dos pioneiros que ajudaram a massificar o jazz: “Cerca de quatro anos depois que eu aprendi a tocar trompete em um reformatório em Nova Orleans, o primeiro grande conjunto de jazz foi formado na cidade por um cornetista chamado 'Nick' LaRocca. Era um quinteto, o grupo mais quente que eu já havia ouvido. Ele tinham um jeito diferente de tocar e uma instrumentação que deixava as canções novas em folha. Assim, ficaram famosos e entraram para a história da música.”
Ouça as primeiras gravações de jazz.
“Livery Stable Blues"
“Dixieland Jass Band One-Step”
Alfa Anderson, vocalista principal do Chic, morre aos 78 anos
Blake Lively se pronuncia sobre acusação de assédio contra Justin Baldoni
Luigi Mangione enfrenta acusações federais de assassinato e perseguição
Prince e The Clash receberão o Grammy pelo conjunto da obra na edição de 2025
Música de Robbie Williams é desqualificada do Oscar por supostas semelhanças com outras canções
Detonautas divulga agenda de shows de 2025; veja