Cerimônia teve apresentações e discursos memoráveis, além de reuniões musicais inesperadas
Andy Greene Publicado em 10/04/2017, às 14h43 - Atualizado em 12/04/2017, às 20h40
A cerimônia do Hall da Fama do Rock 2017, realizada na última sexta, 7, foi recheada de momentos musicais épicos. Steve Perry fez sua primeira aparição com o Journey em 26 anos (ainda que sem cantar); Geddy Lee, do Rush, tocou baixo com o Yes; Snoop Dogg se reuniu com um time de estrelas para fazer um tributo emocionante ao rapper Tupac e o Pearl Jam fez a primeira apresentação com a formação original da banda desde 1991.
Foi o apresentador de TV David Letterman, o único profissional presente no palco a não trabalhar com música, quem melhor definiu o sentimento da noite. “Nos ensaios, lembrei do presente que é poder ver shows ao vivo”, confessou ao apresentar o Pearl Jam. Letterman substituiu o músico Neil Young, que ficou doente e teve que ser substituído nessa função.
O sentimento descrito pelo apresentador podia ser percebido na multidão que encheu a arena Barclays Center, em Nova York - principalmente na legião de fãs do Pearl Jam, que gritava toda vez que as câmeras focavam Eddie Vedder, vocalista da banda. A enorme quantidade de fãs da banda ficou evidente desde o momento em que o Jann Wenner, organizador do Hall da Fama do Rock, iniciou a frase de apresentação da banda e teve que esperar os gritos que aclamavam o nome do vocalista cessarem para que pudesse terminá-la. Esse foi o começo de uma noite cheia de surpresas - a antítese da edição do ano passado, que teve o depoimento crítico de Steve Miller sobre a indústria da música como seu momento mais memorável.
Quando a multidão finalmente parou de gritar o nome de Vedder, Wenner falou sobre a recente morte de Chuck Berry, o primeiro apresentador do Hall da Fama. “Se não fosse por ele, não estaríamos aqui”, disse. “Ele é o pai, o criador do rock & roll. Ele foi o primeiro a escutar e a colocar a poesia do homem comum em acordes de guitarra que marcariam todos os artistas do rock a partir de então”, completou Wenner.
Essa foi a deixa para que a Electric Light Orchestra começasse a noite com sua versão de 1973 de “Roll Over Beethoven”, de Berry. Jeff Lynne fez uma apresentação com um solo de guitarra e um vocal impecáveis, que teriam deixado Berry orgulhoso. O grupo ainda tocou “Evil Woman” e “Mr. Blue Sky”. Ainda não se sabe porque o tecladista Richard Tandy não se apresentou com a banda, apesar de ser uma peça chave da Electric Light Orchestra fazer parte da atual turnê.
Dhani Harrison, filho do ex-Beatle George Harrison, fez um discurso sobre a sua conexão com a Electic Light Orchestra. O artista falou sobre se lembrar de ver seu pai tocar pela primeira vez em um show da banda, e fez uma ligação com o presente citando sua presença na apresentação do grupo Hollywood Bowl, em Los Angeles, em novembro, logo após Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos. “Acredite em mim quando digo que olhava para a espaçonave deles pensando ‘me leve com vocês’. E não era o único. Vi crianças de 7 anos e idosos de 77, todos com o mesmo sentimento”, disse.
Depois de Harrison, foi a vez da artista Joan Baez pegar o microfone. Ela foi apresentada pelo músico Jackson Browne, que falou sobre seu papel no renascimento do folk e na luta pelos direitos civis. “Ainda que não se possa dizer que eu sou uma artista do rock, também não é possível negligenciar o poder da música folk dos anos 1960 e a imensa influência que ela teve na música popular - o que inclui o rock & roll”, afirmou Joan. “Ninguém pode questionar o papel que tive na construção desse fenômeno.”
Mudando significativamente o rumo da noite, Geddy Lee e Alex Lifeson, do Rush, foram responsáveis por apresentar a banda Yes. Lifeson admitiu ser fã da banda quando adolescente. “Eu passava horas escutando músicas como ‘Starship Trooper’ e ‘Yours Is No Disgrace’. Elas me tornaram um músico melhor e isso me permitiu estar aqui para homenagear essa banda”, comentou.
O Yes passou a última década com problemas entre os integrantes, mas tudo isso foi posto de lado durante a noite, ainda que o tecladista Tony Kaye não tenha se apresentado por problemas de saúde. Todos fizeram discursos emocionantes, mas o também tecladista Rick Wakeman roubou a cena ao transformar sua fala em um quadro de “standup comedy”, fazendo piadas que falavam desde sobre sua família até sobre exame de próstata.
Os fãs do Yes passaram anos se perguntando o que aconteceria quando o grupo se apresentasse no Hall da Fama, pelas inúmeras desavenças entre seus músicos. Mas a apresentação foi menos complicado do que o imaginado. A falta de Bill Bruford e de Tony Kaye, baterista e tecladistas da formação original do grupo, respectivamente, fez com que Alan White e Rick Wakeman fossem escolhidos para o show. Os integrantes que completaram a banda na noite foram Geddy Lee (baixo), Steve Howe (guitarra/baixo) e Trevor Rabin (guitarra).
O show foi seguido pela aparição de Snoop Dogg, que foi quem anunciou o tributo ao seu amigo Tupac Shakur, o primeiro rapper a entrar para o Hall da Fama. Por Tupac não ter filhos ou pais vivos, Dogg foi quem recebeu o prêmio por ele. O rapper também se uniu a Alicia Keys, T.I., YG e Treach para apresentar um medley de músicas de Tupac, com as faixas “Dear Mama”, “Changes”, “Hail Mary” e “I Get Around”. Veja aqui mais sobre os tributos ao Tupac e ao Prince que aconteceram no evento.
Pat Monahan, do Train, foi o próximo apresentador. Ele chamou o Journey, que, nos últimos meses, foi alvo de especulações sobre o status de seu ex-vocalista, Steve Perry. Ele não havia se apresentado com o grupo desde um show em tributo a Bill Graham em 1991, e não se ouvia nada mais sobre o cantor desde sua aparição surpresa no Hall da Fama de Hollywood, em 2005. Havia rumores de que Perry finalmente iria cantar com o Journey no Hall da Fama, ainda que ambos os lados negassem.
As esperanças de uma reunião cresceram quando Perry entrou no palco, abraçou o guitarrista Neal Schon e falou carinhosamente sobre ver a banda depois de tanto tempo. Em seu discurso, o músico mencionou até mesmo Arnel Pineda, atual vocalista do Journey, que foi escolhido em 2008 por cantar exatamente como Perry. “Eu devo dar meus sinceros parabéns a alguém que sempre canta com o coração. E esse alguém é Arnel Pineda”, disse.
Houve muita tensão quando Perry terminou seu discurso. A banda desapareceu por longos minutos. Quando voltaram ao palco, intensificaram o sentimento ao tocarem uma longa introdução para “Separate Ways” sem vocalista. A multidão gritava por Perry, e se perguntava se ele realmente ficar no backstage enquanto tocavam sua música.
E foi exatamente isso que aconteceu. Pineda apareceu com a difícil missão de liderar o Journey após a multidão gritar enlouquecida por Perry. O desafio parecia motivá-lo, e esse tom de inspiração foi o que comandou a apresentação de “Separate Ways” e “Lights”. O músico tocou com o Gregg Rolie (teclado/vocal) e Aynsley Dunbar (bateria), ambos da formação original da banda. A inevitável “Don’t Stop Believin’” foi a música de encerramento do show, que paradoxalmente deixou os fãs do Journey sem acreditar que uma completa reunião da banda seja possível.
Finalmente, chegou a hora do Pearl Jam. Neil Young não conseguiu ser o anfitrião da da banda por problemas de saúde, mas David Letterman aceitou rapidamente o convite. O apresentador pode não ter a mesma conexão que Young tem com o grupo, mas, ainda assim, fez um discurso impressionante com momentos engraçados e críticos. “Em 1994, esses jovens homens arriscaram suas carreiras ao desafiar a indústria da música” disse, citando o ano em que a banda cortou a participação da empresa de ingressos Ticketmaster em sua turnê. “E por terem feito isso, hoje, todos os ingressos nos Estados Unidos são grátis”, explicou.
Letterman finalizou seu discurso ao ler um bilhete que Eddie Vedder deu ao seu filho caçula, Harry, junto com um pequeno violão depois de uma apresentação em seu programa em 2015. “Vamos fazer um negócio. Se você aprender pelo menos uma música nesse violão, te arrumo um melhor e maior pro seu aniversário. Talvez até uma guitarra. Tocar é mais ou menos como pescar. Só que ao invés de peixes, você pega músicas. Boa sorte, Harry, em tudo.” escreveu Vedder.
Todos os integrantes do Pearl Jam fizeram discursos emocionantes, falando sobre suas famílias e sobre suas influências musicais. “Eu quero agradecer ao Red Hot Chili Peppers e por muitas outras bandas por terem me inspirado”, disse o guitarrista Mike McCready. “Cheap Trick, Queen, Bowie, Hendrix, the Stones, Beatles, UFO, Kraftwerk, the Ramones, Brandi Carlile, the Kills, Social Distortion, Muddy Waters, Sex Pistols, the Clash, e minha nova banda favorita, Thunder Pussy", enumerou o músico.
Eddie Vedder falou por último. “Eu escutei música durante todos os dias da minha vida”, contou. “E, muito disso aconteceu em apartamentos minúsculos, onde eu vivi com a minha família. E minha mãe era ótima. Ela nunca disse para eu desligar o rádio. Na verdade, ela acabava sendo fã das bandas que eu escutava o dia inteiro”, confessou. Vedder também agradeceu a todos os ex-bateristas do Pearl Jam, inclusive Dave Abbruzzese, que ficou extremamente chateado por não ter sido chamado para a apresentação e que está afastado do grupo desde 1994.
O show da banda começou com uma versão feroz de “Alive”, com Dave Krusen na bateria - sua primeira apresentação ao vivo com o grupo desde o disco Ten (1991). Matt Cameron ficou no comando da bateria em “Given to Fly” e em “Better Man”, que teve toda a arena cantando. Ainda que Young não tenha aparecido, o Pearl Jam finalizou sua apresentação seu clássico “Rockin’ in the Free World”, com a participação de renomados convidados que passaram pelo palco durante a noite, como Geddy Lee, Alex Lifeson, Neal Schon, Trevor Rabin, Dhani Harrison, Jonathan Cain e Jack Irons, que dividiu a bateria com Matt Cameron.
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