Harry e Hermione: a relação de amizade deles se estreita ainda mais - Reprodução

Fim sem apoteose

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 mostra um lado mais sombrio e maduro da cinessérie, mas peca por deixar todo o clímax para a Parte 2

Por João Papa Publicado em 19/11/2010, às 12h19

Quando, há dez anos, deram para o cineasta Chris Columbus a tarefa de adaptar Harry Potter para os cinemas, ninguém imaginava quais seriam os rumos que a cinessérie tomaria. Escolha compreensível na época, o diretor de Esqueceram de Mim e roteirista de Os Goonies, criou para Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro dos sete livros da série da escritora J.K. Rowling, um mundo infantil e pouco imaginativo. Posto lado a lado com este As Relíquias da Morte, que estreia nesta sexta, 19, é difícil dizer que os filmes fazem parte da mesma saga.

VÍDEO: Matthews Lewis, que interpreta Neville Longbottom na franquia, fala sobre Harry Potter e as Relíquias da Morte

Abandonando a paleta de cores quentes e reconfortantes que sempre foi onipresente na série graças à iluminação à luz de velas de Hogwarts, As Relíquias da Morte - Parte 1 possui um visual de tons acinzentados e azuis, o que auxilia o aumento da sensação de que o mundo não é mais um lugar seguro. É curioso notar a opção do diretor de fotografia, o português Eduardo Serra, de, pela primeira vez em toda a série, trabalhar com uma imagem mais granulada em diversos momentos. Merece destaque também a utilização da câmera na mão, tão comum em produções nacionais como Cidade de Deus ou Tropa de Elite. Aqui, porém, esse elemento surge em momentos de conflito emocional, enquanto as batalhas continuam recebendo o tratamento épico de sempre.

A fotografia, inclusive, é um dos grandes atrativos do filme. Ambientada em locações da Grã-Bretanha, a obra é recheada de paisagens belíssimas, sejam montes cobertos por grama verde ou florestas com neve por toda parte. E apesar de o filme respirar por conta das paisagens abertas, em momento algum se retira a sensação de que o trio principal (Emma Watson, Daniel Radcliffe e Rupert Grint, na pele de Hermione, Harry e Ron, respectivamente) está sendo perseguido ou correndo perigo.

Voldemort aparece também pela primeira vez fora da clandestinidade. Ralph Fiennes, que vive o personagem, parece, como nunca antes, estar se divertindo no papel ao trazer para sua atuação uma tranquilidade e serenidade que, apesar de aparentemente não condizerem com o que se espera do vilão, servem para deixá-lo mais assustador. Se Voldemort está feliz, algo não vai bem.

Apesar dos avanços narrativos, técnicos e visuais, o filme escorrega em diversos momentos. Na primeira parte deste último capítulo (Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 chega aos cinemas em julho de 2011), por exemplo, a Poção Polissuco apenas altera o corpo de quem a toma, mantendo a voz original do personagem, o que não só tira todo o sentido da mágica como também desrespeita a lógica interna da série, já que nos filmes anteriores ela agia de forma diferente.

Mas o escorregão maior fica mesmo por conta da divisão da história em dois filmes. Não que o problema esteja aí, pelo contrário, já que nunca antes tantos elementos do livro foram pra tela. Mas esta primeira parte termina sem terminar. O filme chega ao fim sem uma grande batalha, sem um desfecho, por menor que seja, sem uma catarse.

As Relíquias da Morte é, sem dúvidas, o capítulo mais maduro da série, e não deixa de ser emocionante a constatação de que é o último, e de que vimos esses personagens crescerem diante das câmeras. Mas, infelizmente, esta primeira parte sofre do mal maior que qualquer história que é contada em capítulos pode sofrer: ao fim, em vez de trazer prazer pelo bom filme, deixa apenas a frustração da espera pelo próximo. Nada que uma futura sessão dupla não resolva, já que só assim será possível realmente aproveitar esta primeira parte, o início do fim de uma das sagas literárias e cinematográficas de ficção mais bem sucedidas de todos os tempos.

Veja, abaixo, o trailer legendado do filme:

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