- Tainá Müller como Verônica Torres em Bom Dia, Verônica (Foto: Divulgação/Netflix)

A história escondida por trás da trilha sonora de Bom Dia, Verônica [ENTREVISTA]

Dado Villa-Lobos refletiu sobre o processo de curadoria e composição da trilha da série de suspense da Netflix

Redação Publicado em 13/11/2020, às 07h00

Bom Dia, Verônica chegou ao catálogo da Netflix em 1º de outubro com uma história pesada, gráfica e inquietante. Na série brasileira, a escrivã Verônica Torres (interpretada por Tainá Muller) decide investigar casos envolvendo mulheres agredidas e acaba encontrando uma grande rede de corrupção.

As atuações incríveis de Muller, Camila Morgado e Eduardo Moscovis viciaram o público no suspense de oito episódios. A partir da perspectiva da protagonista, somos infiltrados em tramas angustiantes e colocados no ápice da exaustão emocional a cada capítulo.

Todo o tom misterioso e obscuro da produção é resultado de alguns elementos, entre eles a trilha sonora. Assinada por Dado Villa-Lobos e Roberto Schilling, ela é repleta de clássicos da música brasileira. Enquanto se mantiveram fiéis aos sons originais de algumas faixas, os criadores também tiveram a liberdade de transformar algumas canções e trazê-las para uma nova abordagem e para o contexto ousado do seriado.

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Dado Villa-Lobos refletiu sobre o processo de curadoria e composição da trilha. 

Villa-Lobos comenta como o diretor José Henrique Fonseca, da Zola Filmes, o chamou para participar do projeto. Depois de ver a história e o roteiro da série, o músico entrou em contato com Raphael Montes (criador do livro e do seriado ao lado de Ilana Casoy) e assim começou a jornada de imaginação e consolidação da trilha. 

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Junto a Schilling, eles teceram a sonoridade policial e rasgante da produção, além de produzirem versões alternativas e incidentais. Villa-Lobos e Schilling, trabalham há anos juntos e produziram diversas trilhas em conjunto.

Dessa vez, eles passaram a maior parte da criação afastados, já que Schilling se encontrava em Los Angeles enquanto Dado ficou no Rio de Janeiro, mas a sintonia da dupla continuou inabalável. Villa-Lobos disse: "A gente passou uma semana juntos no estúdio lá no Rio, onde demos um gás. Aí ele foi para Los Angeles e ficávamos trocando ideias".

Especialmente para Bom Dia, Verônica, o guitarrista enfatizou como a sonoridade é "basicamente 80% de sintetizadores", com o uso perspicaz de sequenciadores "misturados com guitarras, texturas de sons". Isso decorreu em parte da busca de inspirações na música eletrônica. O artista Jon Hopkins, por exemplo, foi citado por Villa-Lobos como uma das principais referências.

O processo de apuração e criação da trilha começou em 2019, como relembra Dado: "Antes mesmo do pessoal começar a filmar, já estava pensando em temas a partir do momento que lia o roteiro".  O artista continuou e explicou como eles catalogavam as músicas entre os personagens e o contexto emocional deles. Assim, eles avaliavam como cada faixa "te induzia a uma coisa mais intimista ou uma coisa mais de ação".

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Villa-Lobos também descreveu: "O diretor-geral tinha uma ideia do que ele queria da música, então a gente vai juntando esse quebra-cabeça, esses personagens, a história. Fomos trabalhando a partir do momento em que os episódios iam chegando. A gente ia entendendo de fato onde cada tema ia servir". Villa-Lobos revela que eles formaram centenas de temas, e usaram quase metade deles na série. O processo foi intenso, mas como começaram com antecedência, puderam entender e prosseguir com a produção com calma.

Pela trama de Bom Dia, Verônica, Villa-Lobos e Schilling deram o foque para artistas mulheres. A lendária Elza Soares aparece na trilha com a faixa "Maria da Vila Matilde", que, segundo o guitarrista, "se encaixa na narrativa e na dramaticidade da cena".

A canção é revelada tanto em um dos episódios como no próprio trailer da série. A letra visceral de "Maria da Vila Matilde", que fala sobre violência doméstica, retrata a vida de Janete (Camila Morgado) - vítima de Brandão (Eduardo Moscovis) - e de Verônica - que tenta buscar justiça para mulheres abusadas e torturadas:

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"Cadê meu celular? Eu vou ligar prum oito zero/Vou entregar teu nome e explicar meu endereço/Aqui você não entra mais/Eu digo que não te conheço/E jogo água fervendo se você se aventurar/'Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim."

Villa-Lobos também comentou sobre a nova versão de "Índios" criada para o seriado. Eternizada pelo Legião Urbana na voz de Renato Russo, agora o áudio alternativo é comandado por Letrux. Como o guitarrista recorda, a artista aceitou participar da faixa em meio ao começo da pandemia no Brasil.

A nova "Índios" é revelada no último capítulo, em uma das cenas mais emocionalmente pesadas e libertadoras da produção. "Ela [Verônica] perdeu tudo. [Escolher essa música] foi uma boa sacada e encaixou bem com a história da personagem", disse Dado.

Na trilha totalmente brasileira, também encontramos outras músicas famosas. "É o Amor", de Zezé Di Camargo e Luciano, "Coração Selvagem", de Belchior, "Muito Estranho (Cuida Bem de Mim)", de Dalto, "Cabeça Dinossauro", dos Titãs e "Temporal", do Art Popular, são as outras canções que compõem a trilha oficial. 

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Em conjuntos aos incidentais, as faixas traduzem as emoções e angústias dos personagens e constroem cenários desde os mais leves até os mais sombrios e assustadores. Villa-Lobos detalha sobre a importância da composição sonora: "A música tem essa função de dar uma empurrada na cena ou de colocar a cena em um lugar determinado".

Ele completou: "A música sempre está ali pontuando a cena, o emocional da cena. Ela deixa a coisa acesa, com mais vida".

Ao refletir sobre todo o processo e história por trás da produção da trilha, Villa-Lobos enfatiza: "Foi uma das primeiras vezes que fiquei realmente bem satisfeito com o resultado final".

Ouça à trilha sonora oficial da série Bom Dia, Verônica


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