Mais uma trama teen do que uma jornada de herói, novo filme do Aracnídeo tem momentos brilhantes quando quer
Pedro Antunes Publicado em 07/07/2019, às 16h11
Tom Holland é, de fato, o melhor Homem-Aranha - me desculpe, Tobey Maguire, mas seus bons momentos foram tão grandes quanto os problemas nos filmes de Sam Raimi. Melhor do que um ótimo Aranha, Holland é um excepcional Peter Parker.
Já em cartaz no Brasil, Homem-Aranha: Longe de Casa pode ser incrível, justamente quando todo o contexto - roteiro, fotografia, direção e atores - entende que não se trata de "um filme de super-herói". Nem tenta empurrar esse conceito goela do público abaixo.
Quando se prende às ideias pré-fabricadas, como a jornada para enfrentar o personagem vilanesco da vez e salvar o mundo, Homem-Aranha: Longe de Casa é simplório. Pior, é fraquinho e óbvio.
É claro, era uma história difícil de estabelecer. Onde e como estaria Peter Parker/Homem-Aranha depois dos acontecimentos dos dois mais recentes filmes dos Vingadores, Guerra Infinita e Ultimato?
Ele, que era um guri ainda verde nas artes "heróicas" na estreia em Capitão América: Guerra Civil e no seu primeiro filme solo, De Volta ao Lar, precisou lidar com assuntos grandes demais para seus poderes de aranha.
O Amigão da Vizinhança encarou algumas das figuras mais fortes do universo, como Thanos, como levá-lo de volta aos problemas mundanos, com assaltantes de carteiras pouco qualificados das ruas de Nova York?
O personagem que faz o vilão de Longe de Casa não passa de um pretexto para algumas cenas de ação dentro de um longa maior o que isso. O novo Homem-Aranha não é um filme sobre um herói, é sobre um adolescente, a descoberta do amor e a perda de alguém que era como uma figura paterna para Parker.
A história de Peter Parker é trágica nesse sentido. Ele perdeu os pais ainda bebê, foi criado pelos tios, Ben e May. Ben morre e Parker fica sem essa figura paterna até a chegada de Tony Stark. Nos cinemas, o personagem de Robert Downey Jr. se torna um mentor para o jovem Parker. Perdê-lo ao final de Vingadores: Ultimato foi outra bofetada enviada pela vida diretamente nas bochechas do herói.
Mais adolescente do que nunca, Parker se entende melhor como Homem-Aranha aqui, mas não tem ideia de como ser o Peter. É bonita essa jornada. As dúvidas expressadas nas caras e caretas de Holland são fantásticas, assim como é elogiável o desempenho dos seus parceiros de cena, Zendaya (como M.J.) e Jacob Batalon (Ned), ambos brilhantes.
Não tivesse surgido uma ameaça global durante a excursão de Peter Parker e outros colegas da escola pela Europa, Longe de Casa seria um divertido road movie teen, com as descobertas desses jovens no primeiro flerte com a vida adulta, independente, distante dos pais.
Mas Parker não é só um garoto com um crush e mil e uma dúvidas, é também um herói alçado ao primeiro escalão depois que os Vingadores venceram Thanos no filme Ultimato e se desmantelaram (Capitão América "desapareceu" em uma viagem no tempo, Thor saiu do planeta com os Guardiões da Galáxia, o Homem de Ferro...snif… você sabe).
É interessante perceber como é a relação de Parker com seu alter-ego herói. Sempre foi, nos quadrinhos, sua benção e sua maldição. As crises que o herói sempre viveu não se resumem a monstros enormes e poderosos, mas, sim, como estar perto daqueles que ele ama sem colocá-los em risco.
Peter Parker sempre cedeu em favor do Homem-Aranha. É um dos mais trágicos heróis das HQs por isso - mesmo que seus diálogos engraçadinhos nos momentos de aperto encubram esse aspecto. As outras versões do personagem na tela, com Tobey Maguire e Andrew Garfield, até tentaram assumir essa faceta, mas só arranharam a superfície.
Homem-Aranha: Longe de Casa é aquele que mais se aproxima desse embate Parker x Homem-Aranha, em uma trajetória bonita, mas que infelizmente não acaba aí.
Com dois primeiros arcos bastante vacilantes e um terceiro e último brilhante, Homem-Aranha: Longe de Casa sofre por ser um "filme intermediário".
Previsto para integrar uma trilogia, a segunda aventura da série não consegue ser um filme individualmente consistente. Ele só existe por conta de Vingadores: Ultimato e Homem-Aranha: De Volta ao Lar e nos prepara para a terceira aventura de Holland em um filme solo do Aracnídeo.
Mas, em contrapartida, ele aponta um novo caminho. Um "filme de super-herói" não precisa mais ser conduzido por uma aventura desses personagens fantasiados e com poderes especiais.
Há também muito espaço para o outro lado, para os dilemas de quem está por baixo dessas roupas espalhafatosas e frases de efeito.
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