Lenine - Divulgação / Marcelo Lyra

“Homenageio o frevo a minha vida toda”, diz Lenine sobre o ritmo que tomou as ruas no primeiro dia do carnaval do Recife

Primeira noite teve participações de Luiza Possi, Fafá de Belém, Emílio Santiago, Roberta Sá, Otto, Lia Sophia, Ylana Queiroga, Tibério Azul, Márcia Castro e Elba Ramalho

Pedro Antunes, do Recife Publicado em 09/02/2013, às 09h38 - Atualizado às 20h15

“Quero sentir a embriaguez do frevo / Que entra na cabeça / depois toma o corpo e acaba no pé”. Os versos do frevo-canção “Voltei, Recife”, de Luiz Bandeira, cantados de forma emocionada por Lenine, representaram toda a primeira noite no principal palco de shows do carnaval do Recife, nesta sexta-, 8, no Marco Zero, onde o festejado era o frevo, que recebeu homenagens musicais das 20h até 1h de sábado.

São os bons filhos do frevo, que direta ou indiretamente, foram embriagados pelo ritmo gostoso, contagiante e, claro, dançante que toma conta das ruas da cidade durante o carnaval todos os anos. A alegria e os sorrisos da multidão que se reuniu no Marco Zero provou que o gênero está vivo e pulsando forte, desde as raízes, com os músicos locais, até as pontas, representadas por artistas que não são pernambucanos, mas são tomados pela agitação do ritmo.

Lenine, um dos grandes filhos pródigos a retornar, exibia um sorriso enorme minutos antes de subir ao palco do Marco Zero. Não só pelo show desta sexta, mas por tudo que o carnaval representa para a sua musicalidade. “A homenagem é legal”, diz ele, sobre a proposta de se festejar o frevo, que recentemente foi nomeado patrimônio mundial pela Unesco. “Homenageio o frevo a minha vida toda. Eu fui criado nisso, nesses focos sazonais. As pessoas começam a se mobilizar com o carnaval, com os blocos, mas isso tem no Brasil todo, de uma maneira geral. Não é só uma homenagem ao frevo, isso tudo tem muito significado para o brasileiro.”

A pluralidade de atrações do carnaval do Recife, para Lenine, é o grande barato. Não há distinções de ritmos e gêneros. Todos ali, como Luiza Possi, Roberta Sá, cantoras que não têm tradição no ritmo, caíram na dança tanto quanto os músicos locais. “O carnaval do Recife se transformou numa janela. Para conhecer um pouco da produção musical do Brasil contemporâneo, é só vir para cá”, complementa Lenine.

A festa, que começou oficialmente às 19h, com uma grande homenagem ao percussionista Naná Vasconcelos, e uniu as batidas das dez nações do maracatu, voltou-se ao frevo já sob o comando do Maestro Spok e a Frevo Orquestra, com a instrumental “Frevo Sanfonado”, quando o relógio já passava das 22h. O show trouxe 14 artistas, de diferentes raízes, como Otto, Armandinho, Emílio Santiago, Fafá de Belém, Beto Ortiz, Tibério Azul e Ylana Queiroga.

Fafá foi responsável pelo primeiro momento mais barulhento da noite. Vestida com uma fantasia de carnaval, que deixava as pernas de fora e ostentava enormes plumas, ela cantou “De Chapéu de Sol”, antes de chamar Emílio Santiago, e, juntos, eles entoaram um pot-pourri de frevos de Antônio Maria, grande poeta e compositor pernambucano.

“O frevo é importante para a formação cultural de todo o Brasil. O Carnaval de Recife se manteve autentico”, disse a cantora, à Rolling Stone, minutos depois de sair do palco e posar para fotos com fãs. “É uma festa que abre as portas, mas não se violenta, não cria pirotecnia. Gravo artistas pernambucanos desde o meu primeiro disco. E, cada vez mais, esses autores são buscados. Pernambuco não se esquece dos seus filhos e este é um exemplo para todo o Brasil”, disse.

Emílio, que saiu logo depois, fez coro à companheira de palco. Ele, um marinheiro de primeira viagem, escorregou um pouco para acompanhar o ritmo frenético do frevo. “Estou fazendo o meu debute e tenho o maior carinho”, disse ele. “Espero que da próxima vez eu esteja mais relaxado. O frevo é raríssimo. Não se vê em nenhum outro lugar do mundo. É como o samba-enredo, que exige uma técnica muito grande.”

O encerramento foi catártico, ao som de “Frevo Mulher”, quando Elba Ramalho e Maestro Spok chamaram todos os artistas para subir ao palco do Marco Zero. Numa euforia generalizada, o público gritava e dançada, como se fosse a última noite de carnaval. Que nada, a folia está apenas começando.

A festa, nesta sexta, acabou mais cedo, justamente porque no sábado, 9, o Galo da Madrugada tem inicio desde às 5h, com clarinadas. O grande bloco formado pelo Galo, uma das manifestações culturais do carnaval recifense, reúne até 2 milhões de pessoas que pulam o carnaval a partir das 9h, até o fim da tarde.

No palco do Marco Zero, a noite será tomada pela Orquestra do Maestro Edson Rodrigues, às 21h, e depois por Siba (22h30), Zélia Duncan (0h) e Lenine (2h).

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