Conversamos com editores, lojistas e artistas para traçar um panorama e selecionamos o melhor do que vem por aí
Ramon Vitral Publicado em 18/07/2015, às 12h53
Uma revolução silenciosa e discreta vem sendo arquitetada no mercado dos gibis nacionais: há uma efervescência criativa por parte de autores e editores brasileiros, lojistas veem suas estantes cada vez mais abarrotadas de obras escritas originalmente em português e eventos fazem crescer o público leitor.
O segundo semestre de 2015 começa com ainda mais movimentação nesse cenário, algo testemunhado por Douglas e Daniela Utescher, sócios na loja e editora Ugra Press. O conceito da empresa surgiu em 2009 como um projeto de pós-graduação do empresário. Mais tarde veio a loja online, acompanhada das primeiras publicações próprias. Em 2015, além da quarta edição do encontro Ugra Zine Fest, a ser realizado em setembro, no Centro Cultural São Paulo, eles lançarão uma coleção chamada Ugrito. Cada volume da série bimestral será dedicado à carreira de um quadrinista, com espaço tanto para novatos quanto para veteranos.
“Está todo mundo nessa pegada, fazendo. Dá a sensação de um boom, de que tem alguma coisa acontecendo. Mas o que é? Ninguém sabe. Não sei o que é isso”, tenta analisar o editor Douglas Utescher sobre essa agitação na produção brasileira. O surgimento de novas editoras, a publicação de projetos autorais independentes e a atuação conjunta de artistas são alguns dos elementos dessa movimentação.
Um exemplo é o coletivo paulista Dead Hamster, do qual Davi Calil é um dos autores. No segundo semestre, pelo selo independente, ele lançará a HQ Uma Noite em L’Enfer, inspirada no clássico Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo (1831- 1852). “Passei a ver amigos que trabalham com animação e ilustração migrando para os quadrinhos já com um estilo profissional”, diz o artista.
Além da produção independente, Calil será o responsável pelas cores da graphic novel Turma da Mata, da Mauricio de Sousa Produções. Com lançamento previsto para setembro, o gibi terá roteiro de Artur Fujita e desenhos de Roger Cruz, outros dois membros do Dead Hamster. Iniciada em novembro de 2012, a série Graphic MSP é um blockbuster dos gibis nacionais, com vários artistas independentes trabalhando com personagens criados pelo pai da Turma da Mônica. Também há casos inversos ao de Calil. Há mais de 20 anos produzindo para as editoras Marvel e DC nos Estados Unidos o paraibano Mike Deodato é sucesso de vendas no exterior por suas ilustrações em revistas protagonizadas por personagens como Vingadores, Homem-Aranha e Wolverine. Em julho ele lança Quadros, coletânea de contos autorais em quadrinhos publicada pela jovem editora Mino, com apenas quatro títulos em seu catálogo. “Está aparecendo um público novo, e a tendência é aumentar”, afirma Deodato. “Quadrinho nunca vai ter aquele prestígio que tinha no passado, mas o que tinha de perder de leitor já perdeu. Agora, só tem a melhorar.”
A trajetória da publicitária Luciana Foraciepe no mundo dos quadrinhos ecoa esse crescente interesse do público pelas HQs nacionais. Responsável pela página do Facebook Maria Nanquim, com mais de 52 mil “curtidas”, ela viu os mil exemplares de sua primeira empreitada impressa se esgotarem em menos de um ano. A coletânea Xula reúne trabalhos produzidos por Bruno Di Chico, Bruno Maron, Calote e Ricardo Coimbra e foi um dos títulos mais celebrados pela crítica especializada em 2014. A continuação da obra está prevista para sair entre setembro e outubro deste ano.
“Quando contei para o meu pai que imprimimos mil, ele me disse que não venderíamos tudo nunca. Aí esgotou e ele disse: ‘Também, só imprimiram mil...’”, brinca Luciana. “Os quatro caras são muito bons, era difícil dar errado. E também tem o fato de ter sido feita por amigos, sem nenhuma pretensão, com o único objetivo de divertir o leitor. O que eu quis com a Xula foi lançar uma revista de HQ que eu mesma gostasse de ler.”
Fundada em 1989, a Itiban Comic Shop, em Curitiba, é uma das lojas especializadas em quadrinhos mais antigas do Brasil. Proprietária do estabelecimento, a empresária Mitie Taketani diz ser explícita essa movimentação atípica no mundo dos gibis brasileiros.
“Surgiu uma geração de quadrinistas que aprendeu a fazer tudo sozinha, com a ajuda da tecnologia. Eles criam, desenham, editam, imprimem e vendem, como na época dos fanzines, só que agora com mais preocupações estéticas e experimentações no formato. Tem muita coisa excelente por aí, embora também tenha muito lixo. As opções são diversas e o mercado cresceu muito. Ainda assim, é um mercado novo, estamos todos aprendendo.”
Outros fatores que tanto incentivam quanto expõem o crescimento desse segmento no Brasil são dois grandes eventos agendados para os últimos meses de 2015. O Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte será realizado pela nona vez, entre os dias 11 e 15 de novembro.
Na mais recente edição, em 2013, o público foi de 148 mil pessoas. E entre os dias 3 e 6 de dezembro será a vez da segunda edição da Comic Con Experience, em São Paulo.
Sócio-fundador do evento paulistano, Ivan Freitas da Costa acredita que o escopo maior desses encontros, mesclando diferentes campos da cultura pop, é um ponto positivo. “Eventos como a Comic Con Experience, que atraem diferentes públicos – de quadrinhos, games, cinema, TV, cosplay –, servem para que o fã que vai ao evento seja apresentado a outras áreas e possa, assim, conhecer coisas novas e ampliar seus interesses”, diz Costa. “E soma-se a isso o fato de que ler quadrinhos passou, hoje, a ser cool.”
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