Imagem da versão live-action de <i>A Bela e a Fera</i> - Reprodução

A Bela e a Fera é uma experiência agradável, mas sem muito carisma

O filme vale pela interpretação encantadora de Emma Watson e pelos números musicais

Paulo Cavalcanti Publicado em 15/03/2017, às 18h42 - Atualizado em 17/03/2017, às 19h42

A animação A Bela e a Fera, baseada na história criada em 1740 pela autora francesa Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, tornou-se um marco na história dos estúdios Disney. Lançada em 1991, foi um enorme êxito de bilheteria e sua excelência artística até fez com que a produção se qualificasse a concorrer na categoria Melhor Filme, fora da categoria animação.

As crianças do começo da década de 1990 se tornaram adultos e vão querer que os filhos repitam a experiência por meio desta versão live action do amado desenho. Depois de Cinderella (2015) e Mogli – o Menino Lobo (2016) terem ido bem, a tendência do estúdio é seguir dando uma versão em carne e osso aos antigos desenhos. Naturalmente, a essência original precisa ser mantida.

À frente da nova versão de A Bela e a Fera está Bill Condon, um diretor que sabe manter uma narrativa em curso estável. O desenho está lá intacto, cena por cena, diálogo por diálogo, assim como as canções clássicas do letrista Howard Ashman e do compositor Alan Menken. O mais importante é que a as motivações dos personagens também não foram alteradas.

A história todo mundo conhece: na França de séculos atrás, um príncipe arrogante é amaldiçoado por uma feiticeira e se transmuta em uma criatura grotesca, uma mistura de leão com touro. Ele vive isolado e precisa que alguém o ame de verdade para quebrar o encanto. Devido a complicadas circunstâncias,a escolhida é Bela, uma garota de alma livre que adora livros. Ela detesta o vilarejo provinciano onde mora e anseia por aventuras. De algo forma, mesmo prisioneira no castelo da Fera, ela se afeiçoa pela criatura e enxerga nela alguém tão carente e sonhador como ela.

Refazer um conto de fadas como A Bela e Feraa esta altura é um exercício de nostalgia, é claro. Mas o filme, se não oferece surpresas,no geral não ofende. O acabamento do longa poderia ser melhor, contudo. Os efeitos visuais são de segunda – os lobos são piores do que os da trilogiaCrepúsculo, pilotada pelo próprio Condon. A infâmia visual foi destinada à Fera. Dan Stevens, que sem o CGI e a maquiagem é uma versão britânica e genérica de Ryan Gosling, não tem muito a acrescentar. Soterrado em uma caracterização visual de segunda criada no computador, a Fera é um mero personagem de vídeo game –qualquer um poderia ter feito o papel.

Na pele da Bela, Emma Watson canta direitinho e se mostra encantadora trajando figurinos de época. Ela se sai melhor no começo, entoando, através de canções, diálogos internos sobre como quer ser livre e como a vida dela é chata. Posteriormente, quando interage com o futuro amor da vida dela, falta calor, humanidade e envolvimento, algo que a Bela animada tinha de sobra. A falta de carisma da protagonista também não ajuda.

Mas o filme tem coisas boas também. O visual do castelo da Fera é marcante, uma mistura dos estilos visuais do barroco e do gótico. Luke Evans se diverte fazendo o arrogante, narcisista e desagradável Gastão, o caçador que pretende se casar com Bela de qualquer jeito e que, no final, tenta linchar o rival peludo. A canastrice de Evans é contagiante. LeFou (Josh Gad), o atrapalhado ajudante dele, também é hilariante e rouba a cena. A dupla se esbalda no número musical “Gaston”, a ode ao vilão do filme.

Outro ponto alto no quesito musical é “Be My Guest”, interpretado pelos objetos da mansão, que no filme receberam as vozes de Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, Stanley Tucci e outros veteranos. A sequência é um delírio, um tributo aos antigos musicais. Nela, Condon cita de tudo, das criações caleidoscópicas do diretor e coreógrafo Busby Berkeleya um Gene Kelly todo molhado em Cantando na Chuva.

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