Sofia Coppola mostra a história dos adolescentes que roubavam casas de celebridades de forma fiel ao artigo que serviu de inspiração para o filme, mas sem o contexto complexo envolvido no caso
Stella Rodrigues Publicado em 16/08/2013, às 09h31 - Atualizado às 16h59
Talvez faça parte de um plano de metalinguagem maior, mas a impressão final deixada por The Bling Ring – A Gangue de Hollywood é de um retrato muito bem vestido, mas tão vazio de comentário social quanto a juventude obcecada por fama que Sofia Coppola retrata. Vazio no sentido de que, enquanto a diretora faz um trabalho excelente de recriar visualmente o ambiente de luxo, fama, riqueza e lifestyle que cerca os protagonistas, o vazio das ambições desses jovens reflete em um filme vazio na forma como conta a história, parecendo um retrato superficial. Tudo lembra um videoclipe pop: os cortes, “glamour shots”, belas moças dançando e desfilando em câmera lenta, declarações de reflexão duvidosa, um esbanjamento desavergonhado de fortunas, tudo isso intercalado com cenas que, de fato, desenvolvem a trama.
É um bom filme com uma boa história: um grupo de adolescentes de Calabasas, região abastada da Califórnia, resolve começar a roubar casas de celebridades com o apoio dos abundantes sites de fofoca que informam a todo momento onde e com quem estão os famosos. Mas não há qualquer justificativa mais convencional para os atos criminosos – eles, a princípio, não vendem as roupas e não estão em busca de objetos mais fáceis de trocar por lucro. A ideia mais sólida é a de usar a roupa da Paris Hilton/Lindsay Lohan/Megan Fox para ser essas pessoas. Ricas, famosas, bonitas, admiradas e com acesso a qualquer item de moda que elas possam querer. O núcleo principal do grupo é formado por Marc (Israel Broussard), que serve como uma espécie de compasso moral e fio condutor da história; Katie (Rebecca), a “líder da quadrilha”, uma garota louca por moda e filha de orientais aparentemente rígidos, mas ausentes; e Nicki (Emma Watson, o único rosto mais reconhecível do elenco, o que foi uma escolha interessante), uma garota cínica e interessada apenas em se divertir, filha de uma ex-modelo que atua como a típica mãe de miss. Todos jovens, bonitos, alguns com famílias perfeitamente estruturadas, o que os torna um bando com a homogeneidade necessária para que a coisa toda funcione, mas com questões pessoais variadas o suficiente (abandono dos pais, dificuldade em aceitar a homossexualidade) para que surjam os problemas.
De Lolita a Alex de Large, os desajustes da adolescência e a inaptidão da sociedade para lidar com eles já rendeu muitos livros e filmes memoráveis, com histórias reais e fictícias de descompensação psicológica muito mais aterrorizantes do que a dos jovens perdidos que vêem na fama um objetivo final de vida a ser conquistado. O grande trunfo do livro de Nancy Jo Sales – que escreveu o artigo Os Suspeitos Usavam Louboutins e, posteriormente, o desenvolveu no livro The Bling Ring – é que a autora vai fundo em pesquisas e análises de comportamento que destrincham e explicam as personalidades de Alexis, Nick e Rachel (os nomes reais de Nicki, Marc e Katie, respectivamente) e toda a cultura de obsessão à fama em que eles estão inseridos. É claro que livro e filme são veículos diferentes, com intenções e tamanhos diferentes. Mas talvez seja justamente na tentativa de ser quase 100% fiel ao livro que deixe o longa mais verídico, mas menos penetrante e mais pobre do que poderia ser em termos de verossimilhança. A base da estrutura é de: trecho de conversa sobre fama, seguida de sequência de assalto, seguida de cena de “estilo de vida dos ricos e famosos” (festas, música alta, drogas, roupas). Há duas partes no filme que não constam no livro e estas fazem um ótimo trabalho de estabelecer as personalidades e intenções dos protagonistas, mais do que alguns diálogos tirados literalmente da pesquisa de Sales, à qual Coppola teve acesso na íntegra.
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