A despedida deverá deixar sua plateia já conquistada feliz a aliviada, mas é um desfecho insosso para o público em geral
Stella Rodrigues Publicado em 15/11/2012, às 00h16 - Atualizado às 15h04
Existe um fator inegável jogando a favor da Saga Crepúsculo. A cada filme, conforme cresce o fanatismo, melhora o grau de tensão da história, evoluem as atuações e interações entre o elenco e aumenta o tamanho do orçamento da produção, os filmes melhoram tecnicamente. Além disso, os exageros do elenco na hora de se portar como vampiros diminuem; a falta de expressão facial de todos, inclusive de Kristen Stewart, documentada em um famoso Tumblr, se ameniza, e até parece crível a versão Popeye de Bella (Stewart), que tem a força física da vampira que ela passa a ser em A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2.
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O mesmo não se pode dizer da filha dela com Edward (Robert Pattinson), Renesmee. A garota, cuja existência é uma das motivações para haver a nova, melhorada e mais forte Bella, é também uma das coisas mais incômodas do filme. Faz parte da história a menina crescer em um ritmo que não obedece leis humanas e, na tentativa de dar feições de “Benjamin Button ao contrário” à ela, foi criado um bebê de computação gráfica com aspecto tão bizarro quanto a justaposição que dá nome à cria dos Cullen. A estreia do bebê de CGI, pelo menos, ganhou da estreia de Kristen em Crepúsculo, no quesito expressões faciais.
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Superado isso – até porque o bebê logo cresce e se transforma na bela garotinha de 12 anos Mackenzie Foy – tem a história. O filme não tem muita escolha a não ser seguir o padrão romântico supostamente inspirador escrito na obra de Stephenie Meyer que conquistou tanta gente. Basicamente, ao longo de toda a saga, tudo que precisamos saber é que a família é importante, o amor supera tudo e os íntegros se dão bem. Neste último capítulo, cabe aos Cullen reunir um grupo de íntegros da comunidade vampira para encarar os Volturi, temido clã que perseguirá a família de Edward e Bella por causa do nascimento da pequena deles, nem vampira, nem humana. Eles contam ainda com o sempre ponta firme (e até que menos descamisado do que o esperado) Jake (Taylor Lautner). Para recapitular, no final da Parte 1 o lobisomem fez um imprinting no bebê de Bella e Edward, o que quer dizer que agora tem um laço eterno com ela e estará sempre disposto a protegê-la.
Crítica: Primeira parte de Amanhecer esbarra na limitação da obra rasa de Stephenie Meyer.
Os fãs brasileiros vão gostar de saber que o país continua integrando a história nesta segunda parte. Em menor quantidade, é verdade, mas as referências ao país continuam bastante duvidosas e a sensação que dá, sem entregar muito, ao ver os “nativos brasileiros” que eles mostram, é que os figurinos foram adquiridos em alguma loja de atacado que vende fantasia para o dia do índio.
A caracterização superficial, contudo, combina com o grau de profundidade das personalidades e dos desfechos de cada trama, que temem ser polêmicos e trocam a oportunidade de serem bem escritos pela opção de agradar o coração ingênuo de garotas adolescentes. No mais, o que dá para contar da história é que Lautner não estava brincando quando disse em entrevista (leia aqui) que o longa seria cheio de surpresas. É verdade, mas é preciso lembrar que surpresas nem sempre são boas e expressões de incredulidade nem sempre são algo positivo.
Em termos de técnica, o filme tem uma trilha sonora excelente do renomado Carter Burwell, mas carrega ainda todas as características visuais mais batidas que eles puderam encontrar. Um exemplo disso - algo que não entrega muito da história - é o fato de que uma cena romântica, já piegas em si, é ambientada em um campo florido primaveril brega, cafona e quantos outros sinônimos para o adjetivo existirem na língua portuguesa.
A esta altura, a Saga Crepúsculo já conquistou todo mundo que tinha para conquistar. Já tem seu séquito de amantes incondicionais e de haters que não passam perto. E, ainda, daqueles que assistem para apontar falhas do tipo “ah, mas ele voa, deveria escapar facilmente dessa” (para estes, não vão faltar pelos para serem encontrados no ovo). Em Amanhecer – Parte 2, o diretor Bill Condon precisou fazer um longa inocente o suficiente para que a classificação indicativa não alienasse o público alvo da produção (fato que tornou a cena de sexo do filme um tantinho patética), curioso e autossuficiente para não alienar quem não está por dentro da cinessérie e, ao mesmo tempo, fiel e completo a ponto de matar a vontade desses fanáticos que alimentaram a máquina Crepúsculo todos esses anos com uma pré-disposição invejável a amar tudo relacionado a ela. São muitas características para um filme só.
Embora o longa tente se sustentar sobre as próprias pernas, não tem como tirá-lo desse contexto todo, trata-se de um desfecho de franquia e em poucos momentos funciona como um filme em si. Isso fica claro em uma duradoura e importante cena de ação que constitui uma das melhores partes do filme, mas é imediatamente seguida de uma sequência que vai dar razão a qualquer argumento proferido desde o primeiro lançamento de que a obra – livros e filmes – é incapaz de superar a água com açúcar.
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