Leandra Leal e Vladimir Brichta em <i>Bingo</i> - Divulgação

Bingo – O Rei das Manhãs é um filme nacional raro e merece ser visto nos cinemas

Protagonizado pelo irretocável Vladimir Brichta, filme conta a história de Arlindo Barreto, o intérprete do Bozo que caiu em uma espiral de sexo e drogas

Paulo Cavalcanti Publicado em 23/08/2017, às 19h14 - Atualizado às 19h17

A década de 1980, tão festejada em eventos temáticos, agora invade o cinema nacional com a estreia de Bingo - O Rei das Manhãs. Trata-se de uma ficção baseada na história do ator Arlindo Barreto, que encarnava o palhaço Bozo nas TVS, que mais tarde viria a se chamar SBT. Devido a questões de direitos autorais, o nome Bozo não pôde ser usado e, por isso, temos Bingo. Sem problemas: a história em si é bem real.

No lugar de Arlindo Barreto, vemos Augusto Mendes, personagem central da trama. Interpretado por Vladimir Brichta (em um trabalho que é uma verdadeira tour de force, uma atuação forte e frenética), Augusto é um ator que se vira fazendo pornochanchadas, um estilo muito popular nas décadas de 1970 e 1980. Divorciado e rodeado de mulheres, o artista vive bem. Mas ele quer ser levado a sério profissionalmente e assim sair do nicho, que é desprezado pela crítica. Depois de algumas reviravoltas, e querendo fazer parte de um projeto que tenha alcance nacional, ele é aprovado em um teste para viver na televisão um palhaço pertencente a uma franquia norte-americana. A produtora do programa é a evangélica Lucia (Leandra Leal), que não quer nada como o libertino, desbocado e irresponsável Augusto. Debochado e anárquico, o palhaço Bingo vira mania nacional e o programa bate a emissora concorrente, uma espécie de Rede Globo.

Entrevista: "Quis que fossem reconhecidas as angústias e a energia que Arlindo Barreto carregava naquele período", diz Vladimir Brichta

Bingo se torna uma celebridade, mas Augusto, o homem por trás da máscara, segue no anonimato. Devido a um rígido contrato, o artista não pode revelar sua verdadeira identidade. A frustração faz com que ele entre de cabeça em um turbilhão de drogas e bebida. A decadência vem rápida e ele se afasta de todos, especialmente do filho. O buraco está perto, mas a redenção vem por meio da presença de Lucia. E não se trata de spoiler: o filme ecoa a vida de Arlindo Barreto.

Bingo - O Rei das Manhãs é um filme nacional raro. Não retrata mazelas nem apela para bandeiras ideológicas. É uma obra que celebra os prazeres trash do passado, mas vai além. Claro, os quarentões e cinquentões que viveram a turbulência da década de 1980 vão adorar a recriação de época e as inúmeras referências ao período, além da evocativa trilha sonora. O trabalho do diretor Daniel Rezende é soberbo. Também montador (Cidade de Deus, Tropa de Elite 2, Diários de Motocicleta), ele entende bem que a narrativa precisa ser dinâmica e fluente. As sequências de comédia são rápidas e furiosas. As situações do programa do palhaço Bingo ecoam a urgência e o pique da televisão ao vivo. Quem piscar vai perder alguma coisa absurda acontecendo na tela. Na parte do drama, o filme também funciona bem. O final tem redenção, mas sem manipulações emocionais.

A força motriz de Bingo é atuação memorável de Brichta, que permanece quase o tempo todo na tela. A transição do anárquico Bingo para o pungente Augusto é feita de forma convincente e autêntica. Tanto por ele quanto pelo diretor e pelo elenco de apoio, Bingo - O Rei das Manhãs é um filme que merece ser visto nos cinemas.

cinema Drogas palhaço gretchen Vladimir Brichta cocaína bingo bozo

Leia também

Os Garotin ganha Grammy de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Português


Álbum póstumo de Erasmo Carlos é premiado no Grammy Latino


Grammy Latino 2024: Jota.pê é 1º brasileiro premiado


Johnny Hooker leva turnê especial de 20 anos de carreira para Europa


João Pernambuco é homenageado com projeto audiovisual na voz de Glaucia Nasser


Dave Mustaine, do Megadeth, pagará mais de US$ 1 milhão a ex-empresário após acordo