Cena do filme <i>BoyhoodDa Infância à Juventude</i> - Reprodução

Boyhood: Da Infância à Juventude provoca reflexão ao explorar o envelhecimento de maneira única e sensível

Filme foi rodado ao longo de 12 anos pelo diretor Richard Linklater

Luísa Jubilut Publicado em 30/10/2014, às 09h02 - Atualizado às 14h43

Em 2002, Richard Linklater resolveu desafiar o tempo e construir uma narrativa cinematográfica sobre infância. O cineasta escolheu Ellar Coltrane, então com seis anos, para protagonizar a história de um garoto comum, Mason, que em questão de horas se torna um homem perante os olhos do espectador emocionado. Para quem está sentado no cinema com os olhos vidrados na telona, Boyhood se resume a um filme de 164 minutos. Na vida de Linklater, Coltrane e o resto da equipe, o longa representa um processo realizado ao longo 4200 dias – mais precisamente, em 39 dias ao longo de 12 anos.

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Coltrane sequer lembra-se do dia em que topou participar do filme – apenas do sentimento de querer atuar a qualquer custo. Já Ethan Hawke e Patricia Arquette, que interpretam os pais de Mason e Samantha (Lorelei Linklater), recordam perfeitamente o momento em que agarraram a oportunidade de fazer algo completamente diferente de tudo que já haviam feito.

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Wilco, Phoenix, Lady Gaga, Britney Spears, Foo Fighters, Arcade Fire, Dylan e Moreno Veloso não só enriquecem a trilha sonora como ajudam o espectador a se localizar o tempo de maneira mais sutil. É claro, o filme traz outras “dicas” óbvias, como Mason e a irmã vestidos da cabeça aos pés com o figurino de Harry Potter na fila para adquirir o novo volume da saga literária e referências sobre Barack Obama em diferentes momentos da carreira política do presidente norte-americano.

“Tempo, se você pensar a respeito, é um elemento fundamental da construção do cinema”, disse Linklater ao site Buzzfeed. Esta não foi a primeira vez que Linklater faz um experimento bem sucedido que levou mais de uma década para se concretizar. Em 1995, Ethan Hawke e Julie Delpy encantaram no singelo Antes do Amanhecer, um conto sobre um relacionamento intenso entre dois jovens tem apenas um dia para se conhecerem, apaixonarem e partirem para destinos completamente diferentes. É um filme que se sustenta sozinho, mas que funcionou ainda melhor com outros dois longas: Antes do Pôr-do-Sol, lançado em 2004 e Antes da Meia-Noite, de 2013, que rendeu ao cineasta e à dupla protagonista uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

Boyhood - já cotado como a obra-prima do cineasta – apresenta uma proposta completamente diferente, uma narrativa linear que mostra a complexa desenvoltura de uma criança e o processo minucioso (e doloroso) de abrir mão da infância e entrar em um mundo cheio de questionamento, crises, espinhas e pressões. Mason serve como um espelho do próprio espectador, que inconscientemente adapta a história do garoto à sua própria, comparando experiências e sentimentos inevitáveis. Afinal, quem nunca assistiu atentamente à dinâmica incompreensível entre a figura materna e paterna, lidou com questões que exigiam um nível de maturidade alto demais, preocupou-se em saciar as expectativas dos amigos (e dos pais, e as próprias), passou por uma “fase feia” e iniciou discussões filosóficas baseadas em questões complemente rasas? Linklater não deixa nada passar, criando o retrato perfeito sobre a transição de qualquer jovem para a fase adulta.

Boyhood: Da Infância à Juventude estreia dia 30 de outubro nos cinemas.

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