- A banda inglesa Ride é atração do Balaclava Fest (Foto: Andrew Ogilvy)

Ícone do shoegaze e com ex-integrante do Oasis, Ride estreia no Brasil e prepara novo disco

Atração do Balaclava Fest, banda liderada por Andy Bell (Oasis e Beady Eye) marcou os anos 1990, antes de entrar em hiato em 1996

Pedro Antunes Publicado em 26/04/2019, às 11h00

Andy Bell foi o último a saber. Mark Gardener (também voz e guitarra, como Bell), Steve Queralt (baixo) e Laurence Colbert (bateria) já trocavam ligações e e-mails sobre um possível retorno do Ride - banda que marcou o gênero surgido nos anos 1990 conhecido como shoegaze, embora tenha uma inclinação maior ao power pop e à melancolia do que à distorção e volumes no talo, como grupos como My Bloody Valentine e The Jesus And Mary Chain - mas não contaram a ele até que tudo estive alinhado. 

Terminada em 1996, a banda de Oxford, na Inglaterra, voltaria de fato em 2014, oito anos depois, mas os três outros integrantes deixaram Bell no escuro até terem tudo acertado. "Até hoje eu não sei quem começou", brinca o músico. "Mas quando me ligaram, parecia uma boa ideia, seriam só alguns shows, não teríamos compromisso de voltar a gravar discos ou coisas assim. O principal era ver como a banda se sairia."

Desde aquela ligação, em 2014, o Ride voltou, de fato. Desde então, eles lançaram um disco, Weather Diaries (em 2017), um EP chamado Tomorrow's Shore (2018) e farão a estreia na América Latina com uma apresentação única em São Paulo.

O Ride é a principal atração do ligadíssimo, indie e crocante Balaclava Fest, festival que chega à nona edição neste sábado, 27, ainda com ingressos à venda (no site Ticket360 e nos pontos de venda) a partir de R$150. O festival é realizado na Audio, casa de shows da zona oeste de São Paulo.

A programação musical terá início às 18h, com o trio paranaense Tuyo. Depois, se apresentarão Terno Rei, Land of Talk, Wild Nothing, Ride, Vagabon, Luiza Lian e How To Dress Well - veja a ordem dos shows, com horários e palcos, no fim do texto.

Dica: a Converse avisa para o público chegar cedo, às 17h, com um tênis da marca; os primeiros a chegarem terão algumas surpresas.

No período no qual Bell esteve distante do Ride, ele se juntou ao Oasis. Com eles, ficou entre 1999 e 2009, mais tempo que tinha com a antiga banda, cuja primeira existência durou sete anos.

Uma década de Oasis

Ride e Oasis dividiram a mesma gravadora, a amalucada Creation Records. De lá, também vieram outros ícones do shoegaze, como os já citados My Bloody Valentine e The Jesus And Mary Chain. Mas a Creation Records, selo criado por Alan McGee, mudou a música pop do Reino Unido naquela década de 1990, não só com o Oasis, mas lançando Primal Scream, Teenage Fanclub, Slowdive, Super Furry Animals, entre outros.

O documentário Upside Down: The Creation Records Story, de 2010, mostra um pouco da insanidade que era a gravadora e como ela impactou ressurgimento do rock de guitarras na Inglaterra enquanto os Estados Unidos transpiravam o grunge.

"Aqueles eram anos loucos", conta Bell, sobre os anos nos quais o Ride esteve sob o comando da Creation Records. "Nós éramos rapazes vindos de Oxford, então, não frequentamos muito o escritório da gravadora. Mas quando íamos até Londres, a gente estava lá. Eram festas em todos os andares", ele diz.

Bell se juntou aos irmãos Gallagher no Oasis para participar das gravações do disco Standing on the Shoulder of Giants (2000) e ficou com eles até o final da banda, quando Liam e Noel entraram na sua enésima briga, violões foram quebrados e o Oasis chegou a um fim melancólico.

"Ah, eu já conhecia bem os dois", diz Bell, sobre os motivos que o levaram a se juntar ao Oasis, mesmo diante da má fama dos Gallaghers. "Então, para mim, não foi uma surpresa [o comportamento brigão dos irmãos]. E eu era muito fã deles também."

Retorno com o Ride

Bell, Gardener, Queralt e Colbert seguiram por caminhos distintos - com destaque para a carreira solo de Gardener, aliás. "Anunciar o retorno da banda [em 2014] mexeu bastante com os nossos nervos", conta Bell. "Porque anunciamos alguns shows antes de voltarmos a tocar qualquer coisa juntos. Tivemos que correr para o estúdio ensaiar."

Bell se lembra de estar na porta do estúdio, no 1º dia de ensaios, com Gardener e ouviu Steve Queralt e Laurence Colbert no baixo e na bateria, juntos, do lado de fora. "E aquilo parecia soar como o Ride. E começamos a rir. Aquilo nos deixou mais confiantes de que se a gente trabalhasse juntos, poderia funcionar."

Depois dos primeiros shows, o Ride voltou ao estúdio, então para gravar um novo álbum de inéditas. Veio Weather Diaries, em 2017. O disco tem a produção do DJ e produtor Erol Alkan escolhido pela banda para acrescentar mais temperos eletrônicos ao som da banda. O engenheiro de som Alan Moulder voltou a ser convocado - ele é o mesmo dos tempos de Nowhere, clássico disco de estreia do Ride.

"Entendemos que depois daquela primeira turnê, não poderíamos seguir sem apresentar músicas novas", ele explica. Da mesma safra de Weather Diaries vieram as músicas do EP Tomorrow's Shore, lançado em 2018.

E, agora, o Ride prepara uma nova viagem.

Novo disco e 1ª vinda ao Brasil

O Ride nunca esteve no Brasil ou em outro país da América Latina. E São Paulo será o primeiro show do grupo em 2019. "Vamos incluir os clássicos", adianta Bell, sobre a apresentação no Balaclava Fest. "É claro, vamos também tocar músicas mais recentes, mas sabemos que temos que mostrar as favoritas das pessoas."

Bell esteve no Brasil com o Oasis, nas turnês de 2001, 2006 e 2009, mas explica que agora o sensação é outra em estar no País com o Ride. "É uma daquelas coisas que não entendemos porque não aconteceu antes", explica o músico. "Mas, desde o início da nossa reunião, eu tenho pedido para ir ao Brasil e à América Latina."

Uma semana antes de subir ao palco do Balaclava Fest, o Ride anunciou um novo álbum, o 6º da carreira da banda.

This Is Not a Safe Place traz novamente a companhia de Erol Alkan e Alan Moulder. Previsto para ser lançado em 16 de agosto, o disco "colocou o Ride para frente, com ritmos hipnóticos e riffs de guitarras exuberantes que se juntam com influências eletrônicas. A combinação cria um som rico em sua atmosfera de shoegaze (que é a marca registrada da banda), e ao mesmo tempo, soa fresco e criativamente ambicioso", diz o comunicado da gravadora sobre o novo trabalho.

O primeiro single veio junto do anúncio disco. "Future Love" é uma canção cheia de luz, com os vocais dobrados da parceria entre Gardener e Bell, e uma linha de guitarra mais singela, menos estrondosa. Como uma manhã de domingo de sol, "Future Love" é carregada de esperança por um final feliz, o que faz sentido para os integrantes da banda, todos na beira dos seus 50 anos, e já sem as angústias e dúvidas cantadas no passado.

O Ride de hoje é melhor, garante Bell

"Sabe, ficamos juntos sete anos no começo da banda. Desde a reunião, já foram cinco anos", explica Bell. "Logo mais teremos mais tempos juntos agora do que tivemos na nossa primeira fase."

A frase indica o sentimento do Ride nesta nova fase. Bell, por exemplo, garante que o grupo é melhor hoje do que no início da carreira. "Hoje temos uma confiança maior nas músicas que tocamos. Acho que somos melhores agora do que éramos nos anos 1990", diz. "Temos melhores equipamentos, conseguimos hoje cantar no tom, temos uma atitude melhor e ainda temos energia para estar sobre o palco."

Confira, abaixo, a programação do dois palcos do Balaclava Fest, que será realizado neste sábado, 27, na Audio (mais informações sobre o festival aqui):

Stage
18h30 - Terno Rei
19h40 - Land of Talk
21h10 - Wild Nothing
23h10 - Ride

Club
18h - Tuyo
19h10 - Vagabon
20h30 - Luiza Lian
22h - How To Dress Well

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