"O amor [entre família e empregado] é verdadeiro, mas é perverso", diz o diretor Gabriel Mascaro
Stella Rodrigues Publicado em 03/05/2013, às 11h21 - Atualizado às 12h22
Muito se falou a respeito da PEC das domésticas, mas bem pouco foi pensando sobre a questão de forma mais ampla. Tanto quem é contra quanto quem é a favor das novas leis trabalhistas que regem o trabalho dos empregados domésticos deverá se interessar pelo documentário Doméstica, de Gabriel Mascaro. Com o mínimo de posicionamento político declarado (já que é impossível dizer que não há posicionamento algum e existe sempre algo sendo dito por trás das escolhas do diretor – como, por exemplo, promover pré-estreias do filme no dia do trabalho), o filme consegue levar mais longe a discussão do que tudo que foi falado até agora. E, de certa forma, argumentar de forma muito mais contundente, embora a intenção do pernambucano não seja fazer um filme de denúncia ou algo parecido.
Quando foi passada a Proposta de Emenda Constitucional que regulamenta a jornada de trabalho desses trabalhadores e estipula, entre outras coisas, o pagamento de hora extra, Mascaro viu o momento ideal para levar seu projeto ao circuito de cinemas, depois de exibi-lo em festivais. Ele, que tem 29 anos e outros documentários sobre questões sociais no currículo, é casado com uma cineasta inglesa. Foi o contato próximo a outra cultura que o fez questionar a forma como a nossa estrutura social, no Brasil, torna quase que regra a contratação de alguém para cuidar das tarefas do lar. “Minha esposa disse que não teríamos empregada ou babá em casa, foi aí que comece a pensar e questionar isso”, conta ele em entrevista à Rolling Stone Brasil, comentando que se espantou com a reação negativa da população diante da instauração de direitos trabalhistas para os trabalhadores domésticos.
A proposta foi a de entregar câmeras nas mãos de adolescentes de classes sociais variadas e pedir que registrassem a rotina das domésticas que cuidam da casa deles. Ele recebeu o material bruto, selecionou e acabou colocando sete histórias no filme (de casas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Manaus). Dentre elas, há o caso de um doméstico que começa a trabalhar para uma família depois de ser abandonado pela própria família; a de uma doméstica que trabalha para outra doméstica (uma das histórias mais pesadas do filme); a de uma mulher que viveu em cárcere privado, aprisionada pelo próprio marido; uma mulher que foi criada brincando com a patroa na infância, entre outras.
Visualmente, o filme é quase como uma gravação de batizado/festa de aniversário – “caseiro”. Claro, ninguém operando a câmera era um profissional e a proposta nem era essa. Apesar dos personagens serem ótimos, com histórias impressionantes, a força do documentário está no fato de que – sem pieguice – o foco dele é a relação de carinho que há entre patrão e empregada (especialmente as que moram com as famílias, viram os adolescentes que gravaram os vídeos nascerem e crescerem) e o quanto isso torna nebulosa a relação de trabalho e a visão do que é direito e o que é dever de cada parte.
Uma das questões mais fortes que podem sair da discussão é notar como essas mulheres (e o único homem) se expõem diante da câmera e refletir o quanto estava claro para eles qual a função daquele registro. “O amor [entre família e empregado] é verdadeiro, mas é perverso. Há uma relação de poder que torna complexa essa relação. O documentário não nega esse paradoxo, não nega que está dentro dessa lógica podem ter sido vistas como uma ordem do adolescente que dirigia a entrevista.
Assista ao trailer de Doméstica abaixo:
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