Filme de Edgar Wright parece uma versão de Velozes e Furiosos feita para a Broadway
Paulo Cavalcanti Publicado em 27/07/2017, às 17h08 - Atualizado às 17h13
Assim como o recente sucesso La La Land, -- Cantando Estações, Em Ritmo de Fuga começa a ação de forma explosiva e em meio a um engarrafamento. Mas desta vez não tem gente saindo dos carros e dançando no meio do trânsito – quem “dança” aqui são os automóveis. Enquanto uma gangue de mascarados entra em um banco para assaltá-lo, o piloto de fuga, um adolescente, permanece no volante, ouvindo “Bellbottoms”, de Jon Spencer Blues Explosion, e “interpretando” a canção com dublagem e air guitar. Quando os bandidos entram no carro, a perseguição pelas ruas de Atlanta vira uma coreografia e imediatamente a câmera pega o ritmo da música. A edição final faz com que tudo pareça um frenético balé sobre rodas. São os dez minutos mais estonteantes e intensos do cinema neste ano de 2017. O filme dirigido por Edgar Wright mais parece uma versão de Velozes e Furiosos feita para a Broadway.
É a história de Baby (Ansel Elgort), um jovem que vive 100% de seu tempo imerso na música, seja no europop do Golden Earring (“Radar Love”) ou no punk do Damned (“Neat Neat Neat”) – embora seja notável que ele prefere mesmo a soul music da velha escola e os clássicos da gravadora Motown. Baby perdeu os pais em um acidente de carro quando era criança. Ele sobreviveu ao desastre, mas a tragédia o deixou com um doloroso zumbido no ouvido. Por isso, ele precisa escutar música o tempo todo. Baby tem como talento principal a habilidade de pilotar carros como um demônio. Como deve um favor ao chefão Doc (Kevin Spacey), participa dos assaltos que o criminoso arquiteta, executando a tarefa de motorista com eficiência e profissionalismo impecáveis, de forma que o paternal Doc não quer que ele deixe a função.
Baby quase não fala, mas na verdade é bem esperto e educado. Tem bom coração, apesar de estar afundado na vida do crime. No meio das tribulações, Baby se apaixona por uma doce garçonete chamada Debora (Lily James). Crente de que já pagou a dívida que tinha com Doc e poderia seguir a vida pacificamente ao lado do novo amor, ele encara uma “última missão” antes da aposentadoria. Os companheiros desta jornada são figuras infernais como o psicopata Bats (Jamie Foxx), além de Buddy (Jon Hamm) e Darling (Eiza González), que parecem uma versão junkie de Bonnie e Clyde. Graças a eles, a suposta última missão de Baby se torna uma fuga rumo ao inferno.
Em Ritmo de Fuga é puro estilo sobre substância, mas é isso justamente que faz a grandeza do filme. Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto, Scott Pilgrim Contra o Mundo) é obcecado por cultura pop, e isso acaba sendo decisivo na estrutura do long. A influência de Quentin Tarantino é imensa: os diálogos são descolados, engraçados, irônicos e desbocados, com citações estranhas a cada instante. O momento em que Baby e Buddy discutem “Brighton Rock”, do Queen, é impagável. E, é claro, a trilha sonora é sensacional, contendo canções de James Brown, Beach Boys, Dave Brubeck, Barry White, The Commodores e T.Rex, além de várias obscuridades. Um dos grandes artefatos pop desta temporada, Em Ritmo de Fuga é um filme para manter o pé batendo no chão enquanto a respiração permanece presa.
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