Com o borbulhante Rio de Janeiro das décadas de 50 e 60 de pano de fundo, filme de Bruno Barreto mostra relação homossexual entre mulheres de maneira sensível
Stella Rodrigues Publicado em 16/08/2013, às 10h51 - Atualizado às 17h39
Talvez pela dificuldade que tenha tido ao conseguir patrocínio para o projeto, Bruno Barreto tem repetido muitas vezes que Flores Raras não é um filme sobre a relação homossexual entre a arquiteta autodidata/paisagista Lota de Macedo Soares (Glória Pires) e a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop (interpretada pela australiana Miranda Otto), vencedora do Pulitzer. De fato, não é. Não só não é como o diretor deixa isso claro novamente a cada dez minutos do filme, caso o espectador tenha saído para pegar pipoca e ainda tenha alguma dúvida. Logo no início, Mary (Tracy Middendorf), primeira esposa de Lota, conta a Elizabeth, recém-chegada ao Brasil, que a relação com potencial para escândalo entre ela e arquiteta naquela conservadora sociedade fluminense da década de 50 não costuma trazer grandes problemas ao cotidiano delas. E até mesmo o triângulo amoroso que se segue, entre as três, não é em si a questão principal do filme, que coloca de forma cristalina e nominalmente a dor da perda na linha de frente – esta é a grande angústia a ser suportada por essas personagens.
Entrevista: Glória Pires fala sobre o o papel em Flores Raras.
A história real é ótima e as atrizes estão todas brilhantes em seus papéis, fugindo de exageros de maneira comprometida e natural ao adaptar as pessoas de carne e osso descritas no livro Flores Raras e Banalíssimas – A História de Lota de M. Soares e Elizabeth Bishop, de Carmem L. Oliveira. Lota tem com a companheira Mary uma vida feliz e razoavelmente descomplicada. Rica, mas afastada da família tradicional e influente, Lota é uma espécie de furacão latino cuja personalidade encontra um bom contraponto na bem-educada Mary, egressa da prestigiosa universidade de Vassar. Enquanto isso, Elizabeth Bishop, em Nova York, lida com angústias internas e uma personalidade pouco cálida que, enquanto quase a impede de ser feliz, serve também como fonte de inspiração para sua obra – o típico caso da artista torturada, que neste caso tem o alcoolismo como um agravante. Como solução para seu mais recente intervalo criativo, Bishop resolve partir em mais uma de suas viagens e segue para o Rio, onde vai visitar Mary, uma amiga dos tempos de universidade. É assim que conhece Lota, inteligente e criativa como ela, mas com traços e características tão diferentes que o choque cultural entre as duas só poderia gerar faíscas. Elas se apaixonam e aos poucos as personalidades das duas vão se invertendo até um desfecho trágico.
Visualmente, o filme é irresistível. O Rio de Janeiro dos anos 50 que Elizabeth Bishop encontra tem aquela imagem de boemia, de cultura e política efervescentes, que mora no imaginário popular. Belamente reconstruído, com figurinos, cenografia e uso de computação gráfica impecáveis, o Rio de Flores Raras acaba atuando como um novo personagem que vem para impor um segundo triângulo amoroso, desta vez entre Lota, Bishop e a cidade.
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