O criador e os atores do hit da Netflix comentam a segunda temporada
Jon Dolan Publicado em 14/02/2014, às 11h24 - Atualizado às 12h50
Filmes como The West Wing - Nos Bastidores do Poder e Lincoln reforçam o sentimento de patriotismo norte-americano. O igualmente aclamado House Of Cards, que conta com Kevin Spacey como Frank Underwood, um político impiedoso e obcecado pelo poder, provoca sensações diferentes. “Ano passado, nós estávamos em Washington D.C. filmando uma cena de um jantar de correspondentes na Casa Branca”, disse Beau Willimon, criador da série. “E o político Kevin McCarthy nos disse, em tom de brincadeira, ‘se eu pudesse matar pelo menos um membro do Congresso, meu trabalho seria bem mais fácil’”.
House of Cards, série política feita para a Netflix, estreia seus 13 episódios de uma só vez.
McCarthy estava se referindo a um momento chocante na primeira temporada da série, quando Underwood apaga um deputado que atrapalhava seus planos. A segunda temporada da série – que estreou na íntegra na última madrugada – só reforça a visão pessimista de Washington D.C. como um esgoto de acordos corruptos, ganância e vingança medieval. Agora, Underwood foi promovido a vice-presidente, “a um passo da presidência e nenhum voto computado no meu nome”, ele diz. “Democracia é tão superestimada”.
Por mais mais astuto e severo que Underwood seja, sua habilidade de levar o país adiante (na primeira temporada, ele queria aprovar um projeto de lei para educação; agora, uma reforma na Constituição) revela uma visão sombria e esperançosa do pós-partidarismo em Washington. “Ele faz as coisas acontecerem e faz com que as pessoas se mexam", diz Willimon, que cita o ex-presidente norte-americano Lyndon Johnson como um exemplo para Underwood. “Grande parte do que exploramos é: o Frank realmente acredita mesmo em alguma coisa? Se sim, no quê? Se sim, como ele foi corrompido pelo poder poder, ou será que Frank desenvolve um sistema de crença agora porque está no poder?
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A própria educação política de Willimon começou como estagiário na campanha bem-sucedida do então congressita Chuck Schumer para o Senado (“uma típica campanha acirrada de Nova York”, ele relembra; “você perde ou ganha. Nós ganhamos, e eu queria mais”). Ele trabalhou na campanha de Hillary Clinton para o Senado em 2000 e no desastre de Howard Dean em 2004, em Iowa,: “Minhas funções eram limitadas, em geral. Eu era um cara à frente. Tinha uma perspectiva de guerra”). Seu amigo próximo Jay Carson, que o convenceu a trabalhar na campanha de Schumer, acabou se tornando um grande estrategista dos democratas e consultor político, dando a Willimon acesso aos bastidores. Ele usou suas experiências para escrever, em 2008, a peça Farragut North, que depois adaptou para o cinema, no drama Tudo Pelo Poder, com Ryan Gosling e George Clooney. Willimon, Spacey e o diretor David Fincher trouxeram House of Cards ao Netflix, que concordou em comprar duas temporadas sem sequer assistir ao piloto.
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“Quando começamos a gravar, não tínhamos certeza se metade seria lançada em apenas um dia, e a outra algumas semanas depois, ou qual era o plano,” diz a atriz Kate Mara, que interpreta uma talentosa jovem jornalista que se vê enrolada com as intrigas de Underwood. “Eu me senti como se estivesse fazendo um imenso filme”.
O modelo de distribuição de House of Cards - lançando todos os episódios da temporada de uma vez na Netflix – foi histórico, e Fincher ganhou um Emmy de Melhor Diretor. (Foi praticamente o Sgt. Pepper’s do streaming.) Como disse Spacey, “Nós aprendemos a lição que a indústria da música ainda não aprendeu: dê às pessoas o que elas querem, quando elas querem, da forma que elas querem, por um preço razoável, e elas comprarão em vez de roubar.”
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A relação entre tecnologia e poder é o tema principal na segunda temporada, por meio de um enredo tenso de ciberterrorismo. Há a sensação de apostas mais altas em cada cena: Robin Wright é ainda mais brilhante como esposa fria e calculista de Underwood, há momentos de spoiler malucos o suficiente que são capazes de derreter a internet, e a atuação de Spacey é de uma crueldade do tipo que dá vontade de rir alto.
Para Willimon, as táticas quase do mal de Underwood nada mais são do que a democracia em ação: “Quando você pensa no que os líderes fazem – mandam pessoas à guerra, têm sangue nas mãos, têm de estar dispostos a fazer coisas que nós não queremos fazer”, ele diz. “É por isso que damos poder a eles. Eles têm que estar dispostos a colocar as pessoas em seus túmulos.”
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