Coprodução entre Brasil e Argentina, premiado longa é o indicado do país vizinho para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar
Stella Rodrigues Publicado em 07/12/2012, às 11h34 - Atualizado às 12h55
Filmes sobre famílias vítimas da truculência de ditaduras são sempre tristes, sempre delicados e sempre um pouco parecidos entre si. É impossível não se comover com o olhar infantil impotente diante da injustiça incompreensível – longas como O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias e Machuca já tinham estabelecido isso. O já premiado Infância Clandestina, coprodução brasileira e argentina que estreia nesta sexta, 7, segue a mesma linha. Da mesma forma que os Estados Unidos e a Europa têm material de sobra para dramas emocionantes envolvendo as guerras das quais participaram, a América Latina encontra em suas terríveis ditaduras tramas tocantes (a maioria delas baseadas em fatos reais) de famílias destruídas pela brutalidade de regimes militares.
Em Infância Clandestina, o diretor Benjamín Ávila conta mais ou menos a própria história, dando às vezes a entender que ressente o tipo de vida que foi obrigado a levar por causa da ideologia dos pais (ou, pelo menos, que já ressentiu). O filme narra a história do garoto de 12 anos Juan (Teo Gutierrez Romero), que tem uma vida dupla ao lado dos pais Horácio (César Troncoso) e Cristina (Natalia Oreiro), integrantes de um grupo peronista no final da década de 70 que luta contra a ditadura na Argentina. Ainda compartilham a vida carinhosa familiar dele sua irmãzinha de meses de idade e o tio solteirão Beto (Ernesto Alterio), adulto que faz a ponte entre a mentalidade pré-adolescente despreocupada de Juan e a vida adulta cheia de conflitos e tensões que cerca o protagonista mirim.
Mesmo em meio às mil medidas de segurança com as quais Juan tem que lidar – o nome falso e sugestivo de Ernesto, esconderijos secretos e o afastamento do resto da família – o menino consegue se adaptar a uma nova escola, fazendo amigos e encontrando seu primeiro amor. Mas o perigo constante que mora em seu inconsciente faz dele, paralelamente, um garoto assustado e perseguido por pesadelos. O fato de a história ser contada pelo ponto de vista de Juan faz dela muito menos a respeito da luta armada da qual seus parentes participaram (que praticamente não aparece) e mais a respeito do medo subjacente de que tudo que o garoto conhece como conforto e segurança pode ser levado de perto dele a qualquer momento. A trilha feita especialmente para o filme e as animações que ilustram as sequências mais violentas ajudam a transparecer esses medos.
O diretor, que faz sua estreia no cinema, assina o roteiro ao lado do brasileiro Marcelo Müller. O filme é a indicação da Argentina para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar, seguindo a tradição latina de indicar produções focadas nas vítimas de nossas ditaduras. A geração que teve sua infância ferida por parentes mortos e pais desaparecidos (os créditos finais do filme contam que esse é o caso de Ávila) busca agora no cinema uma forma de desabafar ao mundo como foi difícil ter que amadurecer bem antes da hora.
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