A melhor série já feita pela parceria Netflix-Marvel volta para a segunda temporada e reflete perfeitamente o momento conturbado em que vivemos
Rolling Stone EUA Publicado em 09/03/2018, às 13h58 - Atualizado às 18h46
Muitos espectadores tentam rotular a série Jessica Jones, e basta assistir aos primeiros episódios da série produzida pela Netflix com a Marvel para saber que isso não é uma boa ideia. Também conhecida como “justiceira”, “aberração”, “assassina” e “bomba relógio”, a detetive de saco cheio, com a força de dez homens e um temperamento um tanto quanto explosivo, retorna ao serviço de streaming para a segunda temporada.
“De saco cheio” é, de fato, a característica que torna Jessica a personagem mais cativante e catártica das séries atuais. Interpretada por Krysten Ritter, a investigadora particular está constantemente irritada e abusa, além de um humor ácido, do álcool também. Ela tem a força para levantar um carro sem esforço e energia o suficiente para causar bons estragos. Mas o mais importante de tudo é que ela está brava. O tempo todo. E esse estado é resultado de injustiças cometidas contra ela e contra as pessoas que ela ama – repetida, brutal e majoritariamente cometidas por homens. É a forma como ela lida (ou não) com toda essa ira (enchendo a cara, socando coisas e até mesmo tentando ignorar) que a tornou uma personagem tão importante para a era #MeToo, e não é mera coincidência a tão aguardada segunda temporada estrear no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Leia a nossa entrevista exclusiva com Krysten Ritter, atriz que interpreta Jessica Jones
Jessica Jones faz parte da leva de programas de super-heróis criados pela Netflix em parceria com a Marvel, e compartilha a mesma Manhattan fictícia de Demolidor, Luke Cage, Punho de Ferro e Justiceiro. Mas a série em questão se destaca do resto. Jessica resolve casos por dinheiro, não por uma moral superior, além de se interessar pelos próprios superpoderes apenas quando eles a ajudam no trabalho. Sem roupas justíssimas ou identidade secreta: Jessica precisa apenas de uma jaqueta de couro surrada e de uma expressão facial desafiadora.
A estética narrativa e o visual da série em si derivam mais dos filmes noir de 1940 que de filmes típicos de super-herói, não demonstrando receio de atingir tons obscuros. Na primeira temporada, Jessica enfrenta Kilgrave, um vilão com poderes psíquicos que a estuprou e, enquanto controlava a mente dela, a forçou a cometer assassinatos. Aterrorizado por inseguranças e literalmente poderoso o suficiente para dobrar o mundo de acordo com suas vontades, o antagonista serviu como uma representação perfeita da masculinidade tóxica que existe no mundo todo. No fim, quebrar o pescoço dele foi a única forma que a protagonista encontrou de se tornar livre.
Toda essa jornada da primeira temporada aconteceu em 2015, quando a candidatura presidencial de Donald Trump não era mais que uma nuvem distante no horizonte e Harvey Weinstein ainda estava calma e quietamente no poder da indústria cinematográfica. Foi através de Jessica Jones que a criadora da série, Melissa Rosenberg tocou nessa camada de ira e ansiedades extremamente reais que borbulhavam já bem perto da superfície. Agora, em 2018, esse borbulhar já se tornou um mar fervente, transformado em frenesi por um sexismo cru nos mais elevados níveis governamentais, pela exposição de predadores sexuais e desigualdade em todas as camadas da sociedade. Em outras palavras, esse é o momento perfeito para Jessica voltar com tudo, distribuindo porrada e com a tolerância para encheções de saco ligada no modo “some da minha frente”.
Se a primeira temporada era sobre sobreviver a traumas profundos, a segunda, que conta com 13 episódios (todos dirigidos por mulheres), é sobre o que vem depois: revolta. Rosenberg examina a motivação feminista através do ângulo de Jessica e das mulheres ao redor dela. O inimigo, dessa vez, é menos evidente, pois está em todo canto, e em lugar nenhum. A protagonista deve mergulhar na obscura origem dos super-poderes que possui (região que ela tanto tenta ignorar), enquanto Trish encara um conhecido dos tempos de estrela adolescente de TV, um monstro assustadoramente real e que parece ter sido extraído de uma denúncia do movimento #MeToo. Cada uma das personagens se protege com uma armadura: Jessica cria a sua através do desapego e do alcoolismo, e Trish através da reputação e do senso de controle que carrega, e isso será familiar a qualquer mulher que simplesmente tente existir em um mundo que tenha medo delas e as marginalize.
O que faz a protagonista ser tão fascinante é que ela não esconde os estragos que já sofreu. Ela é uma bagunça, e não liga para quem sabe disso. Jessica tem a elegância de ser frágil e de se desmanchar. Ela não age por ninguém nem para ninguém, nem mesmo para os espectadores. E, neste momento, essa é uma história que precisamos ver.
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