De 11 a 14 de outubro, a cidade do litoral norte paulista foi tomada por belas canções durante o festival Ilhabela in Jazz
Antônio do Amaral Rocha Publicado em 17/10/2017, às 16h57 - Atualizado em 18/10/2017, às 20h55
O Centro Histórico de Ilhabela, cidade do litoral norte de São Paulo, foi tomado pelo melhor do jazz ao longo do último feriado, entre 11 e 14 de outubro. Cerca de 10 mil pessoas puderam acompanharam 16 shows gratuitos de altíssima qualidade, sendo quatro deles de bandas locais e os outros 12 de atrações nacionais e internacionais. A Rolling Stone Brasil esteve lá para acompanhar as performances da quinta edição do Ilhabela in Jazz. Veja abaixo um resumo de como foi.
Emesp & Juilliard Big Band, Dr. Lonnie Smith e Yamandu Costa & Jazz Cigano
A abertura oficial, na quarta, 11, aconteceu com uma reunião inusitada de músicos da Emesp (Escola de Música do Estado de São Paulo), sob regência do maestro Daniel Alcântara, e da renomada Juilliard School de Nova York, com naipes de sopro, bateria e piano. Os músicos daqui tocaram temas da MPB, como “Tempestade”, do violonista Chico Pinheiro, “Maria Três Filhos”, de Milton Nascimento, e “Nanã ou Coisas no 5”, de Moacir Santos. Em seguida, a banda dos músicos da Juilliard, com piano, contrabaixo, guitarra e um naipe de metais, entrou com solos individuais para, depois, juntarem-se aos brasileiros, formando uma big band que encerrou com “Viajando pelo Brasil”, tema de Hermeto Pascoal.
A festa só estava começando e a atração que veio a seguir daria o tom do que seria o festival a partir daquele momento. Novidade na programação, o público se deparou com um senhor franzino de vestes brancas, turbante amarelo e apoiado em uma bengala de metal, subindo ao palco e se posicionando junto a um órgão Hammond B-3. O norte-americano Dr. Lonnie Smith veio acompanhado do guitarrista Jonathan Kreisberg e do baterista Xavier Breaker. Durante uma hora, o mago do órgão executou os temas do mais recente álbum, Evolution, provocando quase sempre um suspense com sua música hipnótica e etérea. Mas também houve espaço para o brilho do guitarrista Jonathan e do baterista Xavier, que não estavam ali só para acompanhar. Um momento particularmente estranho foi quando Dr. Lonnie mostrou outro uso para a bengala, ou melhor, o “Slaperoo Walking Cane”. Percutindo a peça como se fosse um contrabaixo, ele tirou sons inusitados, deixando o público sem entender muito bem de onde vinha aquele barulho.
A noite ainda teve o violão de sete cordas do sempre genial Yamandu Costa, tocando sozinho e depois acompanhado pelo grupo curitibano Jazz Cigano, que assume a influência de Django Reinhardt, o criador do gypsy jazz. Tocaram temas conhecidos da MPB, como “Palpite Infeliz”, de Noel Rosa, e uma versão indescritível de “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues, encerrando com “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso.
Louise Woolley, Phillipe Baden Powell e Carlos Malta
A segunda noite, dia 12, começou com o show de Louise Woolley Quinteto, que fez uma apresentação correta, para um público ainda frio, tocando o repertório do seu segundo álbum, Ressonâncias, lançado em 2016.
Filho do festejado violonista e compositor Baden Powell, o pianista Phillipe Baden Powell, com o grupo Ludere (Rubinho Antunes no trompete; Bruno Barbosa no contrabaixo e Daniel de Paula na bateria), fez o segundo show da noite tocando temas próprios, como “Origami” e “Espaço Tempo”, faixas do clássico disco Os Afro-Sambas (Baden Powell e Vinicius de Moraes), além de “Opinião” (Zé Keti) e “Afro Tamba”, que homenageia tanto os afro-sambas como o seminal grupo da bossa nova Tamba Trio. Foi um show bastante técnico e que levantou o público com a execução de “Canto de Ossanha”, já no final.
A música nordestina teve espaço no último show da noite, com a apresentação de Carlos Malta & Pife Muderno, trupe composta tocadores de flautas variadas, zabumba, pandeiro e triângulo. Foi uma mistura de forró com pitadas de jazz. As execuções de “Ponteio” (Edu Lobo) e “Pipoca Moderna” (Caetano e Sebastião Piano) foram especialmente empolgantes. O mesmo aconteceu com o solo da flautista Andrea Dears, que brilhou com “Assum Preto” e “Asa Branca” (Luiz Gonzaga), chamada por Malta de “o verdadeiro hino nacional brasileiro”. O gaitista Gabriel Grossi subiu ao palco como convidado. Malta, em dado momento, declarou: “Enquanto o país está essa bagunça, nós seguimos fazendo tudo na maior harmonia. Só a música salva”. Como o público pediu, o show terminou em festa fora do palco.
Amilton Godoy, Uri Caine e Barbatuques
Se tivesse sido escalada num horário mais avançado, e não para abrir a terceira noite, dia 13, a apresentação do pianista Amilton Godoy certamente teria uma maior repercussão. No entanto, ainda assim, ela deve ser considerada a mais marcante de todo o festival. Acompanhado de Sidiel Vieira no contrabaixo acústico e de Edu Ribeiro na bateria, o veterano pianista, que carrega com ele a história da música popular brasileira moderna, fez um show de clássicos da MPB e bossa nova, executando o arranjo original de “Garota de Ipanema” (Tom e Vinicius), gravado em 1964 por ele e o Zimbo Trio, do qual fez parte por quase 50 anos. Houve também “Chega de Saudade” (Tom e Vinicius), tocada para o público, de forma entusiástica, cantar junto, e o primeiro movimento, chamado “Cantilena”, da “Bachiana no 5” (Heitor Villa-Lobos), que o próprio Hamilton gravou com o Zimbo na década de 1970, nos discos Opus Pop 1 e 2. Milton Nascimento foi especialmente homenageado no “Pout-pourri Milton”, uma peça composta de “Ponta de Areia”, “Fé Cega, Faca Amolada”, “Nada Será como Antes”, “O Que Foi Feito Devera”, “Coração de Estudante” e “Maria Maria”, encerrando o show de forma empolgante. Teve até um bis chamado ironicamente de “Passagem de Som”.
Ao estrelado pianista norte-americano Uri Caine (e trio) coube a tarefa ingrata de manter os ânimos em alta, logo após o show de Amilton Godoy. No geral, o resultado foi uma apresentação fria, em que pese o perfeito entrosamento com Clarence Penn (bateria) e Mark Helias (contrabaixo). A música de Uri é bastante técnica e cerebral e, por isso, exige atenção, sendo pouco adequada para um lugar aberto como uma praça. Ele, contudo, ganhou a simpatia do público quando pediu desculpas por terem imposto o presidente norte-americano, Donald Trump, ao mundo, dizendo que se manifestava em nome de 80% do povo de seu país. Foi bastante aplaudido.
Escalar a trupe Barbatuques para fechar a noite também foi um risco que a curadoria do festival assumiu. Surpreendeu a boa receptividade de uma música feita só com a percussão corporal e uso reduzido de vocais, e desfez o que diz o senso comum: de que o público não quer pensar. A apresentação comprovou que as plateias do Ilhabela in Jazz estão receptivas a novas experiências sonoras.
Trio Ciclos, Arismar do Espírito Santo & João Donato e Ilhabela in Jam
Os três shows de encerramento da maratona, no dia 14, tiveram início com a apresentação do Trio Ciclos (Edson Santanna no piano; Bruno Migotto no baixo acústico e Alex Buck na bateria). O trio trouxe uma experiência sonora sutil, sensível e radical, bastante adequada para locais fechados, tanto que teve que mudar as configurações das caixas acústicas tradicionais, espalhando outras oito pelo espaço da praça, para que a música pudesse ser ouvida. Reproduziram o repertório do álbum Móbiles Vol. 1.
João Donato e o baixista Arismar do Espírito Santo, com o apoio do baterista Cleber Almeida, fizeram o show de maior apelo popular de todo o festival. Donato trouxe um setlist de sucessos da carreira, começando com “Bananeira” e seguindo com “A Rã”, “A Paz”, “Emoriô”, “Sambou, Sambou”, “Café com Pão”, “Simples Carinho”, “Suco de Maracujá”, “Lugar Comum”, “Ê Menina”, “Nasci para Bailar” e “Cala Boca Menino”, esta já no bis. Nos bastidores, Arismar, ao ser questionado a respeito de ensaios, respondeu: “E precisa? É só sair tocando”. Donato arrematou que “procura ser simples para que as pessoas recebam as mensagens com tranquilidade e para que fiquem felizes. A finalidade é essa. Não enfeito muito para não perder a naturalidade”, concluiu.
O show de encerramento do festival, denominado Ilhabela in Jam, trouxe ao palco um time de formação inédita, mas com músicos já conhecidos de outras edições, formado por Toninho Ferregutti (acordeão), Ricardo Herz (violino), André Marques (piano), Eduardo Neves (saxofone e flauta), Bruno Migotto (contrabaixo) e Edu Ribeiro (bateria), com entrosamento incrível, especialmente se levarmos em conta o grupo teve só algumas horas de ensaio na manhã do mesmo dia, como a reportagem da Rolling Stone Brasil apurou. A jam teve repertório próprio, já que quase todos os músicos são também compositores, incluindo “Um Tom para Jobim”, de Sivuca, e “Tacho”, de Hermeto Pascoal, como bis. E ainda teve espaço para a canja do curador do festival, o pianista Paulo Braga, também executando uma música própria, de nome “O Lugar”.
Atrações locais
A reportagem da Rolling Stone também assistiu a dois shows de abertura em dois dias do festival. Na noite do dia 13, sábado, tocou a banda Filipe Blues Man, com repertório focado no blues e no pop rock e, no dia 14, domingo, Dudu França in Jazz, o cantor que foi massificado na década de 1980 em programas televisivos e, hoje, em forma, continua na ativa cantando um repertório também baseado no pop rock dos anos 1970 e 1980.
*O repórter viajou a convite do festival.
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