Nos Estados Unidos, um pequeno grupo de ativistas pelos direitos dos animais vem se infiltrando nas fazendas onde os bichos são transformados em carne sob as mais cruéis circunstâncias. Agora, os gigantes do agronegócio estão tentando esmagá-los
Paul Solotaroff/ Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 17/01/2014, às 18h55 - Atualizado em 02/08/2017, às 17h49
Sarah – vamos chamá-la assim nesta reportagem, embora este não seja o nome que os pais dela lhe deram nem o que ela atualmente usa como disfarce – é uma mulher alta e clara, de 20 e poucos anos, que é linda de um jeito quase comum, como se tivesse propositadamente eliminado qualquer característica distintiva de seu rosto e corpo. Como qualquer pessoa que passa muito tempo trabalhando em fazendas, ela tem coxas e tronco fortes, graças ao trabalho de conduzir porcas prenhas que têm o triplo do seu peso para currais onde elas parem seus filhotes e de carregar baldes de porquinhos mortos por corredores compridos até onde eles serão processados mais tarde. É um trabalho árduo – nove horas por dia em estábulos abafados no estado de Wyoming, Estados Unidos, e nenhum treinamento poderia prepará-la para o ataque sensorial de 10.000 porcos em espaços confinados: o fedor de esterco, em pilhas de 90 cm de altura; o sangue nas narinas das porcas, cortadas por gaiolas tão apertadas que elas não podem se virar ou deitar de lado; os gritos ensurdecedores de animais com as patas quebradas, levados até becos por trabalhadores com olhos apáticos e abandonados ali para morrer lentamente. É o pior trabalho que ela ou qualquer outra pessoa já teve, mas Sarah não está resmungando sobre as condições. Está ocupada demais travando uma guerra em nome dos porcos.
Estamos sentados no sofá com outro militante, um ex-soldado que chamaremos de Juan, no salão aberto de um chalé ao norte da fronteira entre Vermont e Nova York. A casa pertence à chefe deles, Mary Beth Sweetland, diretora investigativa da organização Humane Society of the United States (HSUS) e que os trouxe aqui, primeiro, para contar suas histórias, depois para investigar uma casa de leilão de gado nas proximidades. Mary treina e comanda as dezenas de pessoas engajadas no negócio perigoso de se infiltrar em fazendas industriais e documentar o abuso cometido contra multidões de animais por parte dos gigantes norte-americanos do agronegócio, bem como em abatedouros e leilões de gado. Dada a escala do negócio – a cada ano, estima-se que, nos Estados Unidos, 9 bilhões de frangos de corte, 113 milhões de porcos, 33 milhões de vacas e 250 milhões de perus sejam criados em estábulos escuros, imundos e pestilentos para nosso consumo –, é injusto chamar isso de operação de guerrilha, por medo de ofender guerrilhas com mais poder de fogo, mas o que Juan e Sarah fazem com suas câmeras e microfones escondidos é nocautear a gigante indústria da carne, mostrando vídeos das condições de vida dos animais a salas cheias de repórteres e equipes de filmagem. Em muitos casos, esses achados levam a prisões e/ou fechamentos de plantas de processamento, embora a verdadeira questão para os acusadores seja exigir mudanças no modus operandi de gigantes de fast food e grandes varejistas. “Tivemos um grande impacto nos cinco ou seis anos em que comandamos essas operações”, afirma Sarah.
Em seu escrutínio do Big Meat – um cartel de corporações que engoliram fazendas familiares, levaram os animais para instalações semelhantes a prisões no meio do nada, longe do olhar de consumidores nervosos, e criaram seu gado além do ponto da exaustão –, a Humane Society (e organizações como PETA e Mercy for Animals) está prestando um serviço que o governo federal não pode, ou não quer, oferecer: ficar de olho na forma como a carne é cultivada nos Estados Unidos (um modelo que é seguido em incontáveis países). Este seria o trabalho do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, mas a agência tem uma falta tão grande de funcionários que normalmente só envia inspetores a abatedouros, onde verificam uma pequena amostra de porcos, vacas e ovelhas antes que estes sejam abatidos. Essa hora antes do fim geralmente é o único momento em que uma porca vê um representante do governo; desde o momento em que nasce, está por conta própria, passando quatro ou cinco anos em um engradado minúsculo, perpetuamente grávida e doente por respirar seus próprios dejetos enquanto come ração cheia de drogas promotoras de crescimento, às vezes até lixo (a palavra “lixo” não está aqui por acaso: junto com os grãos pode haver todo tipo de detrito, de vidro de lâmpada moído e seringas usadas a testículos de filhotes esmagados. Pouquíssimo em uma granja industrial é descartado). Exceto por um ou outro funcionário que fica revoltado e coloca fotos incriminatórias no Facebook, ativistas disfarçados como Juan e Sarah são a nossa única janela para o que acontece nesses lugares – e logo, se o Big Meat for atendido, não teremos nem isso para nos informarmos. Nos Estados Unidos, uma onda de novas leis, elaboradas quase totalmente por congressistas e lobistas e chamadas de leis “Ag-Gag” (ou “tapa-boca”), estão fazendo com que seja ilegal aceitar um emprego em fazendas e realizar espionagem, candidatar-se a um emprego em fazenda sem revelar uma trajetória como jornalista ou ativista de direitos dos animais, e guardar evidências de abuso contra animais por 24 ou 48 horas antes de entregá-las a autoridades. Como demora semanas ou até meses para desenvolver um caso – e já que grupos como a HSUS fizeram juramento de não infringir a lei – essas leis estão detendo os defensores dos animais e soltando as rédeas das fazendas industriais.
“Não estamos tentando acabar com a carne ou criar pânico, mas há uma maneira decente de criar animais para alimento, e esta [que é praticada atualmente] está muitíssimo longe disso”, diz uma ativista
Três estados – Iowa, Utah e Missouri – aprovaram essas medidas nos últimos dois anos, e mais devem se seguir. “É por isso que viemos a público: as pessoas precisam lutar enquanto é tempo”, diz Sarah. “Não estamos tentando acabar com a carne ou criar pânico, mas há uma maneira decente de criar animais para alimento, e esta [que é praticada atualmente] está muitíssimo longe disso.”
Há cerca de dois anos, Sarah foi contratada por um viveiro chamado Wyoming Premium Farms, um monólito imenso na minúscula Wheatland, uma cidade com pouco mais de 3.600 habitantes. Na fazenda, que tem o tamanho de quatro campos de futebol americano e está conectada a um estábulo de parto separado, ela era um dos 12 a 15 trabalhadores que cuidavam de quase 1.000 porcas cada, o que é a norma nesses lugares. A rotatividade de funcionários era alta e o ânimo, baixíssimo – os animais pagavam por isso com sangue. “Os trabalhadores estavam tão estressados que batiam nas porcas durante o processo de desmame e as levavam de volta para o viveiro”, conta Sarah. “Algumas mães resistiam e eles simplesmente mandavam ver, três ou quatro por vez chutando e socando uma fêmea. No meu primeiro dia lá, vi uma porca quebrar a pata tentando recuperar seu filhote. Eles a enfiaram em um beco e a deixaram ali por uma semana antes de alguém furar a cabeça dela com um prego.”
“Foi aquele velho, Steve, que bateu na porca?”, pergunta Juan. Ele trabalhou em um estábulo Premium nas proximidades, onde passava os dias extraindo canecas de sêmen dos porcos reprodutores e as noites lavando o fedor de sua pele.
“Não, ele abusava dos filhotes”, ela diz sobre Steve Perry, um homem tatuado que parecia ter prazer em abusar de porquinhos recém-nascidos – balançando-os pelas patas, gabando-se de golpear uma porca com uma caneta e arrancando a orelha de outra. Ele foi um dos nove trabalhadores acusados de crueldade contra animais em conexão com o caso que Sarah montou. Todos perderam seus empregos na fazenda; cinco pagaram multas leves e foram colocados em liberdade condicional por seis meses. No entanto, Perry entrou com um recurso alegando inocência e, mais tarde, arranjou emprego no estábulo onde Juan trabalhava. Eventualmente, declarou-se culpado de duas acusações de crueldade contra animais, recebeu uma pequena multa e passou um tempo curto na cadeia. Enquanto isso, Sarah encontrou evidências que eventualmente ajudaram a revelar que a Tyson Foods, gigante da indústria da carne (que tem subsidiária no Brasil) era cliente do Premium.
“E o que aconteceu com a Tyson – pagou um preço, em multas ou fechamentos?”, pergunto.
“Ah, não – os grandões sempre se safam”, responde Mary Sweetland, que monitora nossa conversa de sua mesa no andar de cima. “Só que os atingimos onde dói – no bolso.” A Tyson Foods, maior processadora de carne dos Estados Unidos, negou uma ligação com o Wyoming Premium, depois admitiu ser dona de uma empresa que fazia negócios com esses viveiros. Mais tarde, a Tyson distorceu outra vez a questão ao acrescentar, através de um porta-voz, que havia cortado os laços com o Premium. Mesmo assim, justiça cármica foi feita quando o custo da ração para frangos ajudou a fazer o faturamento líquido da empresa despencar 42% no segundo trimestre de 2013.
Atenção: imagens fortes
Assista a vídeos gravados secretamente por ativistas nos Estados Unidos, mostrando trabalhadores de fazendas agredindo os animais que estão sob seus cuidados. As brutais condições promovidas por gigantes corporações que adotam o método industrial impulsionam um ambiente em que este tipo de tratamento parece normal. Cortesia da ONG norte-americana Mercy for Animals.
Você é uma típica galinha poedeira nos Estados Unidos e esta é sua vida: você está presa em uma gaiola com outras cinco ou sete galinhas, cada uma com menos de 0,09 metros quadrados (cerca de 30 cm X 30 cm) de espaço para ciscar e dormir. Há cinco dessas gaiolas empilhadas, milhares delas em um armazém sem janelas ou claraboias. Você não vê nem cheira nada desde o momento em que nasceu a não ser a titica que cai entre as grades acima de sua cabeça. O excremento cobre suas penas e vira uma segunda pele; no momento em que você é arrancada da gaiola para o abate, seus ossos e asas quebrando nos punhos dos trabalhadores atormentados, parece mais um pato coberto por óleo do que uma galinha, escurecida por anos de sujeira. Seus olhos lacrimejam constantemente por causa dos vapores de sua própria urina, você resfolega e engasga como um minerador aposentado e é atacada a cada segundo do dia por ratos e nuvens de moscas. Se for um frango de corte (criado especificamente para dar carne), graças à “ciência da carne” e suas alavancas químicas – hormônios de crescimento, antibióticos e ração geneticamente modificada – tem pelo menos o dobro do peso que teria se criado livre, mas não tem músculos nem para andar, quanto mais para voar. Como as galinhas poedeiras – suas camaradas de sofrimento –, adquire doenças de velho logo na juventude: doença cardíaca, osteoporose. Francamente, é uma misericórdia estar morto e processado daqui a 45 dias, depois de ser arrancado da gaiola e abatido. As poedeiras que você deixa para trás continuarão nesta vida por mais uns dois anos (ou até estarem “gastas” e não conseguirem mais produzir ovos) e, depois, também serão mortas.
Você é uma típica vaca leiteira nos Estados Unidos e esta é sua vida: você é criada, como os porcos, em uma laje de concreto em uma baia pouco maior que seu corpo. Ali, nunca toca a grama nem vê o sol até o dia em que é conduzida para o abate. Um coquetel de drogas, combinado com decisões de criação, distendeu tanto o tamanho de suas mamas que você tropeçaria se pudesse pastar, o que, claro, não pode. Seus cascos apodreceram e estão pretos de ficar sobre seu próprio esterco, suas tetas estão cheias de cicatrizes, inchadas e vazando pus – infectadas por mastite – e você está doente ao ponto do colapso por dar quase 9.980 kg de leite por ano (isso é mais do que o dobro que suas antepassadas produziam há apenas 40 anos). Assim que terminarem de usá-la (tipicamente aos quatro anos de idade), seus ossos estão tão frágeis que frequentemente estalam e lhe deixam incapaz de se levantar sozinha.
Ossos frágeis não são o único motivo pelo qual as vacas ficam imóveis. Uma vaca “caída” é um animal incapaz de ficar em pé sozinho devido a ferimento ou doença; animais caídos são considerados pelo governo federal impróprios para consumo humano. A probabilidade de que portem uma variação potencialmente mortal da bactéria E. coli é três vezes maior e a de que portem bactérias da salmonela e transmitam encefalopatia espongiforme bovina, mais conhecida como doença da vaca louca, também é mais alta. No entanto, antes que você seja classificada como caída, o Big Meat usará todo truque que tiver na manga para lhe manter de pé. Os trabalhadores golpeiam seus olhos, ou na área genital, se você preferir, com uma vara de tocar gado; enfiam uma mangueira em sua garganta para lhe fazer se levantar, uma jogada inspirada pelos torturadores de Abu Ghraib; e, se tudo falhar, levantam você com uma empilhadeira e lhe colocam em uma esteira em direção ao abate.
Em 2007, a Humane Society pegou a extinta companhia Westland/Hallmark em flagrante e, apenas dois meses depois, revelou que esta fazenda do sul da Califórnia despejava 16.700 toneladas de carne de vacas caídas no programa norte-americano de merenda escolar “de baixo custo ou gratuita”. Não, não era suficiente apenas levar a carne para um público inocente – a empresa também a vendia para o Departamento de Agricultura por mais de US$ 156 milhões. Esse escândalo fechou a planta, retirou a Westland/Hallmark do negócio e iniciou tumultos na Coreia do Sul, onde os manifestantes – temendo a exposição à doença da vaca louca – lutaram contra um acordo pendente para reverter uma proibição de quase cinco anos contra a carne dos EUA. A conta total desse disparate ainda é um mistério, mas deve estar na casa dos bilhões de dólares.
"Independentemente de sua posição sobre a questão de comer animais, acho que concordamos que fazer da vida deles um inferno é um preço alto demais por comida barata”, diz Cody Carlson, da ONG Mercy for Animals
Eventualmente, dois funcionários da Hallmark se declararam culpados de infrações das leis sobre crueldade criminal contra animais, “mas ninguém no comando foi acusado”, diz Wayne Pacelle, presidente e CEO bonitão da Humane Society, a maior e mais poderosa defensora sem fins lucrativos dos direitos dos animais nos Estados Unidos. Desde que foi promovido a executivo-chefe em 2004, Pacelle mais do que duplicou o orçamento da Humane Society para US$ 181 milhões, aumentou o número de doadores ativos para mais de 1 milhão e ampliou agressivamente sua verve investigativa, fechando depósitos de cachorros, comércios de animais exóticos e rinhas de cães em fins de mundo rurais, onde esse esporte sangrento tem raízes profundas.
No entanto, o Inimigo Público Número Um na lista de Pacelle são as dezenas de empresas que burlaram o sistema e usurparam os meios de produção nos EUA. Há 50 anos, antes da chegada dos gigantes, vacas, porcos e galinhas no país eram criados livres na maior parte do tempo e vendidos em leilões. Então, Tyson, Perdue e outras companhias começaram a montar lotes de alimentação, transportadoras, abatedouros e chocadeiras, e os gerenciavam, de cima para baixo, via comitês corporativos, e transformaram fazendeiros em escravos pagos em suas próprias terras, donos de nada além do que a hipoteca de seus estábulos. Com o consentimento covarde do Departamento de Agricultura (na época, como agora, uma porta giratória para executivos do setor de grandes fazendas industriais), devoraram empresas menores, encurralaram boa parte do gado do país e começaram a tratar os animais como unidades de produção, não como criaturas vivas e com sentimentos e direitos básicos. O lema dessas empresas: lucro máximo pelo mínimo de insumos, o que significa muito menos trabalhadores cuidando de muito mais animais, e bichos confinados em espaços apertados e escuros para a facilidade e conveniência dos humanos.
Só que vacas e porcos não são feitos para viver em ambientes fechados – ficam doentes e deprimidos, atacam uns aos outros e matam ou comem seus filhotes por desespero. No entanto, algumas empresas contrataram cientistas para encontrar soluções e, voilà, criaram um conjunto de soluções baratas. Despejaram antibióticos nos grãos com que alimentam o gado, criaram engradados de gestação de 61 cm por 2,13 m para que as porcas não pudessem morder o rabo das outras ou esmagar seus filhotes ao deitar e mantiveram os animais gordos e tristes para que não revidassem quando conduzidos ao abate. Ver uma vaca morrer em uma planta de rendimento é um filme de horror em câmera lenta. Elas são atordoadas por um pino de aço na cabeça, penduradas de cabeça para baixo por uma corrente de metal (às vezes, se o pino não funciona – o que não é tão raro assim – enquanto ainda estão conscientes e agonizando), têm a garganta cortada para sangrar e são enviadas ao longo de uma linha onde seus membros são amputados. É engenharia reversa, uma linha de desmontagem – e tem aprovação total do Congresso. Esses são os termos da Humane Methods of Slaughter Act (em português, Lei sobre Métodos Humanitários de Abate), a única legislação federal que se aplica ao tratamento do gado. Quando se trata de criar animais, não há regras além daquelas que as empresas impõem a seus fazendeiros. Se você quiser realizar sua própria versão da “eutanásia” ao pendurar porcos caídos em uma empilhadeira, tipo uma execução – como um fazendeiro de Ohio gostava de fazer até ser filmado por um agente da HSUS (mais tarde, um juiz decretou que ele não era culpado, declarando que Ohio não tem padrões para proibir a prática de estrangular e pendurar animais de fazenda) –, siga em frente sem ter medo de ser interrompido por policiais federais. Se quiser enganar o público, como a Perdue é acusada de fazer em uma ação judicial coletiva ao rotular sua marca de frangos Harvestland como “criados humanamente”, sinta-se livre, sabendo que nenhum regulador contestará suas alegações.
Em vez de defender os direitos do consumidor – abrindo processos antitruste contra empresas hegemônicas, combatendo crimes de fixação de preços nas prateleiras de produtos lácteos, aprovando padrões robustos para manter carne insegura longe dos supermercados –, os funcionários públicos se uniram alegremente ao Big Meat, concedendo subsídios gigantes para os três principais ingredientes de rações animais, agindo como seus agentes em vendas no exterior e repreendendo agentes da HSUS por “reter evidências” enquanto as coletam para montar seus casos. “Se tivéssemos uma fração da consideração que essas companhias têm, o jogo não estaria tão desfavorável para os animais”, afirma Pacelle. “Só que esses são os termos e estamos ganhando a luta. Os eleitores em estados fazendeiros estão se juntando a nós.”
Em 2008, Pacelle colocou a força da HSUS por trás de uma iniciativa chamada Proposition 2 (Proposta 2), pedindo que a Califórnia, o maior estado agrícola dos EUA, banisse, até 2015, o confinamento cruel de galinhas poedeiras, porcas prenhas e bezerros dentro de gaiolas e engradados. A medida foi duramente combatida pelo Big Meat e seus aliados nas fileiras fumegantes do Partido Republicano; os maiorais nos setores de ovos e aves doaram US$ 5 milhões em um único dia para difamar e distorcer os termos da Proposition 2. Pacelle apresentou suas próprias armas, trazendo as apresentadoras Oprah Winfrey e Ellen DeGeneres para defender a criação humana de animais ao vivo na TV. No terceiro trimestre daquele ano, os eleitores deram um veredicto esmagador, aprovando a Prevention of Farm Animal Cruelty Act (Lei de Prevenção de Crueldade Contra Animais em Fazendas) por uma margem de quase dois por um. Foi o início de uma sequência de vitórias para o gado. Estados que vão do Maine a Oregon promulgaram legislações semelhantes, varejistas como Costco e Walmart passaram a comercializar ovos caipiras em suas marcas próprias, enquanto redes como McDonald’s, Burger King e dezenas de outras anunciaram a eliminação de todos os produtos vindos de porcos criados em engradados de gestação.
No entanto, longe de ceder, o Big Meat atacou mais forte ainda. Está gastando imensas pilhas de dinheiro de grandes doadores nas emendas “Ag-Gag” que envia aos legisladores. Em Utah, por exemplo, agora é uma infração filmar ou fotografar abusos em fazendas, mesmo se você estiver estacionado em uma via pública filmando pela janela de seu carro. Embora outros estados tenham eliminado essas propostas alegando que elas denigrem a Primeira Emenda da Constituição, lobistas do setor agrícola e seus clientes conservadores no Congresso continuam preparando novas versões. Além disso, declararam guerra contra a Humane Society, colocando o presidente e a missão do grupo em sua mira.
“A NRA, Forrest Lucas [magnata de lubrificantes para carros que é dono da Lucas Cattle, produtora de carne] e escudeiros pagos como Rick Berman [notório defensor da indústria tabagista] publicam uma mentira atrás da outra sobre o que fazemos”, afirma Pacelle. “Eles dizem que nossa missão é acabar com a caça, acabar com as fazendas, que estamos aqui para fazer as pessoas usarem sapatos de cânhamo. Bom, não somos o PETA nem o Mercy for Animals, mas defendemos o gado – os 8 bilhões de frangos criados em gaiolas imundas, as dezenas de milhares de porcas em engradados minúsculos. Alguém tem de falar por eles.”
Quando sua primeira investigação provoca processos criminais e faz uma gigante como a Tyson se lançar em uma negação torturada, pode ser difícil vir com um segundo ato adequado. No caso de Sarah, no entanto, tem sido impossível. Como é ilegal usar um codinome para se candidatar a uma vaga, ele teve de se identificar aos fazendeiros e foi rejeitada em cada planta. “É temporário, espero”, diz, procurando ao longo da estrada o estábulo do Cambridge Valley Livestock Market em Nova York. “Quando novos casos surgem, meu nome vai lá para baixo. Independentemente disso, há muito para eu fazer.”
Enquanto isso, ela se passou por uma possível compradora em fábricas de cachorro no sul, participando de um grupo que resgatou 72 cães de um complexo escuro e fétido na Carolina do Norte, ajudou a documentar a tortura praticada – como padrão – contra as patas de cavalos de sela, e tentou, sem sorte, montar casos criminais contra donos de animais exóticos em Nevada. Ali, como em estados como a Carolina do Norte e a Carolina do Sul, Alabama e três outros, praticamente não há leis impedindo que colecionadores excêntricos montem zoológicos pessoais. “É difícil se aproximar dessas pessoas”, conta Sarah. “Elas são esquisitas e paranoicas com estranhos. Um homem só aceitou me encontrar e falar comigo se eu entrasse no carro dele. Tinha cicatrizes no rosto todo por lidar com macacos. Acabou me deixando segurar seu filhote de chimpanzé.”
Além disso, há vários meses ela vai a leilões de gado para resgatar bezerros do abate. Chamados de “vitela nova” pelos fazendeiros, esses filhotes de vacas leiteiras Holstein são funcionalmente inúteis no mercado aberto. Não ficam robustos como a raça Angus nem ordenham tonéis de leite fresco, então são despejados, uma semana ou duas depois de nascerem, em vendas rápidas pouco frequentadas em cidades rurais, onde são usados em ração para cães ou como cortes mais baratos de acém em frigoríficos locais. Esses bezerros, por sinal, são os sortudos. Os pouquíssimos suficientemente gordos para serem criados para corte serão acorrentados durante meses a engradados de madeira, forçados a ter uma dieta de substituto de leite e antibióticos e impedidos de se mover 30 cm em qualquer direção para que sua carne fique macia como manteiga. Três décadas de esforços para eliminar essa barbárie renderam proibições em apenas sete estados, embora a American Veal Association tenha votado por eliminar engradados em todas as fazendas até 2017. Os consumidores, enquanto isso, votaram se afastando em bando de vitelas criadas em caixas do tamanho de um caixão de criança. Há, parece, algum limite em nosso gosto para a tortura.
“Apesar de tudo o que sabemos sobre animais agora – que eles pensam, sentem, formam conexões –, ainda os tratamos pior do que lixo”, diz Mary Sweetland, da HSUS
Entramos em uma estrada de terra até a doca de carga do Cambridge Valley Livestock Market. Um caminhão está sendo lotado de bezerros comprados por US$ 40 a cabeça. Centenas mais estão no estábulo enlameado, muitos tão jovens que arrastam o cordão umbilical pela palha manchada por urina e esterco. Respondendo aos gritos deles, Sarah abre um portão e me conduz até um curral. Instantaneamente, uma dezena de outros bezerros nos cerca, sugando nossos joelhos e mangas. Desde que foram arrancados de suas mães, mal comem e mamam em qualquer coisa que se pareça com uma teta. Encontram uma, digamos, em minha jaqueta de couro. O desgaste da jaqueta deve ter o gosto do amor.
Vacas, como os porcos, são criaturas sociais; seus filhotes são ainda mais. Encostam o focinho em estranhos, grunhem de prazer quando você os acaricia e se vinculam sem reclamação a pessoas indiferentes. Sua doçura não os leva a lugar algum nos leilões. No entanto, os homens e mulheres que trabalham aqui os agridem com pranchas e chutam seus lombos para que andem para frente. “Tão comum”, Sarah murmura enquanto encosta na grade, filmando com uma câmera escondida minúscula. “Vi gente os socando, enfiando varas nos olhos, gabando-se: ‘Acertei em cheio no olho!’ É o que acontece quando se faz isso por tempo suficiente. Não são criaturas como você, são apenas problema.”
Sarah, que cresceu em um lar na Costa Oeste cheio de animais de todo tipo – pássaros, hamsters, um cachorro, um furão e até uma cobra píton – formou-se em Zoologia, estagiou em um abrigo de felinos e trabalhou por um tempo em um zoológico, mas, em conflito sobre cuidar de animais cativos, foi para um santuário de primatas resgatados: macacos-aranha, saguis e outros, vindos de donos particulares e laboratórios de pesquisa. O tratamento dado a eles nesses locais – “presos em gaiolas durante a vida inteira, nunca vendo outro animal” – impulsionou-a a descer do muro e se arriscar pelo bem deles. “Nem sabia que isso existia como trabalho, mas estava disposta a deixar tudo – minha casa, meus amigos, minha família, o que fosse – e viver por aí como outra pessoa”, conta. “É cabuloso entrar nesses estábulos, uma garota no meio desses homens cruéis com porcos.” Ela também ficava com uma escuta, fazendo muitas perguntas e tentando montar um caso contra seus chefes. Por sorte, só foi descoberta depois que se demitiu, mas vivia com medo de que sua preocupação com as porcas a denunciasse para os colegas. “Se você faz seu trabalho direito, pode fechar a fábrica e deixar 20 ou 30 famílias sem trabalho”, diz. “É por isso que não saía para beber com eles – o que pareciam fazer a cada minuto de folga.”
De volta ao estábulo, andamos livremente pelos currais – o leilão tem tão poucos funcionários que Juan, o colega de Sarah, é contratado para conduzir os bezerros vendidos até os caminhões. Sem ninguém por perto para impedi-la, Sarah passa por um portão e se ajoelha ao lado de um bezerro que não consegue se levantar. Seus olhos aveludados estão úmidos, apáticos – ele mal se mexe quando empurrado pelos outros bezerros. “Ficou doente e desistiu”, diz Sarah, acariciando sua pele com a mão calejada. “Este é o segundo que vi, e aposto que há mais.”
E, como aconteceu com Sarah, que mudou completamente de vida, aconteceu com os fazendeiros – que desistiram de sua função de fazendeiros para se tornarem carcereiros cruéis de seu gado. “Vi em primeira mão quando trabalhei no interior – é como se odiassem os próprios animais por ter sentimentos”, diz Cody Carlson, ativista de direitos dos animais que deixou as investigações para estudar Direito. “Tinha um emprego em um estábulo com um chefe doentio que se orgulhava do que fazia com as vacas. Um dia, estávamos consertando um portão e duas vacas se aproximaram para nos ver trabalhar. Bom, uma o cutucou com o focinho, só para brincar, e ele a golpeou na cara com a chave de fenda. Também o vi se gabar de ataques passados, como amarrar uma vaca a uma cerca e se revezar com outros homens para agredi-la.”
As imagens secretamente gravadas por Carlson, compiladas durante mais de um mês, levaram a um indiciamento por crueldade e custaram um grande comprador para a empresa. A derrubada, em 2008, foi a primeira tarefa de Carlson. Contratado recém-saído da faculdade pela empresa Kroll Advisory Solutions para coletar dados de negócios, saiu da consultoria para encontrar trabalho em uma empresa sem fins lucrativos dedicada à justiça social. Nem o Polaris Project nem a Environmental Investigation Agency ligaram de volta, mas a Mercy for Animals, sim. Depois de várias semanas de treinamento, foi contratado na Willet, uma gigante do setor lácteo em Locke, Nova York, que produzia 40.000 galões de leite por dia. Suas imagens das práticas padrão na fazenda industrial – cortar os rabos dos bezerros sem anestesia, marcar os chifres com ferro quente também sem anestesia, golpear vacas, chutar bezerros, bater em vacas caídas desesperadamente doentes – foram tão condenatórias que o programa Nightline as veiculou na TV nacional, confrontando o CEO da Willet diante da câmera. “Nossos animais são crucialmente importantes para nosso bem-estar, então trabalhamos arduamente para tratá-los bem”, afirmou Lyndon Odell sobre as 5.000 vacas que ficavam sobre lagoas de seu próprio esterco. Ao assistir à fita com os bezerros torturados, e pressionado a responder se uma vaca sente dor, ele deu de ombros e murmurou: “Acho que não posso falar pela vaca”. Vale à pena dizer aqui que nada teria resultado da fita se ela ficasse nas mãos de Jon Budelmann, promotor público do condado de Cayuga. “Fomos até ele com nossas evidências e ele nos falou para cair fora – não enfrentaria a ‘Grande Empresa Láctea’”, diz Carlson. “Só depois que fomos para a mídia com a fita é que ele tirou a bunda da cadeira e fez mudanças” (Budelmann mais tarde inocentou a Willet de qualquer mal feito, dizendo ao jornal Syracuse Post-Standard que, embora as práticas da Willet possam parecer duras para os consumidores, “não são atualmente ilegais no estado de Nova York”).
Isso é excessivamente comum nos casos de gado. Há leis em cada estado norte-americano proibindo a crueldade a animais domésticos, mas quase nenhuma protegendo bichos de fazenda. Até o ponto em que os procuradores conseguem fazer acusações, são tipicamente infrações leves que resultam em multas pequenas e uma proibição de aceitar trabalhos em fazenda no futuro. “Apesar de tudo o que sabemos sobre animais agora – que eles pensam, sentem, formam conexões –, ainda os tratamos pior do que lixo”, diz Mary Sweetland, da HSUS. “A lei está defasada com relação à ciência, mas estamos começando a ter ganhos. Veja o que aconteceu em Nova York.” Depois que a fita de Carlson foi ao ar, a congressista do estado de Nova York, Linda Rosenthal, propôs uma lei contra cortar o rabo de bezerros, uma prática tão inútil quanto desprezível. Três anos se passaram e a proposta ainda está pendente no comitê de Agricultura.
No entanto, Carlson, um loiro magro e bonito de 30 anos, só estava se aquecendo. No terceiro trimestre de 2009, foi para a Humane Society e teve uma série de empregos em fábricas de galinhas em Iowa, trabalhando para a Rose Acre Farms e para a Rembrandt Foods, segunda e terceira maiores produtoras de ovos nos Estados Unidos. O que ele viu ali superou os horrores dos currais leiteiros: dezenas de plantas mal ventiladas do tamanho de hangares, cada uma com centenas de milhares de aves em gaiolas empilhadas do tamanho de um micro-ondas. As galinhas, de sete a dez por gaiola, pisoteavam umas nas outras, lutando por espaço. Carlson, o único cuidador de 300.000 aves, passava quatro ou cinco horas por dia tirando cadáveres das gaiolas enquanto tentava não se tornar um deles. “Se você nunca esteve em uma fábrica de galinhas, não sabe o que é inferno”, compara. “O fedor de amônia e urina te atinge quando você abre a porta, há pilhas de cocô de galinha de 1,8 m de altura antes que elas sejam removidas com uma escavadeira e seu nariz e pulmões queimam como se houvesse fogo neles.” Ratos, moscas e fezes forravam as minúsculas gaiolas, aves mumificadas dividiam espaço com vivas e seus ovos rolavam para esteiras transportadoras que funcionavam 24 horas por dia. “Não era uma granja pequena – eram 10 milhões de galinhas”, conta Carlson. “Seus ovos estão em todo supermercado que você for.” Incrivelmente, nenhum indiciamento resultou das fitas de Carlson: essa era uma prática costumeira do setor que não infringia nenhuma lei. No entanto, quatro meses depois, a FDA entrou no jogo. Flagrou diversas fazendas de galinhas no Iowa cujas condições repugnantes causaram um surto de salmonela em 23 estados, causando o maior recolhimento de ovos na história recente dos Estados Unidos. Nem a Rose Acre Farms nem a Rembrandt Foods estiveram entre as fábricas notificadas.
Carlson durou quase dois anos no campo, incluindo uma temporada em uma fazenda de porcos na Pensilvânia. Ali, dividia os dias entre “processar” novos filhotes – removendo caudas e testículos sem anestésico e injetando montes de medicamentos para reforçar sistemas imunológicos já prejudicados – e jogar inúmeros mortos em um carregador que os despejava em uma pilha de adubo. “Cada trabalho era a coisa mais nojenta que já tinha visto. Achava que superaria aquilo, mas sempre me chocavam”, conta, terminando de comer seu sanduíche com homus. “Sinto que deixei minha marca, coloquei meu nome na conversa que estamos começando a ter sobre como e o que comemos. Independentemente de sua posição sobre a questão de comer animais, acho que concordamos que fazer da vida deles um inferno é um preço alto demais por comida barata.”
Desde os anos 50, quando o secretário de Agricultura Ezra Taft Benson disse a fazendeiros norte-americanos para “crescer ou sair” e seu assistente, Earl Butz, mais tarde secretário no governo de Richard Nixon, exortou-os a plantar uma só lavoura de cerca a cerca e produzir em massa animais como vacas e galinhas como se fossem carros, jantamos com a ideia de que a natureza é nosso cavalo de carga, para ser tratada como consideramos conveniente. No entanto, as economias de escala que trouxeram nuggets e hambúrgueres de fast food (sem falar da epidemia de obesidade) são construídas sobre uma hipótese enganosa: a de que os recursos usados para cultivar essas delícias estarão ali enquanto quisermos. “A carne industrial definirá seu próprio preço até a morte – as coisas das quais depende estão morrendo”, afirma Fred Kirschenmann, diretor emérito e pesquisador do Leopold Center for Sustainable Agriculture na Iowa State University. Seu livro Cultivating an Ecological Conscience: Essays From a Farmer Philosopher (“Cultivando uma Consciência Ecológica: Ensaios de Um Filósofo Fazendeiro”), uma referência, foi baseado em décadas comandando uma fazenda média com métodos orgânicos na Dakota do Norte. “A água está acabando, especialmente em estados pecuários. O preço do combustível está disparando além do que os fazendeiros conseguem pagar, e os dois principais minerais que usam agora são extraídos em apenas quatro países. Uma mudança de paradigma acontecerá nas próximas duas décadas, para um sistema alimentar mais natural e regional.”
Kirschenmann e outros não estão esperando sentados pela morte de velhas ideias. Estão investindo em seu discurso, em fazendas-piloto que repõem a terra e os animais que ela sustenta. Kirschenmann é presidente do conselho do Stone Barns Center for Food & Agriculture, uma extraordinária organização sem fins lucrativos a apenas meia hora de carro de Manhattan. Situada em 32 hectares verdejantes arrendados da família Rockefeller, a fazenda produz 36.300 kg de carne sem pesticidas, fertilizantes nem drogas, cerca de 22.000 dúzias de ovos e 226,80 kg de mel anualmente e conta com o melhor restaurante em Westchester County, o Blue Hill at Stone Barns. Agora com nove anos, o Stone Barns recebe visitantes pagantes cinco dias por semana, ensina crianças a se tornarem “cidadãos do alimento” e treinarão cerca de 1.000 novos fazendeiros neste ano para cultivar e vender alimento de maneira sustentável.
“Queremos repopular a comunidade das fazendas com pessoas inteligentes e sérias que fazem as coisas direito”, diz Kirschenmann em uma pastagem inclinada na qual uma dezena de bois Angus, com o couro brilhante como sapato engraxado, pasta em uma formação linear. “Até 2007, 70% de nosso alimento vinha de menos de 200.000 fazendas.” No entanto, com o aumento nos custos de energia e a escassez de outros recursos, os Estados Unidos terão de produzir sua carne e alimentos mais perto de casa, o que idealmente significará um retorno a fazendas locais pequenas e médias. “Até 2040, teremos 40 milhões de pessoas produzindo alimento nos EUA”, afirma Kirschenmann. Isso pode levar a “centros de comida” regionais como os existentes em Fresno, na Califórnia, onde fazendeiros da área trabalham juntos para fornecer a maior parte dos alimentos para a comunidade.
Subimos o morro e encontramos um bando de galinhas que correm para a sombra sob abrigos. “Chamamos isso de eggmobiles, ou ‘automovo’”, conta Craig Haney, diretor pecuário da fazenda. “Elas são movimentadas todos os dias para que as fezes se espalhem igualmente pelo campo.” Ele pega uma galinha que pisca devido à luz, mas calmamente nos deixa acariciar suas penas sedosas. “Nossos únicos insumos são sol, chuva e adubo – e tudo é reciclado, inclusive as penas.” Os ovos que essas galinhas põem, com gemas douradas, têm sabor tremendamente melhor do que os de fábrica. Embora não sejam baratos, Haney não consegue mantê-los em estoque. “Movemos 6.300 por semana e poderíamos vender 30% a mais se tivéssemos mais galinhas, mas sinto que este é o equilíbrio certo entre aves e pastagem e o mix certo de animais em geral.”
Além de bezerros, galinhas e frangos de corte, ele cria porcos e ovelhas e dois tipos de peru, todos abatidos depois de uma adolescência sociável e em seu peso ideal. O bom desta variedade é sua sinergia: as vacas mastigam a grama até que ela fique suficientemente baixa para as galinhas, então frequentemente – mas nem sempre – os porcos vêm e reviram o solo, preparando-o para sua próxima camada de relva. “Sempre precisaremos de animais para alimento”, diz Kirschenmann. “Sem eles, não teríamos adubo. A questão é: quantos a paisagem consegue aguentar antes que ela, e o sistema, se desfaça?”
No topo do morro, chegamos a um lamaçal, onde cerca de 30 porcos estão dormindo. Os mais jovens roncam como maconheiros depois do almoço na lama profunda. Diretamente do outro lado da pista, um porco reprodutor enorme se levanta quando nos vê chegando. Ele se aproxima lentamente, para nos cumprimentar ou expulsar de seu harém; em um cercado, três porcas dormem profundamente. “Ele é bastante ocupado”, conta Haney com orgulho, passando pelo arame para acariciar o lombo do animal. O macho, com os bigodes bronzeados cheios de terra, fecha os olhos e se entrega. Provavelmente, viverá até a velhice e as fêmeas com quem se acasala serão abatidas de forma humanitária. O porco da fazenda custa mais do que é comumente encontrado no mercado, mas essa não é a pior coisa do mundo. Quem sabe comeremos menos dele e o cozinharemos em casa, em vez de encher nossos filhos de fast food. Como o gado que criamos, ficamos mais gordos e doentes, dependentes de um coquetel horrendo de drogas. Temos uma escolha a fazer, que significa nada menos do que nossas próprias vidas: podemos tratar melhor os animais e curar nossos corpos em troca, ou nos tornarmos o último recurso do planeta a definhar irremediavelmente.
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