Baseado em fatos reais, filme trata de embate entre professora e historiador que nega o holocausto
Paulo Cavalcanti Publicado em 09/03/2017, às 12h50 - Atualizado em 12/03/2017, às 13h02
A negação de fatos históricos ainda é uma realidade lamentável. Mesmo com tamanhas evidências, ainda existem inúmeros negadores do holocausto ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial. O britânico David Irving, que já foi um respeitado historiador, é o principal porta-voz daqueles que acham que o extermínio de judeus nunca existiu. O embate judicial dele com a professora, pesquisadora e escritora norte-americana Deborah E. Lipstadt é o tema de Negação.
A história é baseada em fatos reais. David Irving, hoje com 78 anos, era um garoto interessado pela Alemanha e pelo regime nazista. Autodidata, ele aprendeu a falar alemão com perfeição. Na década de 1970, começou a pesquisar a fundo da Segunda Guerra Mundial. Com persistência e habilidade, conheceu membros sobreviventes do círculo íntimo de Adolf Hitler. Obteve depoimentos inéditos exclusivos de gente que antes nunca havia falado com jornalistas e historiadores. Teve acesso também a documentos nunca divulgados da era nazista. Irving parecia fazer um trabalho sério e isento. Hitler’s War (1977) se tornou um best-seller. Apesar de polêmico, ninguém podia negar que Irving era culto, talentoso e escrevia de forma envolvente.
Aos poucos, porém, ele foi revelando sua verdadeira natureza. Começou a negar o holocausto e revisou seus livros anteriores, que ainda continham referência ao extermínio. Agora, escrevia que Hitler não sabia do Holocausto. Quanto às mortes nos campos de concentração, Irving argumentava que a culpa foi do tifo e que os judeus foram vítimas das circunstâncias cruéis de uma guerra. Nas palestras e entrevistas, Irving revela um forte antissemitismo, e ainda passou a frequentar círculos indesejáveis da direita mundial, tornando-se herói de skinheads e neonazistas. De "escritor sobre o nazismo", virou "escritor nazista".
No final da década de 1980, ele já era uma figura digna de ridículo e desprezo. Os integrantes dos círculos acadêmicos, que antes apenas o toleravam, agora fugiam dele. As editoras não queriam mais saber dos livros dele. Irving virou uma pária e persona non grata em inúmeros países, passou a ser o negador mor do holocausto no planeta. Em 1993, Deborah Lipstadt, escritora e professora de assuntos judaicos da Universidade Emory, de Atlanta, publicou Denying the Holocaust: The Growing Assault on Truth and Memory e nele citou Irving como um notório negacionista. Por incrível que pareça, ele se sentiu ofendido e resolveu processar a escritora e também a editora dela, a Penguin Books.
O caso chegou aos tribunais em 1996 e foi decidido em 2000. Estavam e jogo a liberdade de expressão e a metodologia para se colher dados histórico. Sem dúvida, um material bastante interessante para uma adaptação cinematográfica. Negação, o filme baseado no caso, tem direção de Mick Jackson e, na pele dos antagonistas, estão Rachel Weisz (Deborah) e Timothy Spall (Irving).
A ação se desenrola em Londres. Irving achou que lá seria muito fácil ganhar a causa devido às particularidades da justiça inglesa. A norte-americana Deborah Lipstadt se encontra em uma posição difícil. Ela é recebida com frieza pela comunidade judaica inglesa, que não quer ser associada a nada que tenha a ver com o repelente Irving. Mas graças a contribuições de figurões como Steven Spielberg, ela consegue contratar um dream team de caros advogados ingleses, incluindo Anthony Julius (Andrew Scott), o jurista que conduziu o caso de divórcio da Princesa Diana, e o renomado Richard Rampton (Tom Wilkinson).
A tática da equipe contratada por Deborah é deixar o falastrão e arrogante Irving se enforcar com a própria corda. Por isso, os advogados não permitem que nem ela ou sobreviventes do holocausto testemunhem. Na opinião deles, Irving, dono de uma inteligência maligna, iria fazer picadinho de todos e promover um circo no tribunal. O que os juristas querem é sobriedade e a verdade. Através de uma argumentação precisa aliada a uma bem colocada agressividade, Rampton desmonta as mentiras e apologias de Irving, que segue por todo o julgamento afirmando que nada aconteceu no campo de Concentração de Auschwitz-Birkenau. Para ele, as mortes foram apenas “infelicidade” ou “má sorte”. Durante todo o desgastante processo, Deborah, muito contrariada, é obrigada a permanecer em silêncio, queimando por dentro com o cinismo e desfaçatez do escritor.
Negação foi baseado em um outro livro de Deborah Lipstadt, chamado History on Trial: My Day in Court with a Holocaust Denier, em que ela recorda como foi o processo. O filme é um eficiente drama de tribunal, com pouco apelo sentimental. A sequência mais memorável acontece quando ela, Rampton e outros juristas visitam a região de Auschwitz, na Polônia, para colher provas. As imagens dos campos desolados cobertos de neve, as cercas com arame farpado e as montanhas de sapatos, óculos, roupas e outros pertences das vítimas do extermínio dentro dos antigos barracões são mais contundentes mais do que todas as palavras faladas durante o julgamento.
O filme tem acabamento de drama de televisão da BBC, que, aliás, é um das produtoras do longa. As interpretações são brilhantes (o Irving de Spall é fascinante, de uma forma repulsiva, claro) e Wilkinson enche a tela com fleuma britânica. Pena que a inglesa Rachel tropece no sotaque da personagem nova-ioquina e nem sempre dê um tom adequado as motivações da personagem. Descontando alguns problemas, este é um filme importante e obrigatório.
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