Agora um trio, o grupo divulga El Pintor, quinto álbum de estúdio da carreira
João Vitor Medeiros Publicado em 21/09/2014, às 10h20 - Atualizado às 21h39
Após lançar Turn On The Brights Lights, o aclamado disco de estreia, que saiu em 2002, o Interpol foi automaticamente alçado à condição de uma das mais importantes bandas surgidas no começo desse século. Quatro discos e mais de uma década depois, cercados de incertezas, o grupo anunciou um novo álbum, El Pintor, que conta com 10 faixas. É o primeiro registro da banda como um trio, após a saída do baixista Carlos Dengler, e a primeira vez que o vocalista e letrista Paul Banks ficou também responsável pela gravação do baixo nas músicas. El Pintor pode ser considerado tanto um sopro de renovação para o grupo quanto um retorno à velha forma, em falta nos últimos discos.
Para falar sobre El Pintor, a formação atual da banda, relacionamento entre os integrantes e perspectivas para o futuro, a Rolling Stone Brasil conversou com o guitarrista e vocalista Daniel Kessler e o baterista Sam Fogarino.
Por que vocês escolheram chamar o disco de El Pintor? Eu sei que é um anagrama (para Interpol), mas existe alguma outra razão?
Daniel Kessler: Eu acho que com títulos às vezes você consegue encontrar algo que, literalmente, tenha 100% a ver com o conteúdo do disco e às vezes é algo mais abstrato, que você sinta se encaixar, algo mais expressivo e poético. Foi Paul [Banks, o vocalista] quem sugeriu El Pintor e eu gostei de cara. Simplesmente gostei. Eu consegui visualizar na hora como ia ser a capa e como o título ia ficar posicionado ali e pareceu certo para mim.
Eu acho que El Pintor é o melhor trabalho de vocês desde Turn On The Bright Lights (2002), você concorda?
DK: Obrigado, eu agradeço. Mas, para falar a verdade, eu não sento e penso em qual posição nossos discos se encaixam, qual o melhor. Eu adoro todos eles, eles documentam momentos da nossa história. Dito isso, eu me sinto muito bem com relação a esse disco, muito confiante com relação às letras, as músicas funcionaram muito bem com a banda e nós o gravamos com muita energia. Eu gosto muito do fato de que, do começo ao fim, existe ali um “sentimento de álbum” e, no final, é um registro forte, um bom registro, não existe uma música que eu acho que tenha que levar o disco sozinha.
Essa foi a primeira vez que vocês escreveram um disco com três membros. Como isso funcionou?
Sam Fogarino: Foi bom, por anos nós tivemos um quarto membro e nos vimos sem ele e tivemos que continuar. Então não teve muito planejamento nisso, tipo “o que nós vamos fazer sem o Carlos”, sabe? Quanto chegou a hora, simplesmente fomos trabalhando e felizmente produzimos um bom disco.
DK: Bom, as músicas começam comigo, então eu comecei a escrevê-las depois que terminamos a última turnê e daí nós não tínhamos um plano exato. Nós nos juntamos, Paul e eu nos juntamos primeiro, para ver o que íamos fazer, mas não havia nada definido, além de fazer música e daí ele disse logo: “talvez eu devesse tocar baixo, porque estou curtindo hoje em dia”. Eu falei que tudo bem, que fazia bastante sentido pra mim. E tudo foi avançando rápido e tinha uma energia muito boa. Dias depois, a energia continuava, nós estávamos tocando muito bem em três. Simplesmente continuamos a fazer o que tínhamos que fazer e as músicas foram acontecendo e foi tudo muito bem, mas não sabíamos exatamente o que ia acontecer, não tínhamos nenhum plano e as músicas foram crescendo, crescendo e crescendo de maneira orgânica e todos nós gostamos do processo.
Por que Carlos [Dengler, o ex-baixista] deixou a banda?
DK: Ele queria fazer outras coisas da vida dele. Eu entendo. Nós somos uma banda e nós excursionamos extensivamente, nós fizemos 200 shows no último disco, é um grande compromisso e eu acho que ele queria perseguir outras coisas na vida dele. Ele só queria sair e fazer coisas novas.
Escutando o disco, algumas vezes senti que havia uma raiva acumulada ali. Você sentiu isso?
DK: Nas letras?
Não só nas letras, na própria música. Às vezes mesmo o seu jeito de tocar guitarra parecia raivoso.
DK: Não acho que eu estivesse com raiva. Quando você tem a chance de criar algo novo artisticamente, você quer se expressar, sabe? Às vezes é só você sendo expressivo, não necessariamente tem a ver com raiva, é sentimento, paixão, você tenta ser pessoal, não é sobre criar uma música que funcione, simplesmente, é fazer uma declaração, tirar vantagem de ter a oportunidade de dizer algo.
Assista ao clipe de “Twice As Hard”:
Vocês têm alguma faixa preferida no disco?
DK: Eu não tenho. Eu não tenho mesmo. Eu sou bem da velha guarda no que diz respeito a escrever um disco e como cada música pode ser a favorita de alguém. Não quero que uma música carregue o disco, seja a embaixadora dele. E cada uma delas poderia ser a minha favorita, eu mudo de opinião a cada dois dias, mas eu não tenho uma favorita, mesmo.
SF: Depende do dia, meio que muda o tempo todo, gosto de todas elas, mas sabe, tem momentos em que você gosta mais de determinada música. Acho que pra responder bem a sua pergunta, eu gosto muito de uma música chamada “Tidal Wave”.
É a minha preferida do disco também. Acho que é uma das melhores músicas que vocês já fizeram.
SF: É, tem algo nela... Eu acho que foi a música final do disco, a última que escrevemos, logo antes de ir pro estúdio e tem algo sobre ela... Talvez porque não demoramos muito a escrevê-la, foi bem instantâneo, aconteceu muito rápido, e às vezes é isso. Não é que não tenhamos trabalhado duro, mas com essa aconteceu muito rápido e, sabe, é meio que legal quando você consegue rapidamente dizer o que você queria musicalmente. Não que se esforçar seja ruim, mas às vezes você simplesmente não precisa [risos].
Turn On The Bright Lights foi um grande sucesso, aclamado pela crítica. Vocês ainda sentem pressão de segui-lo, mais de dez anos depois?
DK: Nunca senti pressão de fora ou algo como isso. Existe mais uma pressão interna pra que você sinta que fez algo mais puro que aquilo. Você tem que sentir feliz antes, isso é o mais importante. E essa é a verdadeira pressão. E eu fico animado porque a cada poucos anos eu tenho coisas novas a dizer, quero sair e trabalhar com os outros caras e nós vamos tentar fazer o melhor disco de todos. E pra mim, eu penso mais em termos como esse, me fazer feliz primeiro e eu não acho que seja sobre viver tentando superar conquistas. E também é o seu primeiro disco e é só rock and roll, tem tantos primeiros discos de tantas bandas que as pessoas simplesmente amam na história do rock, é lindo, mas nessa tradição também existem grandes discos feitos mais tarde.
SF: Você meio que não pensa nisso, quer dizer... você sempre gosta do que está fazendo no momento e às vezes é necessário que você tome caminhos diferentes, sabe, pra chegar aonde você quer estar, até certo ponto. Eu acho que uma coisa boa que aconteceu com El Pintor foi que ele jogou uma nova luz sobre nossos trabalhos anteriores, porque eles foram responsáveis por nos levarem até esse ponto, onde escrevemos El Pintor e isso não teria acontecido se não tivéssemos feito esses outros discos. E aí você precisa ir por certo caminho e você não sabe onde vai chegar, mas quando você chega lá, sente que valeu a pena.
A maioria das músicas do Interpol começa com você. Você costuma tirar inspiração de algo em especial ou simplesmente acontece naturalmente?
DK: Acontece naturalmente. Eu amo compor e às vezes uma ideia simplesmente brota na sua cabeça. Não é como se você tivesse tentando escrever algo específico, algo surge do nada e eu nunca entendi o processo e eu meio que gosto de não entende-lo.
Como você se sente sobre as letras da banda? Eu sei que é o Paul quem as escreve, mas muitas vezes elas estão abertas a diferentes significados. Você costuma perguntar a ele o que ele quis dizer?
DK: Eu gosto que elas estejam abertas a diversos significados. Paul e eu conversamos, às vezes ele quer me falar sobre e eu adoro ouvir sobre isso, sobre as ideias que ele tem e o que ele quer fazer, mas eu também gosto de criar minhas próprias conexões sozinho. E você pode criar o seu próprio mundo, não precisa de alguém para te dizer: “isso significa uma única coisa”. É isso que significa pra mim.
SF: O que eu gosto das letras é que elas não são óbvias, elas são ambíguas, aberta a interpretações. As coisas que são literais são tão bonitas e simples, tem algo no jeito que ele conta uma história que tem grande apelo em mim. Sempre gostei de como ele escreve, sempre há briga na relação, uma tensão criada, sabe? E toda dor, elas são sempre muito doloridas.
Muitas vezes o Interpol é visto como uma banda sombria, melancólica. O que vocês acham disso?
DK: Eu não penso na gente como uma banda melancólica. Nós somos expressivos, nós temos um tipo de humor e temos paixão pela nossa música.
SF: Acho que às vezes, quero dizer, é justo dizer isso. Mas não sempre. Você olha pro noticiário, as coisas que afetam as pessoas são sempre coisas ruins, coisas sombrias que acontecem no mundo e de vez em quando há alguma coisa muito boa que vai chegar ao noticiário e as pessoas vão ser gratas a isso, mas é como se gravitássemos pelo lado escuro da vida. É furioso, sendo em filmes, livros ou na realidade e eu acho que com a banda, com o Interpol, é onde as pessoas gravitam. E existem músicas que são pra cima e mais post-punk que melancólicas, mas nas quais isso ainda está presente. Foi por isso que eu me juntei à banda no começo, para não ter medo de explorar esse lado meu, da condição humana, se posso dizer assim.
O Interpol tem algumas músicas que falam da relação com drogas. Como é essa relação hoje em dia? Isso ainda afeta vocês?
SF: [Risos] Bem, ninguém na banda usa mais drogas. Isso é coisa de gente jovem. É bem simples, sabe, no rock and roll isso vai acontecer. Você está em uma banda, está viajando o mundo, tudo é muito excitante e você toma substâncias que apenas realçam a excitação e o prazer do que você está fazendo, mas... (pausa) não dá para continuar nesse ritmo. Quanto mais velho ficamos, vamos chegando em um ponto em que queremos aproveitar as coisas, a realidade das coisas, não uma ilusão disso. Você precisa ser puro em um certo ponto e, bem, eu provavelmente teria tido um ataque do coração nesse ponto [risos]. Em determinado momento isso fica chato, sabe, drogas e tudo isso.
Vocês já estão juntos há muitos anos. Você se vê tocando com a banda daqui a 20 anos?
SF: Se ainda estiver acontecendo, eu estarei lá. E se terminar, vai ser por um bom motivo. Eu não quero que a banda acabe, eu gostaria de ainda estar fazendo isso em 10 anos. Quando eu era mais jovem, costumava achar que o rock and roll era pra gente nova e aqui estou eu, com 46 anos [risos].
Vocês têm planos de tocar no Brasil em breve?
DK: Nós temos. Definitivamente nós temos. Estamos trabalhando nisso agora e esperamos em breve ter o plano completo finalizado pra que possamos anunciar. Estamos trabalhando nisso.
SF: Não há nada 100% ainda, mas definitivamente vai acontecer ano que vem. Poderiam ser alguns festivais e definitivamente alguns shows menores para a banda.
Vocês tocaram no último Lollapalooza em Chicago e nós temos o Lollapalooza aqui também...
SF: Bem, talvez toquemos nesse também.
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