Documentário do diretor brasileiro Jefferson Mello está em cartaz nos cinemas desde 13 de novembro
Lucas Borges Publicado em 18/11/2015, às 17h30 - Atualizado às 19h36
Foliões, essencialmente negros, adornados por vistosas fantasias cheias de plumas, desfilam para o público ao som de ritmos africanos sincopados por instrumentos de percussão. Dançam com desenvoltura em movimentos que parecem se estender da unha do pé até o último fio do cabelo.
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O documentário Samba e Jazz está cheio de momentos assim, de epifania. A cena descrita acima, por exemplo, para um brasileiro é imediatamente identificada como um desfile do carnaval do Rio de Janeiro. Trata-se, contudo, de um retrato do carnaval de New Orleans, berço do jazz, em Louisiana, sul dos Estados Unidos.
O enredo montado pelo diretor Jefferson Mello, contrapondo imagens e histórias da escola de samba Império Serrano e dos grupos do Mardi Gras norte-americano, passeia com o espectador por um caminho de descobertas. A todo instante se revelam incríveis similaridades entre as artes criadas pelos afrodescendentes cariocas e pelos norte-americanos.
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“Fui fotógrafo durante 20 anos. Minha atuação era publicidade, moda e muita música”, conta à Rolling Stone Brasil o diretor, frequentador de rodas de samba e apaixonado por jazz que decidiu transpor seu amor para as telas. “Logo na primeira ida a New Orleans chamei conheci Gregg Stafford [músico retratado no filme] e ele acabou me convidando para uma parada de jazz. A quantidade de imagens parecidas com o universo do Rio e Janeiro era impressionante. Fiquei com aquilo na cabeça de fazer um documentário sobre a similaridade.”
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Idas e vindas à capital do jazz rendaram mais amizades e geraram o livro Os Caminhos do Jazz. Em 2015 saiu o longa, Samba e Jazz, que está desde sexta-feira, 13, nos cinemas do país. Além de embasbacar o público com tantas semelhanças – e também algumas diferenças, como a participação das mulheres em cada um desses universos festivos –, Mello revela que “Queria mostrar a diferença do músico que está conectado com a própria cultura e contra a globalização.”
“Os clubes de jazz foram criados essencialmente pelos músicos por um componente social, ajudar os amigos, viabilizar as paradas. A meta sempre foi colocar o bloco na rua. As escolas de samba no passado tinham também um papel social muito importante, que existe hoje. Mas elas se perderam nessa questão comercial. Lá [nos EUA] eles continuam com essa coisa romântica.”
À parte a riqueza de imagens e depoimentos, a obra de Mello pode deixar a desejar pela falta de foco, pela repetição de alguns temas em detrimento de uma abordagem mais profunda de outros. Não se destrincha, por exemplo, o motivo de cada gênero ter tomado rumos diferentes, priorizando-se a percussão aqui e os metais por lá.
E por que samba e jazz possuem tanto em comum? Esta resposta já foi justificada anteriormente por outros especialistas – como pelo pianista Dr. John no livro Do Vinil ao Download, de André Midani – pela origem em comum das tribos africanas levadas a essas regiões específicas do Brasil e dos Estados Unidos e também pode ser desvendada pelo diretor brasileiro em suas próximas produções.
“Meu próximo filme começo na África, Angola e os navios negreiros que foram para o Mississippi, Cuba e o Rio de Janeiro, o jongo. Vou mostrar que o africano é o protagonista na música. Quero me aprofundar mais ainda e dessa vez com o blues, pelo qual também sou apaixonado”, afirma ele. Além disso, Mello trabalha com a ideia de realizar um outro documentário, sobre os quilombos e as populações quilombolas.
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