Relembre como “a banda que salvou o rock” lidou com o sucesso de seu álbum de estreia
Neil Strauss | Tradução: J. M. Trevisan Publicado em 29/07/2021, às 12h00
Para celebrar os 15 anos da Rolling Stone no Brasil, continuamos recuperando as melhores reportagens publicadas na revista desde 2006. Nesta semana, é o momento de relembrar os primeiros passos da banda The Strokes, que lançou seu impactante álbum de estreia, Is This It, há exatos 20 anos, em 30 de julho de 2001.
No texto a seguir, veiculado originalmente na edição 935 da Rolling Stone EUA [novembro de 2003] e publicado posteriormente na edição 59 da RS Brasil [agosto de 2011], o jornalista Neil Strauss subverte os formatos e apresenta uma espécie de crônica sobre sua tentativa de compreender os integrantes do Strokes enquanto se preparam para lançar Room on Fire, o sucessor de Is This It. O foco especial é no caricato vocalista Julian Casablancas, que parece se esforçar em não facilitar a vida do jornalista.
O texto de Strauss – que lançou um livro sobre suas entrevistas mais desastrosas – é de uma acidez raramente vista na imprensa nos dias de hoje, retratando o quinteto nova-iorquino sem focar em suas virtudes, ainda que jamais critique seus integrantes diretamente. Se não é a imagem mais positiva que poderíamos ter da “banda que salvou o rock”, é provável que seja das mais sinceras e interessantes.
–Pablo Miyazawa, ex-editor-chefe da RS Brasil
Supostamente era para ele ter aparecido às 9 da noite, mas, quando aparece, já passa da meia-noite. O atraso, porém, será compensado passando as próximas sete horas e 45 minutos comigo. Não por gostar ou não de mim. E sim porque é isso o que ele faz. Seu nome é Julian Casablancas, e como vocalista do Strokes, ele é abençoado com o talento de falar o que quer. É capaz de se conter a noite toda, rodar em círculos verbais por 15 minutos, se perder e começar tudo de novo. Ele parece não ter rumo certo. Vive o momento. Não tem nem mesmo celular, computador ou relógio. Mas suas intenções são as mais nobres.
“Usar heroína é como andar por aí com um terrorista como se ele fosse seu amigo”, diz ele a um camarada que havia começado a usar a droga. O monólogo de advertência de Casablancas dura 20 sinceros e resmungados segundos, seus lábios a poucos centímetros dos de seu amigo. “É como levar um terrorista a uma festa”, continua ele. “Nunca se sabe quando ele vai explodir em você.”
Casablancas está vestindo uma camisa com as palavras U.S. GARBAGE COMPANY [Companhia de Coleta de Lixo Americana] e calças pretas gastas. A camisa é propriedade de seu colega de quarto, o guitarrista Albert Hammond Jr. Em seu pulso há três pulseiras de cores berrantes que ele não se deu ao trabalho de tirar – uma de um show do Kings of Leon há uma semana, outra de um show dos Stooges sabe-se lá de quando. Verei Casablancas quase todos os dias pela próxima semana: seus trajes e braceletes não mudarão, embora ele alegue que suas roupas de baixo e meias mudem. Ele terminará todas as noites com uma garota com quem ele não dormirá. E falará sobre tudo, de casas de strip e terrores noturnos a seu ódio por batatas fritas Pringles. Mas, quando chega a hora de uma entrevista formal, ele me concede a pior que já fiz na vida. E ela dura apenas sete minutos.
O Strokes não é apenas uma banda. Assim como o Nirvana tornou-se a cara do grunge no começo dos anos 1990, o Strokes virou a cara da nova cena do garage rock. E, assim como o Nirvana, o Strokes foi adotado pelos designers das tendências da moda, os arautos da morte de tudo o que é sincero.
Claro que tecnicamente o Strokes não pertence a cena alguma, porque nunca teve amizade com bandas compatriotas. De acordo com o baterista Fabrizio Moretti, o Strokes originalmente tentou formar uma cena de bandas de Nova York que sairiam juntas, beberiam e iriam aos shows umas das outras, mas “na época era tudo tão competitivo que nenhuma delas se mostrou aberta a isso”.
No que se refere ao garage rock, os integrantes nunca mencionaram bandas como Stooges ou Troggs enquanto discutiam seu segundo disco, Room on Fire. Em vez disso, Hammond Jr. credita as guitarras em tom de reggae de "Automatic Stop" a “Girls Just Want to Have Fun”, de Cyndi Lauper; Casablancas põe a culpa da guitarra estridente de “The End Has No End” em “Sweet Child O' Mine”, do Guns N' Roses; e o guitarrista Nick Valensi declara sua lealdade ao gótico. “Há algumas linhas de baixo em nosso primeiro álbum que são 100% roubadas do Cure”, diz ele. “Estávamos com medo de lançar o álbum porque achávamos que seríamos pegos.”
A verdadeira semente de onde floresceu o Strokes foi plantada quando Pierre, irmão do baixista da banda, Nikolai Fraiture, deu a Casablancas um CD do Velvet Underground de presente de Natal. A música serviu de epifania para Fraiture, Casablancas, Valensi e Moretti. O sonho quando formaram o Strokes, de acordo com Casablancas, “girava em pegar o Velvet Underground e imaginar como seria 'se eles fossem muito famosos'. E o objetivo era ser muito cool e nada mainstream, e ser muito popular”.
“Por que tudo que é grande e popular tem que ser uma merda?”, Casablancas questiona. “Não concordo com essa ideia, por isso estou tentando fazer algo a respeito.”
Julian Casablancas é atormentado por algo chamado imprensa. Frequentemente ele imagina as coisas que diz explodindo em manchetes nas revistas e tenta voltar atrás. Com o passar do tempo e das cervejas, entretanto, o papo se solta e as piadas ficam mais afiadas. Casablancas é abençoado com um raciocínio rápido, e, se você prestar atenção o suficiente, ouvirá o vocalista soltar comentários de bate-pronto que, quando ditos em sua voz lenta, modorrenta, parecem ainda mais engraçados.
Fora do alcance auditivo de duas garotas que grudaram nele esta noite, Julian explica que jamais havia ido a uma casa de strip até recentemente, e que não gosta desses lugares: sua primeira experiência com uma lap dance o afetou tanto que ao chegar em casa precisou se masturbar duas vezes.
Enquanto ele conta a história, a jukebox enche a sala com uma tocante canção de Sam Cooke, “A Change Is Gonna Come”, e as garotas se aproximam. O tempo congela para Casablancas. “Quando ouço essa música, me sinto frustrado.”
Por quê? “Não importa o quanto eu tente, nunca vou conseguir ser bom assim”, ele responde.
Uma das garotas pergunta se ele já pensou em ter aulas de canto.
Na tarde seguinte, encontro Albert Hammond Jr. na loja Tower Records. Sua barba parece estar por fazer há dias, e ele veste um casaco esporte com listras finas sobre uma camiseta do avesso. Ele também estará usando esse mesmo uniforme em todas as noites em que nos encontramos. Sua coleção de CDs foi roubada quando ladrões entraram em seu apartamento no ano passado, e ele está repondo o que foi perdido – Ziggy Stardust, de David Bowie, 69 Love Songs, do Magnetic Fields, e três CDs do Guided by Voices, uma banda que, de acordo com o baixista Fraiture, serve como exemplo de aspiração para o Strokes: semipopular, ganhando dinheiro o suficiente para sobreviver e capaz de se manter por tempo o suficiente para lançar uma dúzia de álbuns.
Hammond está ansioso para chegar em casa e ouvir seus novos discos. “É como comprar pornografia e esperar para tocar uma”, diz ele, sabiamente.
Em outra loja de discos, a Other Music, ecoa um CD do Jet, uma jovem banda australiana de garage rock. “Esses caras me fazem querer parar de tocar”, diz Hammond. Ele os acha artificiais, que as músicas da banda são vazias, que as faixas são repetitivas e que o CD é superestimado. Exatamente as críticas que foram feitas com relação ao Strokes no passado.
“Sei por que tiram sarro da gente”, diz Hammond. “Nas entrevistas, acho que damos a entender que somos esquisitos e pretensiosos. Então, quando nos conhecem, descobrem que somos legais. Gosto de ser legal. Quero ser legal com as pessoas.”
Na verdade, o que ninguém percebe a respeito do Strokes é o quanto eles trabalham duro e seriamente, particularmente Casablancas e Hammond (no começo de carreira, Hammond marcava os shows e assediava executivos de gravadoras, afirmando ser o empresário da banda e usando o pseudônimo Paul Spencer). O exterior passivo, sorridente, de fala agradável de Hammond esconde uma pitada de astúcia e ambição.
“Só como duas coisas no almoço”, diz ele. “Café da manhã ou sushi.”
Hammond já tem os números de telefone de vários restaurantes programados no sistema de discagem rápida de seu celular. Ele se decide por sushi no Blue Ribbon. Ao se sentar para comer, o telefone toca. É a mãe dele. Ele não atende.
“Não sou um bom filho”, diz. “Não telefono para ela o suficiente. Ela só me segura na linha e diz que me ama. E eu fico: 'É, é, é. Mãe, tenho que ir'. A última coisa que você quer ao chegar em casa depois de uma turnê é uma ligação de sua mãe.”
Depois de comer, andamos até o luxuoso hotel 60 Thompson, onde o Strokes está dando entrevistas em uma suíte de cobertura. No momento, um repórter alemão pergunta a Moretti e Fraiture “qual a diferença entre seu primeiro álbum e este?” No meio da pergunta, o baterista sai andando, deixando Fraiture com o repórter. “Que cuzão”, diz Moretti.
Do lado de fora, Moretti se senta em um degrau e responde meditativamente às questões dirigidas a ele. Temos até as 11h30 da noite, já que depois disso ele quer assistir à participação de sua namorada, a atriz Drew Barrymore, no The Tonight Show with Jay Leno. Enquanto conversamos, ele batuca na perna com os dedos e explica que é um hábito obsessivo compulsivo – marcar a cadência de seus pensamentos e fala. “Temos um ritmo em tudo que fazemos”, diz ele. Então aponta para os pés das pessoas que passam. “Olhe, eles estão criando batidas enquanto andam pela rua. Um, dois. Um, dois. E as batidas de seus corações também estão em um certo ritmo.”
Ele admite que nem todo mundo gosta de seu hábito. “Já irritou meus amigos, namoradas, pais”, diz ele. “'Pare com essa batida, seu filho da puta'.” De fato, Casablancas diz que a primeira coisa que pensou quando conheceu o então hiperativo Moretti na escola foi que o garoto era “um pouco irritante”. Mas hoje Moretti é o intelectual de fala mansa do Strokes.
Mais tarde, encontro-me com Hammond e Casablancas no bar 2A. É uma noite dura para o vocalista, que está de novo reclamando, dizendo o quanto odeia as batatas Pringles. Hammond, que está saindo com Catherine Pierce (uma das metades da dupla de countrypop The Pierces), hoje resolveu ir para a balada com os rapazes. No fim da noite, eu o vejo descendo escadas, perguntando sobre o paradeiro de seus sapatos – e ele estava usando sapatos (Casablancas diz: “Só para constar, nenhum de nós usa drogas. Oi, mãe”).
Às 5h30 da manhã, uma hora depois de eu sair do bar, Hammond me liga, perguntando onde está todo mundo. Ele ainda está pensando em continuar na balada. Na tarde seguinte, ao meio-dia e vinte, ele me liga de novo.
Hammond: Você me ligou de manhã?
Eu: Bem... não. Você me ligou. Não se lembra?
Hammond: Ok, claro. Como você está?
Eu: Ok. E você?
Hammond: Fazia tempo que eu não saía assim. Precisava disso.
Eu: É, foi bem divertido.
Hammond: É. Me diverti tanto que minhas orelhas doem.
Na noite seguinte, encontro Casablancas no 19th Hole, uma casa noturna no East Side, para uma entrevista mais tradicional. Você já sabe o que ele está vestindo. O vocalista está cansado por ter passado o dia brigando com a gravadora por causa do design da capa de Room on Fire e por ter dado entrevistas. Ele anuncia com orgulho evidente que finalmente inventou uma resposta padrão para a “pergunta sobre Nigel Godrich”. Originalmente, a banda contratou o produtor do Radiohead para trabalhar no disco. Mas seus métodos não bateram, então a banda resolveu voltar para Gordon Raphael, que produziu a estréia do Strokes, Is This It (2001), e gravou o novo CD em apenas dois meses. É parecido com o primeiro, mas mais refinado, uma versão do Strokes mais redonda e eficiente em estúdio. Pergunto a Casablancas qual sua citação preferida sobre Godrich, e ele me diz que vai contar quando a entrevista começar. Parece uma boa hora para colocar o gravador para trabalhar. E assim começa a pior entrevista de todos os tempos. O negócio com Casablancas é que ele divaga como se não estivesse nem aí, mas, se você convive com ele tempo o suficiente, percebe que é ultraperceptivo quanto a tudo o que acontece à sua volta. Digo isso a ele.
“Isso é o que você acha”, ele diz, quase defensivamente. “Eu vejo a mim mesmo de fora de meu ponto de observação, que quer dizer que não tenho ideia do que está acontecendo do outro lado. Eu acho que simplesmente tento ser uma boa pessoa – e falho.”
Com isso, Casablancas pega o gravador e desliga. Olho para ele. Ele olha para mim. Então ligo de novo o gravador e tento recomeçar.
Eu: Qual é sua resposta padrão sobre Nigel Godrich?
Casablancas: Vai se foder. Não vou responder isso.
Eu: Mas que inferno?
Casablancas: Próxima pergunta.
Eu: Honestamente, essa deve ser a pior...
Casablancas: ...a pior entrevista de todos os tempos?
De novo, ele pega o gravador do outro lado da mesa e coloca sua unha suja sobre o botão de STOP. E então ele fica lá sentado, oscilando e encarando. Sugiro parar a entrevista e ter uma conversa normal, mas com o gravador ligado. Ele recusa.
“É que não tenho nada profundo a dizer”, diz.
Explico que não se espera nada profundo vindo dele.
“Não tenho nada a esconder”, ele diz. “Mas o que quis dizer foi que se não consigo nem lembrar o que eu estava dizendo é porque há tanta coisa a se fazer, e tão pouco tempo. E tudo que eu tenho a dizer não vai estar nesta entrevista para a Rolling Stone.”
O problema, Julian explica, é que ele acredita em um poder maior, que alguns chamam de Deus. E nesse momento esse poder superior está dizendo a ele que não é a hora certa para que diga qualquer coisa. E continuará não sendo a hora enquanto o Strokes não provar seu valor a eles mesmos e ao mundo, até que eles façam algo que ele qualifica como “inegável”.
“Gostaria apenas de chegar a um ponto onde talvez possamos dizer algo que seja 'relevântico'. Aliás, essa palavra nem existe. E estou ansioso pelo futuro, blá-blá-blá.”
Minutos depois, Casablancas pega sua cerveja, vira quase inteira em um único gole, bate a garrafa na mesa, se levanta e anda até a máquina de fliperama. Ele se vira para o bar. “Alguém quer jogar Golden Tee?”
Ninguém responde. Quatro minutos depois, ele volta à mesa. “Nunca jogue Golden Tee bêbado”, aconselha.
Então senta no meu colo, me beija sete vezes no pescoço e tenta três vezes me dar um selinho, sendo bem-sucedido em uma delas. Antes que eu possa me limpar, ele já saiu pela porta, seguindo para casa, sentado em uma cadeira de rodas que alguém largou na rua.
Na noite seguinte, encontro Casablancas no Gramercy Diner. Ele prometeu se comportar desta vez. Seus olhos estão mortos pela falta de sono. “Eu costumo sofrer de terrores noturnos”, diz Casablancas. “É uma coisa frequente. Já morri durante o sono de umas 23 formas diferentes.” Ele pede desculpas por seu comportamento no dia anterior. Estava bêbado.
Eu: Ninguém se preocupa com o fato de você beber ou tenta fazer você parar?
Casablancas: Não. Acho que eles sabem que, se a coisa ficar muito fora do controle, normalmente eu mesmo paro sozinho.
Eu: E como você sabe que saiu do controle?
Casablancas: Quando estávamos gravando o disco, parei de beber por cinco meses.
Eu: Como fez isso?
Casablancas: Percebi que estava chegando ao ponto em que isso iria afetar seriamente a minha música. Ficaria tão de ressaca que seria incapaz de me sentar e cantar. Beber destrói sua capacidade mental a menos que você se mantenha bebendo. Toda vez que eu ficava de ressaca, tudo parecia muito negativo. Então eu pensava: 'Foda-se, preciso de um drinque'. E aí você bebe e fica tudo bem.
A primeira vez em que fiquei bêbado foi quando eu tinha 10 anos”, diz Julian Casablancas. “Fiquei tipo: 'Uau. O que é isso? É incrível!' Meu corpo imediatamente adorou.”
Eu: O que as outras pessoas acham?
Casablancas: Sua namorada pode te abandonar e sua mãe pode gritar com você, mas quando você começa a sentir que está atrapalhando sua música, é sinal de que a coisa não é boa.
Eu: Quando você ficou bêbado pela primeira vez?
Casablancas: Provavelmente quando eu tinha 10 anos, em um jantar. Havia bebidas na mesa, e acho que virei todas, e fiquei tipo: “Uau. O que é isso? É incrível!” Meu corpo imediatamente adorou. E eu pensei: “A vida na verdade é do caralho em todos os sentidos”.
Após uma parada para fumar, Casablancas pede uma cerveja e um sanduíche, e falamos por cerca de três horas. Discutimos seu tempo de escola, quando ganhou um prêmio por seu papel na peça The Caucasian Chalk Circle, de Bertolt Brecht, antes de largar os estudos; e falamos sobre Nirvana e Pearl Jam, as primeiras bandas a inspirá-lo. “Não consigo nem explicar”, diz ele sobre a primeira vez em que ouviu “Yellow Ledbetter”, do Pearl Jam. “Foi como a primeira vez em que bebi.”
Ele conta que, se não fosse músico, seria “um bartender tentando ser escritor”.
O único assunto tabu é o pai. John Casablancas foi o fundador da agência Elite Models. O divórcio dos pais ocorreu quando o garoto tinha 9 anos, e, embora conviva com ele, Julian tende a culpar John por muitos dos seus maus hábitos, particularmente no que diz respeito a mulheres. Julian relembra uma piada que seu pai contou certa vez, sobre um grupo de touros: um touro disse que podia fazer sexo dez vezes em um dia, o outro disse que podia fazer 20 vezes, e um terceiro se gabou que conseguia 50 vezes. Então um quarto touro chegou e disse: “É, mas não com a mesma vaca”.
“Nem é engraçado, na verdade”, diz Casablancas, “mas tem uma mensagem aí”.
“Falei para ele outro dia”, ele diz, se referindo ao pai, “'Amo você com seus defeitos e qualidades'”.
Meu celular toca. É Hammond. Ele quer falar com Casablancas. É assim que se entra em contato com um vocalista que não tem celular. Os dois estão planejando ir ao cinema mais tarde.
Houve um tempo em que a maior parte do Strokes vivia junta. Mas um a um os integrantes foram se distanciando ou desaparecendo na terra perdida das namoradas. Casablancas é o único solteiro.
Lá fora, a chuva cai pesada. Casablancas vai embora andando no meio do temporal, sem guarda-chuva. Dois passos e já está ensopado. Depois que ele desaparece, examino os detritos deixados na mesa. Há um sanduíche comido pela metade, copos de cerveja, um maço de cigarros vazio e um pedaço de papel amassado. Desenrolo: é um recibo de compra de US$ 2,99. A data é de hoje. Um único item foi comprado: uma lata de batata Pringles.
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