Após atraso e alteração no horário de sua apresentação, rapper disse que “que não cantaria para um público de 200 pessoas"; Technotronic, DJ King, Emicida e John Legend junto ao The Roots integraram line-up do festival
Por Patrícia Colombo Publicado em 30/05/2011, às 16h55
Alterada às 16h53
O Urban Music Festival parece não ter tido muita sorte com relação a algumas atrações que integrariam seu line-up. Depois do cancelamento do show de Cee Lo Green nesta semana (leia aqui), foi Ja Rule quem desistiu de subir ao palco do evento - no próprio dia de sua apresentação. O festival foi realizado na Arena Anhembi, em São Paulo, no domingo, 29.
O show do rapper estava marcado para as 19h, mas pistas indicavam que algo estava errado quando DJ King mudou de palco (ele estava tocando desde as 18h no palco Street e se deslocou para o Urban, o principal) e esticou seu set até as 19h45. Naquele momento, a assessoria de imprensa disse à reportagem da Rolling Stone Brasil que o rapper norte-americano havia atrasado e que o show dele aconteceria no final do evento, após o The Roots junto a John Legend. Com a apresentação da banda (que depois da desistência de Cee Lo passou ao posto de atração principal do festival) terminada às 23h15, o Anhembi se esvaziou quase que completamente, restando poucas pessoas no local - as que aguardavam a entrada de Ja Rule.
Minutos depois da arrumação do palco, o nome dele foi anunciado. Nada do rapper aparecer. Quando o domingo havia passado e o relógio apontava o início da segunda, 30, a organização do evento, após longa conversa com a equipe do artista no backstage, anunciou o cancelamento da apresentação. De acordo com a assessoria, Ja Rule chegou a espiar através de um espaço no palco e, ao se dar conta de que pouquíssimas pessoas ainda estavam no local, desistiu, alegando "que não cantaria para um público de 200 pessoas". Não se sabe se os ingressos adquiridos pelos interessados na apresentação de Ja Rule serão restituídos.
A organização do festival enviou um comunicado à imprensa nesta segunda, 30, alegando que está tomando as devidas providências com relação ao caso, sem entrar em detalhes quanto à possibilidade de um processo contra o músico e sua equipe.
O Urban Music Festival teve 17 mil entradas vendidas, segundo informações da organização, e não encheu o espaço da Arena Anhembi - que tem capacidade para 40 mil pessoas. Dois palcos foram montados, o Street e o Urban, próximos um do outro. Um telão (o único do evento) foi montado no espaço que formava um ângulo de noventa graus entre os palcos e, em determinado momento do show de John Legend junto ao Roots, parou de funcionar. O frio esteve presente durante toda a tarde, e se intensificou ao anoitecer. Iniciando a programação, se apresentaram, às 12h, o Anjo dos Becos, depois DJ Kaká Mendes, Live Delu, Roots Rock Revolution e Copacabana Club (alternando-se entre os palcos). O Technotronic tocou no palco Urban, às 17h, e DJ King, às 18h, no palco Street.
Technotronic
O público ainda estava chegando ao local quando o Technotronic, formado pela cantora Ya Kid K e MC Eric, subiu ao palco acompanhando de duas dançarinas com vestidos curtos (não se sabe como estavam sobrevivendo ao frio com aquela vestimenta). MC Eric apareceu às 17h, mas o show só foi ter início 15 minutos depois, devido a problemas na aparelhagem do artista. O sucesso "Get Up" deu início ao show que traria de volta o house noventista produzido pelo grupo. "Move This" integrou o set list e o mega-hit "Pump Up The Jam" foi tocado duas vezes (uma com a base original e, na outra vez, com batida diferente). O trecho menos "Technotronic" da noite contou com a participação do filho da dupla assumindo um violão e tocando "Take it Slow".
DJ King
Ele já é conhecido no hip-hop nacional por sua discotecagem, mas King hoje também é destaque por integrar o Guinness World Records, por ter liderado as pick-ups ininterruptamente por 120 horas e dois minutos (tempo equivalente a cinco dias) em março deste ano. O DJ mostrou domínio nos scratches ao som de um set list composto por faixas do rap nacional e internacional. De Jay-Z a Sabotage, o repertório escolhido por ele empolgou a plateia. Sua apresentação, que estava acontecendo no palco Street, teoricamente iria até as 19h (horário do show de Ja Rule). Porém, por conta do atraso do norte-americano, King foi transferido para o palco Urban e deu sequência ao set, acrescentando Tim Maia, Marisa Monte, Seu Jorge e Mary J. Blige à sua performance.
Emicida
Emicida fez um show intenso, unindo forças ao Instituto e a outros convidados, como MC Rael da Rima, Criolo e a cantora Fabiana Cozza. Suas faixas ganharam mais peso com a presença da banda, com trio de metais, e empolgaram o público que se aglomerou no palco Street para assistir ao show. Emicida subiu ao palco ao som da base de "Fuck You", hit de Cee Lo Green, e lembrou da dificuldade enfrentada para tirar um visto para viajar aos Estados Unidos, onde se apresentou no festival Coachella, em abril ("pensaram que a gente era traficante", comentou). O rapper criticou o norte-americano por este ter cancelado sua apresentação no festival. "Respeita nóis e o nosso dinheiro (sic)", ele disse. Na sequência, emendou "E.M.I.C.I.D.A." e deu, para valer, início à sua apresentação.
"Rua Augusta", "Só Mais uma Noite", "A Cada Vento", "I Love Quebrada" e "Vacilão" (esta última dedicada "pras mina da hora", com direito a trecho de "Quero Te Encontrar", de Claudinho e Buchecha) integraram o repertório do show. Com Criolo cantou "Cerol", e com Fabiana "Quero Ver Quarta Feira". Em "Outras Palavras", o destaque ficou para o solo de trombone. Emicida aproveitou também a ocasião para homenagear o rap nacional. "São Paulo é a Meca do rap da América Latina", afirmou, seguindo o medley com faixas como "Fogo na Bomba", do De Menos Crime, "Tic Tac", do Doctor Mc's, "Sr. Tempo Bom", de Thaíde e DJ Hum, "Us Mano e as Mina", de Xis, e "Capítulo 4 Versículo 3", do Racionais MC's - todas versadas junto ao público. "Triunfo" encerrou no auge o show do brasileiro.
John Legend e The Roots
John Legend e The Roots, como esperado, apresentaram ao público paulistano parte do repertório do álbum fruto da parceria entre o cantor e a banda, Wake Up! lançado no ano passado. O material conta com covers de faixas do soul norte-americano, datadas dos anos 60 e 70 - sem recorrer a hits do período, mas se valendo de canções com conteúdos sociais que se encaixam na realidade de hoje.
Em apresentação impecável, o cantor e o talentoso grupo tocaram canções como "Compared to What", "Wake Up Everybody", "Our Generation (The Hope of the World)", "Little Ghetto Boy", "Humanity (Love the Way It Should Be)" e "I Can't Write Left Handed". Na maior parte das delas, Legend permaneceu em seu piano, saindo dele vez ou outra - nos vocais ora era acompanhado pelas vozes de duas belas backing vocals, ora pelos versos de Black Thought, integrante do Roots. Houve espaço na noite para solo de guitarra de Captain Kirk Douglas, mas o destaque ficou com a bateria precisa de ?uestlove (vale citar que independente do movimento feito por ele com a cabeça, o característico pente espetado em seu respeitoso cabelo afro não demonstrava sinais de que poderia despencar).
Além das faixas de Wake Up!, a noitada de hip-hop e soul contou também com música das carreiras de Legend (como "Save Room" e "P.D.A.") e do Roots (como "The Seed 2.0" e "You Got Me"). O show ainda teve participação especial da brasileira Ana Carolina, que cantou com Legend a faixa "Entreolhares (The Way You're Looking at Me)" - parte da tracklist da edição brasileira do último álbum solo do cantor, Evolver (2009). "The Fire" encerrou a apresentação de quase 1h30 de duração.
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