Danielle Brooks, a espalhafatosa detenta Taystee, também falou à Rolling Stone Brasil sobre a aposta da Netflix, que retrata o cotidiano de mulheres presas nos Estados Unidos
Stella Rodrigues Publicado em 15/07/2013, às 18h11 - Atualizado às 18h16
É difícil medir o sucesso de uma série da Netflix por meios tradicionais. A empresa não divulga números de audiência e não exibe seus episódios de maneira regular, de forma que, exceto pela opinião da crítica e pelo barulho feito na sua timeline no Twitter, é difícil avaliar se a estreia de Orange is The New Black foi tão bem-sucedida quanto o serviço de streaming apostou que seria – aposta reforçada cerca de duas semanas antes do lançamento da série, quando a produção da segunda temporada foi garantida, em uma medida extremamente rara. Mas a verdade é que para quem for ver o programa, isso tudo não importa. O que vale mesmo é que se trata da produção feita originalmente para a Netflix que mais entretém, vicia e faz o telespectador ficar feliz com o fato de que os 13 episódios foram disponibilizados de uma vez só, sem a necessidade de esperar até a próxima semana.
No ar desde a manhã da última quinta, 11, Orange is the New Black cozinha em fogo brando humor leve e problemas pesados para contar a história de Piper (Taylor Schilling, foto), uma jovem de classe média alta, bonita, arrumada, feliz, com uma vida confortável e um namoro estável com o ótimo Larry (Jason Biggs, o eterno Jim de American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível). Ela poderia ser facilmente uma representação do assinante padrão da Netflix, alguém que nunca imaginou que suas indiscrições de juventude pudessem gerar grandes problemas. Mas a vida de Piper é justamente interrompida quando algo do passado – o envolvimento com uma namorada traficante – volta para assombrá-la e ela precisa cumprir pouco mais de um ano na prisão para “pagar sua dívida com a sociedade”, como diz o clichê. Lá dentro, a trama dela nunca fica de lado, mas abre espaço para uma narrativa sensível da vida das diversas mulheres com quem passa a conviver.
A série tem como base o livro de Piper Kerman – a repetição do nome não é coincidência, já que essa é a história real da moça. Ou, pelo menos, a vida que ela narrou no livro Orange Is the New Black: My Year in a Women's Prison serviu de base para a criação do programa, assinada por Jenji Kohan, mente criativa por trás da (quase sempre) ótima Weeds.
Jason Biggs e Danielle Brooks (intérprete de uma das detentas, a espalhafatosa Taystee) estão no Brasil nesta segunda, 15, para promover a série recém-estreada em um hotel de São Paulo. A primeira boa surpresa em relação à dupla é que Biggs é tão doce quanto Larry e tão divertido quanto seu lendário personagem Jim. E Danielle, por sua vez, é tão engraçada quanto Taystee. A dupla estava na parada final de uma longa turnê de promoção que os manteve longe de casa por bastante tempo, mas nada disso transpareceu na disposição deles (Jason mencionou algumas vezes o quanto enlouqueceu com a potência do café brasileiro, isso talvez explique um pouco).
“Nem todo mundo é serial killer, como o protagonista de Dexter, ou traficante de maconha, como Nancy, de Weeds, mas todo mundo é imperfeito”, começa Biggs a respeito da atual onda de anti-heróis premiados e amados do horário nobre televisivo. “É mais fácil de apoiar o anti-herói. Claro que tem um escapismo no personagem perfeito. Ele vem funcionando desde sempre na TV, é tradicional, ainda está em todo lugar. Mas eu amo o anti-herói, funciona comigo. E a Jenji, claramente, também ama. Eu amo todos esses personagens com defeitos e escolhas questionáveis. Em longo prazo, por mais que sejam menos adoráveis por isso, eles acabam sendo pessoas em que vale a pena a gente investir”, afirma o ator.
O ambiente de um centro correcional para mulheres abre espaço para toda uma gama de camadas nessas mulheres. Como em um comercial da Benetton, elas representam todos os tamanhos, cores, origens, condições sociais e orientações sexuais. E trazem com elas uma variedade de questões sociais e políticas e rombos no sistema de justiça dos Estados Unidos – assunto mais do que em voga com a polêmica absolvição do ex-vigia George Zimmerman, acusado de matar o adolescente Trayvon Martin, de 17 anos.
“Jenji fez o esforço de destacar questões problemáticas em relação ao sistema penal. A forma como as detentas são tratadas, o fato de que sexo dentro da prisão nem sempre é consensual e a burocracia”, diz Danielle. “Na série há também questões ligadas à comunidade LGBT e o que elas passam lá dentro. É bom estar em uma série que joga luz em assuntos reais de forma verdadeira.”
“Jenji certamente tem um ponto de vista”, complementa Biggs. “Mas acho que acima de tudo ela quer levantar questões. Ela não quer bater com as ideias na cabeça das pessoas. Ela quer debater o sistema penal, que claramente tem irregularidades, injustiça e inconsistências. Nas prisões femininas, as figuras de autoridade são majoritariamente masculinas e coisas nojentas acontecem e isso aumenta o debate de uma forma positiva.”
Uma tendência apontada por diversos estudos recentemente é a de que cada vez mais mulheres são presas. O aumento nas últimas décadas foi significativo, o que talvez explique a razão pela qual Orange... não é nem de perto a primeira série a abordar o assunto. E talvez explique também o título, que brinca com a ideia de laranja, a cor dos macacões das presas, ser o novo “pretinho básico”. “A lei mudou dramaticamente. As mulheres assumiram novos papeis na sociedade e nos tornamos uma sociedade mais litigiosa. Mas não tenho nenhuma teoria sólida”, se arrisca Biggs. “Eu fiquei com vontade de visitar uma prisão”, complementa Danielle, talvez “dar um curso de Shakespeare. Essa é uma parte do trabalho do ator. Uma parte pela qual não necessariamente pedimos, mas é importante estar ciente e ser ativo, fazer algo”, diz ela, que afirma que suas personagens favoritas são aquelas tidas como clinicamente insanas, como Suzanne “Crazy Eyes” e “Pensatucky”. “Parte meu coração, é um bom exemplo de como rapidamente colocamos as pessoas em uma prateleira sem pensar duas vezes. É bom estar em uma série que dá a oportunidade de ver mais a fundo essa pessoa. Não é simplesmente a doida ou mais uma mulher negra que entra e sai da cadeia.Todo mundo se vê nesses personagens porque todo mundo tem suas prisões pessoais.”
O Cara que Transou com a Torta
No primeiro semestre do ano passado, às vésperas da estreia de American Pie – A Reunião, Jason Biggs, que tem em seu currículo mais recente papeis em filmes de Woody Allen, por exemplo, assinou um muito comentado ensaio para o Vulture no qual fala sobre ser eternamente O Cara que Transou com a Torta (na cena clássica do primeiro American Pie). Por isso, foi surpreendente notar duas alusões discretas ao personagem logo nos primeiros episódios de Orange is The New Black. Ou será que não é uma referência? (Vale prestar atenção nos primeiros episódios e avaliar.) São tão sutis que fica o espaço para a dúvida até mesmo para Jason Biggs, que ri e diz: “Eu realmente não sei! Para falar a verdade, eu lembro que quando li o roteiro, pensei ‘Ahn... é como o meu personagem em American Pie, ele fez essas coisas.’ Mas eu nunca perguntei para Jenji! Não sei por qual razão não perguntei, mas agora alguns fãs vieram me falar disso no Twitter e na hora eu sabia do que estavam falando, muita gente viu a referência ali. Eu não tinha noção de que seria algo tão amplamente notado, imediatamente as pessoas sacaram isso. Agora eu preciso muito perguntar para Jenji”, ri. “Provavelmente foi intencional. Se não foi, acabou sendo percebido dessa forma.”
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