A faixa é a primeira do novo álbum, Tropical Baile Tech, que põe abaixo as fronteiras entre "alta" e "baixa" cultura ao tratar de igual para igual tecnobrega, lambada e bossa nova
Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 18/04/2009, às 20h41
Muitas pessoas torcem o nariz. Mais gente ainda não tem coragem de enxotar alguns gostos musicais para fora do armário. João Brasil, não. Fica colado por horas a fio na caixinha de som, de onde totens da MPB atendem por Caetano Veloso e Guinga, mas também por Chimbinha, o guitarrista do Calypso, e o funkeiro Mr. Catra.
O sobrenome não deixa por menos. Para se chamar Brasil, tem que ter jeito para circular entre as centenas de gêneros musicais tupiniquins. Conhecido pela destreza nos mash-ups, o artista postou em seu blog "Baile Parangolé", descrita como "baile-funk em homenagem a Caetano Veloso, seu livro Verdade Tropical e a todo o movimento tropicalista".
No mesmo balaio entram, além (elementar) de Caetano, Edu Lobo, Daniela Mercury, Ratos do Porão, Guinga, João Donato, Mutantes, Vinicius de Moraes e Baden Powell, Luiz Caldas e Calypso. É. Calypso.
Caiu mal? Pois João tem uma declaração a dar a respeito do guitarrista do Calypso - que deu um olé na crise da indústria fonográfica ao vender impressionantes 12 milhões de discos: "Tô louco com ele. Muito bom, porra! As pessoas ou não dão valor ou acham que ele é para ser encarado como uma parada engraçada".
Poucas horas após conversar com a reportagem do site da Rolling Stone Brasil, nesta sexta, 17, João rumou para o Vivo Rio, casa de shows no Rio de Janeiro, para assistir a uma apresentação do Calypso. No mesmo lugar, subiram ao palco artistas como a banda inglesa Muse e o pianista Herbie Hancock, com menções em "todos" os jornais. Para Chimbinha e sua mulher, Joelma - a dupla base do Calypso, nativa do Pará -, "nem uma linhazinha sequer", lamenta o artista, que diz não ver diferença entre a "alta" e a "baixa" cultura. João entrou, agora, na onda de achar que o melhor do Brasil é o brasileiro - e o pior é o brasileiro mala, que "precisa do aval do gringo, espera as coisas bombarem lá fora para começar a apreciar", como anda sendo o caso do funk carioca, mais "aceitável" em rodinhas cult.
"Baile Parangolé", primeira faixa de seu terceiro álbum, Tropical Baile Tech, é uma ode ao samba do crioulo doido, do paraense amalucado, do baiano arretado e de todas as diversidades que formam o Brasil. Zero preconceito: da bossa nova à lambada, do tropicalismo ao tecnobrega, do sambinha ao funk. "Dessa vez, quero valorizar o que é daqui. Quanto mais regional, mais universal - não é assim que se diz hoje?"
João pretende fazer um vídeo para todas as músicas e liberar o material aos poucos na rede. Quando chegar a nove canções, fecha o disco. A grande novidade é que, dessa vez, os mash-ups não serão a "Rainha do Baile". "Em algumas faixas, eu vou cantar. Vão entrar coisas menos de pista que o de costume."
No clipe para "Baile Parangolé", à moda vale-tudo da antiarte de Hélio Oiticica, autor do Parangolé, os samples brazucas são ilustrados por uma bricolagem de imagens que nem sempre têm coerência. "Estrelado" por Carmen Miranda, Zé Carioca e Pato Donald, o filmete engloba a visão tropicalista, que mandava para dentro as influências estrangeiras para regurgitá-las de um jeito todo brasileiro.
No começo do ano, João leu as primeiras linhas de Verdade Tropical, escrito por Caetano Veloso em 1997. De cara, se identificou com a ideologia tropicalista, que com uma mão pegou Brigitte Bardot, com a outra agarrou a Coca-Cola e "não teve preconceito algum com estilos, daqui ou de fora". "Agora, o que eu vou falar o pessoal pode até não acreditar", ele já arma a defensiva. Isso porque, apesar de ter liberado seu "Baile Parangolé" no mesmíssimo dia em que Veloso lançou o álbum Zii e Zie, o carioca jura de pés juntos que a ação "não teve nada de oportunista".
Em agosto, João parte para temporada de um ano ("talvez estique para dois, vamos ver") em Londres, onde fará mestrado em design de mídia interativa. Lá, pretende dar vida aos quadris paradões dos conterrâneos do príncipe Charles com seus mash-ups recheados de lambada, funk e tecnobrega. "Plantar essa sementinha será minha bandeira." Alguém duvida?
Confira o vídeo de "Baile Parangolé":
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