Batizado simplesmente de João Donato, o programa produzido promove o reencontro do artista com amigos
Carlos Sartori Publicado em 25/06/2015, às 16h57 - Atualizado às 19h31
Sem o uniforme tradicional – camisa colorida e boné –, João Donato recebe a reportagem na casa onde vive, no bairro da Urca, Rio de Janeiro, trajando um pijama azul estampado de vogais. “Comecei a usar blusas mais expressivas quando virei intérprete, artista no palco. Não podia simplesmente entrar de calça e camisa”, explica Donato, que este mês ganha uma série no Canal Brasil em homenagem aos 65 anos de carreira dele.
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Donato está ligado aos grandes movimentos musicais do país: participou da bossa nova com Tom Jobim e João Gilberto; do tropicalismo com Caetano Veloso e Gilberto Gil; do hip-hop com Marcelo D2; e de variantes da MPB. Nada mal para alguém que chegou a sofrer preconceito por ser considerado moderno demais. “Tradução: eu era visto como chato. O Tom Jobim também. Viajei para os Estados Unidos e fui considerado americanizado pelos músicos brasileiros que tocavam com a Carmen Miranda. Já os norte-americanos me achavam latino demais”, relembra Donato. Hoje, aos 80 anos, o acriano leva a vida em ritmo acelerado. Com direito a disco novo, shows, ensaios, preparação para o Rock in Rio e a série de quatro episódios.
Batizado simplesmente de João Donato, o programa produzido pelo Canal Brasil, que estreou em 13 de junho, promove o reencontro do artista com amigos e, de forma cronológica, mergulha em cada etapa da vida dele. Estão lá a infância no Acre e o gosto pela música, a chegada ao Rio de Janeiro e as parcerias com os fundadores da bossa, os anos em que o artista passou por um “exílio musical” nos Estados Unidos e, por último, as comemorações dos 80 anos de vida, em 2014. O roteiro e a direção são assinados por Tetê Moraes e Lysias Enio, que é irmão e o maior parceiro musical de Donato. “Meu irmão é o cara que mais tem escrito letras para mim nesta trajetória. Ele é um ótimo poeta”, elogia o pianista. Tetê passou a conviver com a família após se casar com Enio. “Nos conhecemos em 2004 e fi camos juntos por nove anos”, ela relembra. “A ideia do programa surgiu naturalmente e fomos filmando desde 2006. Com o apoio do governo do Acre fi zemos um belo acervo sobre o Donato”.
Imagens raras encontradas no Arquivo Nacional resgatam entrevistas históricas, como a de Tom Jobim afirmando que João Donato “é um dos maiores gênios da MPB”. Mas o ponto alto da série é o encontro de Donato com a primeira paixão, Nini. Ele compôs para ela a letra de uma valsa em 1948. “Ah, coisa de criança. Primeiro amor, primeira música”, suspira Donato. Mais de sessenta anos depois, o artista a reencontrou e o momento foi registrado em vídeo. “Eu estava tocando em Brasília e alguém disse que ela estava na plateia. Perguntaram se queria falar com ela. Lógico que queria. Ela estava igualzinha, me surpreendeu”, conta. Caetano Veloso e Gilberto Gil são outros destaques. Gil, aliás, participa de um dos momentos que mais dão orgulho ao músico: a inauguração da Usina de Arte João Donato, uma espécie de escola administrada pelo poder público de Rio Branco onde são ministrados cursos gratuitos. “É a maior homenagem que recebi em vida.”
Depois de fazer história ao lado de grandes artistas da música nacional e internacional, Donato não se cansa de buscar novas parcerias, novos caminhos. Quando questionado sobre seus favoritos na música atual, ele não tem dúvidas: “Donatinho!”, exclama, sem medo de soar nepotista. O filho de Donato, por sua vez, retribui: “O Donatão é uma figura ímpar que consegue como ninguém fundir sofisticação com simplicidade. Isso me influenciou a buscar um caminho em que o objetivo é a melodia e o balanço, não o virtuosismo. Afinal, é isso que toca o coração”, define.
Todavia, a nova geração está repleta de outros nomes que João Donato admira. “Tem Tulipa Ruiz, Mariana Aydar, Céu, Tiê, Roberta Sá...” Ele participa do novo trabalho de Tulipa, Dancê, na faixa “Tafetá”. “Ela e o Gustavo [Ruiz, irmão de Tulipa] fizeram a música para mim e me chamaram para tocar. É legal essa turminha nova, cheia de ideias e energia”, derrete-se. Tulipa também é só elogios ao novo colega. “É um menino aos 80 anos. Conversa com todas as épocas e está à frente de todas elas. Temos sorte de tê-lo atravessando décadas e mostrando como a música dele é atemporal.”
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Atualmente, Donato prepara um novo disco ao lado de quatro integrantes do grupo Bixiga 70 (Cuca Ferreira, Décio 7, Marcelo Dworecki e Maurício Fleury). “No nosso primeiro encontro, o Donato chegou, atravessou a sala, sentou ao piano e começou a tocar. E esse foi o primeiro take do disco. Não fazia nem um minuto que ele estava lá e já estávamos gravando”, admira-se Dworecki, baixista. No segundo semestre, Donato e a banda se apresentarão juntos na Rock Street do Rock in Rio. “Encarar um palco de um grande festival, talvez voltado para um público mais jovem que o dele, é sempre uma experiência muito legal. Ele é muito jovial, acho que será muito massa. Tem bastante coisa para mostrar”, finaliza Dworecki
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