Além dele, Elza Soares, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marcelo D2, Zeca Pagodinho, Karol Conka e MC Soffia, também cantaram no evento
Redação Publicado em 06/08/2016, às 00h03 - Atualizado às 00h42
Um dos maiores nomes da música brasileira, Jorge Ben Jor cantou o hit “País Tropical” para um Maracanã lotado durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, que acontecem no Rio de Janeiro. Depois da performance completa da faixa, ele cantou a capella, junto a um público estimado em 50 mil pessoas, os versos da canção.
O evento que marca o início das Olimpíadas no Brasil aconteceu nesta sexta, 5, começando por volta de 20h e chegando ao fim pouco antes de 0h. A apresentação, que narrou de forma alegórica a história do Brasil, teve direção do cineasta Fernando Meirelles (diretor de Cidade de Deus, 2003), além de números de dança e teatro.
Quebrando o protocolo, o presidente interino Michel Temer (PMDB) não foi anunciado ao lado do presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach. Pelo esquema anti-vaias que vinha sendo armado, a suspeita é de que o gesto tenha ocorrido para evitar as injúrias em público (a exemplo do que aconteceu com a presidente Dilma Rousseff na última Copa do Mundo, em 2014, no Brasil). Mais adiante nas solenidades, ao declarar o início dos jogos, Temer foi perceptivelmente vaiado por milhares de vozes no estádio.
A cerimônia regular teve início com o Hino do Brasil cantado por Paulinho da Viola, munido de um violão e acompanhado por uma orquestra de cordas. A segunda performance musical aconteceu com Daniel Jobim, filho de Paulo Jobim e neto de Tom Jobim, cantando e tocando ao piano outro hino, este da bossa nova, “Garota de Ipanema”. Durante a apresentação, a supermodel Gisele Bündchen fez o maior desfile da carreira, percorrendo 128 metros no Maracanã.
Logo depois, uma série de curtas performances deram sequência. Na ordem, a MC Ludmilla cantou um dos hits mais emblemáticos do funk brasileiro, o “Rap da Felicidade”, de maneira breve, enquanto diversos artistas praticavam dança de rua nas estruturas ao lado e atrás dela. Elza Soares pegou a deixa e cantou, sentada e em um espaço no chão do estádio, um trecho do samba “Canto de Ossanha” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), em uma versão mais animada, com batidas eletrônicas. A artista foi acompanhada por dançarinas em volta dela.
Zeca Pagodinho e Marcelo D2 usaram branco e apareceram juntos, mostrando uma versão híbrida de “Deixa A Vida Me Levar” (de Pagodinho) com inserções de batidas de hip-hop e das rimas de D2. A performance representou parte da música e da cultura da rua do Rio de Janeiro, característica comum das obras de Pagodinho e D2.
A rapper Karol Conka apareceu no meio do Maracanã, ao lado da jovem MC Soffia (de apenas 12 anos de idade), versando sobre o empoderamento feminino e contra o racismo, com a música “Toquem os Tambores”. O Gang do Eletro deu sequência à abordagem festeira e tocando a faixa “Velocidade do Eletro”.
Apresentado pela atriz Regina Casé, Jorge Ben Jor puxou “País Tropical”, única das músicas apresentada praticamente na íntegra na parcela musical da cerimônia. Se até então o jogo de iluminação e as câmeras mostravam apresentações mais contemplativas, com o hit – uma das canções mais identificadas e conhecidas no Brasil em todos os tempos – de Ben Jor, as luzes se acenderam e o Maracanã passou a fazer festa, cantando mesmo depois do fim do instrumental. Curiosamente, o time de futebol mais identificado com o estádio, o Flamengo (que também possui a maior torcida do país), foi previsivelmente citado duas vezes na letra da música.
Menos explicitamente, músicas como “Construção”, de Chico Buarque, e “Samba do Avião”, de Tom Jobim, foram citadas instrumentalmente durante a encenação da história do Brasil. A primeira delas surgiu quando a apresentação retratava o processo de urbanização das capitais brasileiras, que aconteceu na segunda metade do século passado. Já a segunda foi lembrada na simulação de um voo de Santos Dumont com o avião 14-bis.
Outro momento já muito comentado da abertura foi quando as atrizes Fernanda Montenegro e Judi Dench recitaram a poesia “A Flor e Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade, sobre uma flor que nasce no meio do asfalto, da cidade. O poema foi encenado por um menino que, perdido em meio aos prédios, consegue encontrar a planta referida nos versos. Esta, dentre outras atitudes, serviu para representar a preocupação dos Jogos do Rio de Janeiro com o meio ambiente e a forte campanha ecológica promovida pela organização.
O evento ainda contou com uma série de solenidades, como a longa entrada das delegações de atletas, os discursos de Thomas Bach e do ex-jogador de vôlei Carlos Arthur Nuzman, atual presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, a breve fala de Temer sob vaias.
Num dos momentos mais emocionantes, o percussionista Wilson das Neves, aos 80 anos de idade, surgiu acompanhado por um menino, tocando uma “caixinha de fósforo”, e citando serenamente ícones como Wilson Batista, Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho e Clementina de Jesus, entre outros. Quando falou o nome de Ary Barroso, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta deram início à performance deles, em um palco separado, os três de pé e formalmente vestidos.
O trio – dois terços tropicalista e um terço funkeiro – cantou, ora junto, ora dividindo os versos, a canção “Isto Aqui, O Que É? (Sandália de Prata)”, de Ary Barroso. Enquanto isso, representantes das famosas escolas de samba do Rio de Janeiro, entraram fantasiados e com a bateria segurando um ritmo acelerado, levando o carnaval carioca ao Maracanã – e, consequentemente, ao mundo inteiro. O garoto que acompanhava Wilson das Neves, seguiu sambando com uma agitação de saltar os olhos.
Logo depois da colorida performance de “Isto Aqui, O Que É? (Sandália de Prata)”, o maior mistério da cerimônia de abertura foi revelado: quem acenderia a pira olímpica. Depois do ex-tenista Gustavo Kuerten (tricampeão de Roland Garros e ex-número 1 do mundo), o Guga, levar a tocha e entregá-la a ex-jogadora de basquete Hortência (medalhista olímpica), o ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima acendeu a pira olímpica. O paranaense ficou conhecido por ter protagonizado uma das mais emocionantes cenas dos Jogos Olímpicos, ao ser agredido durante a prova e mesmo assim ganhar a medalha de bronze na Olimpíada de Atenas, em 2004.
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