John Mayer em São Paulo, em perfomance no Allianz Parque em 2017 - Ana Luiza Ponciano

John Mayer dá conselho de vida e “sarrada no ar” em show surpreendente e carismático

Músico norte-americano começou turnê pelo Brasil na última quarta, 18, em São Paulo; cantor ainda passa por Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte

Anna Mota Publicado em 19/10/2017, às 01h54 - Atualizado em 23/10/2017, às 13h03

Toda hora é uma boa hora para um solo de guitarra. E para falar de amor, perdas e outros sentimentos inexplicáveis. Esses são elementos facilmente transformados por John Mayer em versos, acordes e, no mais recente show em São Paulo, em conselhos de vida. “Vou dizer para vocês a única coisa que diria aos meus 40 anos”, começou, antes de tocar a aclamada “Dear Marie”. “Tome cuidado com o que você deseja que acabe. Nunca deseje ter menos tempo. Não espere as coisas acabarem. Porque de repente você terá 40 anos e não saberá o que aconteceu.”

“Dear Marie” foi a última música tocada pelo norte-americano antes do bis, que contou com “Waiting On The World To Change” e a esperada “Gravity”. A derradeira construiu um fim emocionante para a quente apresentação de Mayer nesta última quarta, 18, no Allianz Parque, em São Paulo. A cereja do bolo veio com um coro do público mais alto que o microfone do músico e com luzes de celulares em sintonia com o verso que ecoa “keep me where the light is” (“me mantenha onde a luz está”, em tradução livre).

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A performance pertence à turnê de The Search For Everything, sétimo e mais recente disco de Mayer (lançado em abril), mas o formato dela remeteu a moldes antigos do cantor. O show foi dividido em capítulos — primeiro com a banda completa, depois acústico, com o trio de blues e fechando com todos os músicos no palco novamente — assim como era em Where The Light Is: John Mayer Live in Los Angeles, famoso DVD e LP ao vivo lançado pelo músico em 2008, com uma compilação dos maiores hits da carreira até então.

E esse é um padrão que permite que Mayer traga sempre um repertório inesperado. Em entrevista recente ao Estado de S. Paulo, ele falou sobre a inspiração no Pearl Jam para fazer shows baseados no catálogo musical, e não apenas em hits. E foi o que aconteceu. A sequência inicial da apresentação foi calcada no mais recente disco, com “Helpless” e “Moving On And Getting Over”. “Changing” também apareceu em seguida, sendo interrompida apenas por uma versão revisitada e mais dançante de “Something Like Olivia”, de Born and Raised (2012). Os maiores sucessos apareceram apenas na quarta música, com um medley de “Why Georgia?” e “No Such Thing”, ambas de Room for Squares (2001).

A sessão acústica foi a mais curta da apresentação, com “Emoji of a Wave”, “Daughters” e a cover de “Free Fallin’”, de Tom Petty, já conhecida na voz de Mayer. “Essa é a primeira vez em que toco essa música desde a morte de Petty”, disse, se referindo ao músico que morreu no último dia 3 de outubro.

Ao lado do baterista Steve Jordan e do baixista Pino Palladino, Mayer se aproveitou do melhor potencial de blues para apresentar “Everyday I Have the Blues”, de B.B. King, “Crossroads”, de Eric Clapton, e as autorais “Who Did You Think I Was” e “Vultures”.

Por fim, a banda toda retornou para acompanhá-lo em “Queen of California”, “In The Blood”, “Slow Dancing in a Burning Room” e “Who Says”. Entre a primeira e a segunda músicas, ele parou e disse “alguém me ensinou isso ontem” e pulou enquanto “sarrava” no ar, em um momento cômico que levou a plateia ao delírio.

O público geral pode ter ficado um pouco decepcionado com a falta de hits como “Your Body Is a Wonderland”, mas os seguidores de Mayer o viram em uma esplendorosa forma: em um show que esbanjou corgam, talento e confiança no próprio trabalho. Resta esperar o que mais pode vir durante as próximas apresentações dele no país, que acontecem em 20 de outubro, sexta, em Belo Horizonte, no dia 22, domingo, em Curitiba, no dia 24, terça, em Porto Alegre e no dia 27, sexta, no Rio de Janeiro.

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