Em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil, músico falou sobre o projeto Heavy Trash, que apresenta em São Paulo nesta quarta, 22
Por Anna Virginia Balloussier
Publicado em 21/04/2009, às 14h37Se alguém chegasse a ele e dissesse, "ei, camarada, o céu é o limite!", Jon Spencer não pensaria duas vezes. Sacaria uma britadeira e mandaria sua música, por assim dizer, ao espaço. Em entrevista por telefone ao site da Rolling Stone Brasil, o norte-americano - de fama ganha à frente das bandas Pussy Galore e Jon Spencer Blues Explosion - deixou claro por que adjetivos como "visceral" e "explosivo" não saem da sua cola.
"Quem sabe... nada de guitarras? O que você acha disso?", provoca o músico, indagado sobre os próximos passos de sua carreira, marcada por transgressões na cena musical. É bom lembrar que o enfant terrible de Nova York já experimentava aposentar o baixo muito antes do White Stripes mandar o instrumento ao INSS da música. Com Extra Width, segundo álbum pelo Jon Spencer Blues Explosion, o nome do músico ricocheteou na cena underground dos anos 1990.
Mas Jon Spencer assume não estar mais tão obcecado em chacoalhar para fora do lugar as tradições acomodadas do rock. "Eu me preocupava bem mais com o que era novo, experimental; em ir até o limite e empurrá-lo mais um pouquinho. Hoje, me interesso mais pela expressão, pelo que as pessoas têm a dizer. Se o cara está sendo sincero com seu próprio coração, para mim é o que vale. Seja experimental, seja tradicional", disse o músico meia hora antes de entrar em um voo para "Cortiba" (Curitiba, em nosso português), onde se apresentaria horas depois.
É dessa mudança de pensamento que nasceu o Heavy Trash, projeto em parceria com o camarada Matt Verta-Ray, baixista do Speedball Baby (banda que excursionava com o Blues Explosion). Agora, ao invés de dar um passo à frente, Jon pula lá para trás, ao recorrer "à forma mais pura do rock", o rockabilly - pense em costeletas graúdas, topetões e rock 'n' roll de raízes, consagrado por Elvis Presley e Johnny Cash.
"Eu e Matt escrevendo juntos... soa verdadeiro. Essa combinação traz algo único e especial. O Heavy Trash se volta mais ao country, ao folk... é rockabilly. A forma mais pura do rock." Um suspiro vem do outro lado da linha. "A verdade é que eu não ligo para o que o resto do mundo vai achar sobre minha música. Faço porque aquilo me emociona. Se você quer se juntar à minha festa, maravilha! Caso não...".
Azar o nosso, Jon insinua. Mas que fique claro: o som do nova-iorquino pode ter se voltado ao passado, mas o passado não se volta contra ele. A veia autoral ainda pulsa no rockabilly salpicado com punk, blues e garage. O "lixo pesado" sugerido no nome da banda, aliás, já rendeu dois álbuns desde 2005 - a capa do segundo foi ilustrada pelo cartunista norte-americano Tony Millionaire, por quem Jon nutre grande estima: "As linhas dele são lindas. Apenas lindas. Eu passava horas tentando desenhar, mas sou um artista frustrado. Daí virei músico" .
Um novo disco deve ser finalizado assim que a turnê pela América Latina acabar. Gravado num estúdio em Manhattan, Nova York, o terceiro trabalho do duo está em fase de mixagem "e terá mais baladas e experimentalismo". Sem zunir para escanteio, no entanto, "o rockabilly em sua forma mais direta, essencial".
E se o ex-estudante de linguística nativo do estado de New Hampshire foi de mala e cuia para NY atrás de paixões à primeira ouvida, como Velvet Underground e Ramones, hoje confessa sacar pouco "das bandas modernas" - de imediato, só lhe veio à cabeça a sueca Firestone. A música brasileira ainda não o pegou de jeito ("conheço mais os artistas históricos, mas quero aprender a respeito", despistou), mas a São Paulo, onde se apresenta nesta quarta, 22, prometeu um show nada menos que "orgástico" (nesta turnê, o Heavy Trash já passou por Bauru, Araraquara, Curitiba, Recife e Sorocaba).
Heavy Trash na Festa Punk Especial
22 de abril, à 0h
Studio SP - Rua Augusta, 591 - Consolação
R$ 40 / R$ 30 (com nome na lista)
Nome na lista: studiosp@studiosp.org
Informações: 11 3129-7040